ℂ𝕒𝕡𝕚𝕥𝕦𝕝𝕠 𝟙𝟠: Por Pátroclo.

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"A vida é muito curta para te amar só em uma."

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Conviver com a mentira? CONVIVER COM A MENTIRA?! Que tipo de mentira é benéfica? Que tipo de mentira não machuca? Não conheço.

Toda a minha vida, tive que pagar pelo preço da minha verdade, e paguei, continuo pagando, aliás. Quando eu matei aquele garoto, contei ao meu pai, contei ao meu tio e ao meu primo, fui sempre verdadeiro. Em Tróia, não foi diferente quando eu me posicionei sobre a retirada de Aquiles da guerra, era o certo. E, no entanto, perdi meus pais e minha própria vida por causa da verdade.

Mesmo assim, Quíron me ensinou a continuar sendo como sou, nunca esconder nada, principalmente das pessoas que me rodeiam, só assim eu teria uma vida plena.

Agora, descobri que ele próprio mentiu a vida toda. E não foi só para mim e para meus primos, só os deuses sabem de quem mais ele ocultou a verdade. Talvez para meu pai, meu tio, os pais da Safira... todos.

Eu poderia ter botado tudo isso pra fora, aliviado minha raiva ali mesmo, no meio daquele salão e na frente de todos, mas não consegui, não pude.

Não consegui por causa dela, da resignação com que aceitou os fatos, do grande alinhamento de desculpas até chegar em uma aceitação plausível. De ver a tensão em seus ombros sumir gradativamente, de ver as engrenagens de sua cabeça funcionando para tentar entender o centauro, como tenta entender a todos, independente do que fizeram.

Só subi, não conseguiria ficar mais ali encarando Quíron como se eu concordasse com tudo, como se eu fosse tão bom quanto a cacheada, contudo, não sou. Sei que ele sempre fez as melhores escolhas para nós, mas não consigo ver nada de bom nessa história toda.

Eu poderia ter conhecido a mocinha desde pequena, quando foi para Tróia da primeira vez, sei lá, descobriria isso e iria para lá em missão de paz só para conhecê-la, contaria tudo e sei que Heitor entenderia. Ou talvez, eu nunca tenha chegado a ter sido tão ruim com ela como fui quando a conheci.

Lembro-me até hoje das palavras duras, das farpas e da birra inconsequente que nos rondaram assim que nos conhecemos. Eu a achava tão egoísta, ela não queria se aproximar de nós e eu não queria me aproximar dela, mas também não fazia de nada para compreendê-la. Uma simples questão de falta de comunicação e interação. Agi como uma criança, mesmo sendo mais velho e eu tendo que dar exemplo.

Talvez eu pudesse ter impedido que sofresse maus bocados da última vez, que sentisse aquilo que eu senti, que sofresse com uma coisa que não é sua. De alguma forma, gostaria de tê-la ajudado, mesmo não podendo chegar perto dela. Talvez se nós tivéssemos nos dado bem logo de primeira...

Entro em meu quarto, o mesmo de dez anos atrás, o mesmo aroma, os mesmos objetos de decoração e, sob um móvel, o pequeno cavalo de madeira (que ironia) que trouxera de meu reino.

O tenho desde de que me entendo por gente e ele traz de volta a memória de minha família, viva e bem. A clara visão de meu pai carrancudo e emburrado por causa de um descumprimento de ordem, e a da minha mãe na praia comigo, rindo por tudo e qualquer coisa que eu fazia.

Bons tempos que eu julgava ruins.

Eu detestava passar o tempo aqui, sempre gostei de correr por aí, livre e na natureza. Lutava com todas as minhas forças para não voltar para cá e ter que dormir, por mim, virava a noite na praia, treinado com Aquiles ou na floresta.

𝔼𝕞 𝕄𝕖𝕦 𝕄𝕦𝕟𝕕𝕠 - ℙ𝕥 𝟚: ℙ𝕠𝕣 𝕋𝕠𝕕𝕠𝕤 ℕó𝕤.Onde histórias criam vida. Descubra agora