Os últimos tempos não estavam sendo muito bons para o Rodrigo. As brigas com a Verônica eram quase que diárias, cada vez por motivos mais banais. Tudo era motivo para discussão. A única coisa que o segurava casado era o filho que ele tanto amava e por ele faria e fazia qualquer sacrifício. Verônica ligava o dia inteiro no trabalho dele para ter a certeza de que ele estava realmente trabalhando. Ele não podia passar nenhum tempo com o pessoal do serviço porque ela brigava tanto com ele quando ele chegava em casa que nem valia à pena a saída. Tudo o que havia aliviado, todo o estresse apaziguado pelas conversas divertidas que tinha com os seus amigos era substituído por um caminhão de injúrias, palavrões, gritaria e discussões inacabáveis. Então, ele resolveu que era melhor se abdicar desses momentos de descontração. Ele odiava quando ela fazia aquelas coisas em frente ao menino que não tinha nada a ver com a situação. Com o seu ursinho no colo, escondido atrás da porta ficava vendo e ouvindo todo aquele show de horrores. Ficava tão assustado que tinha dificuldade de pegar no sono à noite, quando seu pai lhe contava histórias para ajudá-lo a dormir. Verônica não tinha paciência com o filho. Simplesmente apagava a luz, dizia boa noite e fechava a porta. Gabriel já nem pedia mais para ela ler uma história para ele porque em todas as vezes que o fez ela foi muito estúpida falando que ele não tinha mais idade para aquela besteira. Isso porque ele tinha apenas quatro anos. Ao perceber que o filho não estava dormindo, quando ia lhe dar um beijo de boa noite, Rodrigo deitava na cama com ele o aninhando em seu peito até que dormisse um sono doce e infantil. Ele adorava aquele rostinho tão inocente com os olhinhos fechados e a boca pequenina entreaberta. Esses momentos faziam valer tudo o que estava passando.
Em uma quarta-feira chuvosa Rodrigo, que acordara atrasado, acabou precisando voltar para casa na hora do almoço, pois havia esquecido em cima da mesa a pasta com documentos importantes.
Ao entrar em casa ouviu um barulho estranho vindo do quarto e, preocupado, foi ver o que estava acontecendo. Ficou em choque com a cena que presenciou. Lá, na sua cama, estava sua esposa com um homem que ele bem conhecia por trabalhar com ele no escritório. Isso explicava por que ele sempre tinha um compromisso na hora do almoço e nunca saía com o pessoal para comer. As vezes que a Verônica ligava no escritório para saber se ele estava lá não era por ciúme e por achar que ele a estava traindo. Ela queria ter a certeza de que não iria voltar para casa naquele horário que estava recebendo tão amorosamente o homem que estava sobre a sua cama. Sem ação, sem saber o que fazer, Rodrigo deu meia volta e foi para o trabalho. Resolveria aquilo em outro momento com a cabeça fria. Ele não tinha ciúme porque já há muito tempo não amava mais a Verônica. Entretanto, sua raiva era pela falta de caráter. Vivia atormentando ele e era ela a adúltera.
À noite saiu com o pessoal do serviço sem pensar em nada que pudesse acontecer quando chegasse em casa porque, agora, ele tinha uma carta na manga. Ela nunca mais iria tratá-lo da forma como estava fazendo.
Após se distrair, rir e conversar com os amigos voltou para uma casa que não aguentava mais voltar. Como era de se esperar Verônica começou seu discurso insuportável. Entretanto, ao contrário do que fazia, tentar acalmá-la, simplesmente pegou suas coisas, arrumou o menino e foi dormir em um hotel. Na cama daquela safada, sem vergonha, ele nunca mais iria se deitar. A deixou falando sozinha. Sua voz era como se fosse um zumbido em seu ouvido. Nem ouviu quando ela começou a gritar e gesticular. Para ele não passava de uma louca histérica que não merecia sequer explicação.
