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Pov Marília

- Lila... está tudo bem - Minha esposa fala beijando as minhas mãos - No seu tempo.

- Está tudo bem... - Concordo e limpo a lágrima solitária que desce dos meus olhos.

Chegamos no cemitério e eu não consigo andar para frente e nem para trás, pensei que ao passar os anos, eu me sentiria melhor e mais confiante para dizer adeus, mas percebi que não, percebi que eu continuo me impedindo de virar essa página. Para alguns pode parecer besteira, mas para mim é necessário, principalmente pelas mágoas e dores que ainda me acompanham. Eu só quero me despedir, deixar ela ir, mostrar que eu amadureci, que não sou mais aquela pessoa que abaixava a cabeça para ela, quero mostrar que agora sou outra Marília, mas não deixa de ser difícil.

- Eu... eu quero entrar - Falo baixinho para a minha esposa - Podemos ir?

- Podemos, meu amor...

Maraisa segura as minhas mãos e entramos no lugar, até que o homem do lugar, nos leva ate aonde ela está enterrada. Quando chegamos, as lágrimas descem pelos meus olhos, eu penso em desistir, mas não posso, já estou aqui, preciso fazer o que eu acho certo. Me aproximo devagar e a minha esposa me