Seu telefone, que deixou no silencioso, tocou, tocou, tocou e tocou. Ele ignorou. Não aguentava mais escutar aquela voz que estava lhe dando enjoo.
– Papai. Onde tamo ino? – Perguntou Gabriel confuso.
– Filho, hoje nós dois vamos viver uma aventura. – Disse Rodrigo com tom de conspiração. – Você quer vir nessa aventura com o papai?
– Quelo papai!! – Aceitou a criança tão animada que fazia qualquer coração de gelo derreter.
– Então tá. Hoje vamos dormir em uma caverna – que seria o quarto do hotel – e amanhã iremos nos aventurar pela cidade.
Com o Gabriel deitado em uma cama coberta com um lençol, imitando uma barraca de camping, Rodrigo lhe contou quais seriam todas as aventuras que iriam viver e o filho, empolgado, porém, cansado, dormiu como se fosse um anjo envolto em seus braços.
No dia seguinte o sol brilhava, o vento estava ameno refrescando o tempo que estava perfeito para passear pela cidade. Rodrigo pegou seu filho e o levou para um parque de diversões e fez tudo o que o garoto pedia. Tudo o que a mãe dele nunca o deixava fazer. Foi o melhor dia na vida daquela criança adorável e estava sendo um dia de libertação para o Rodrigo.
Em certo momento o menino percebeu a falta da mãe.
– Papai, po que a mamãe não veio se aventula também? – Perguntou com aquela voz infantil tão encantadora. – Ela tá doente? – Perguntou preocupado.
– Não filho, sua mãe não está doente. Ela está fazendo aquelas coisas de mãe, sabe? – Disse Rodrigo sem saber bem o que deveria dizer.
– Ela não quis vim? – Perguntou inocentemente.
– Não é isso filho. A mamãe – ele pensou nela com tanto desdém que quase não conseguiu falar de modo carinhoso dela para o filho que não tinha culpa de nada – está um pouco ocupada e não pôde vir com a gente. Mas da próxima vez ela vem, tá?
– Vamo se aventula di novu papai? – Perguntou Gabriel com um algodão doce na mão toda melecada de açúcar.
– Claro, filho. A aventura nunca acaba. – Disse ele de forma encorajadora. – Vamos explorar a cidade toda.
– Quelo espola, papai! – Concordou Biel empolgado. – O que é espola? – Perguntou Gabriel sem entender o que o pai quis dizer.
– Vamos desvendar todos os mistérios do museu. – Disse mais baixo como se fosse um segredo. – O que você acha?
– Quelo deve... dev... o que vamo fazê papai? – Perguntou ele sem conseguir entender.
– O museu tem muitos segredos. – Disse Rodrigo baixinho. – E você quer saber quais são esses segredos?
– Quelo. Quelo descobi todos os seguedos. – Disse Gabriel empolgado.
– Então tá. Olha só, os segredos estão escondidos e tem outras pessoas lá, então precisamos ser silenciosos, tá? – Disse Rodrigo para que o filho não fizesse muita bagunça e acabassem precisando sair do museu.
– O que é silençoso? – Gabriel estava encantando com a aventura, mas não entendia muito bem o que iriam fazer.
– Não podemos fazer barulho. – Explicou Rodrigo com carinho.
– Tá. Eu vô cê silençoso. – Prometeu ele colaborativo.
Rodrigo passou um dia maravilhoso com o filho querido. Ele nunca pudera ser mais espontâneo porque a Verônica achava que o menino deveria ser tratado como adulto para não ficar mimado. Agora ele estava sendo o pai que sempre quis ser.
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Seria Acaso ou Destino?
RomanceMargarete esbarra em um estranho saindo de um café e nesse momento começam uma linda amizade. Rodrigo e Margarete se conectaram assim que se viram. Era como se eles já se conhecessem de outra vida, tamanha a química que havia entre eles. Será que de...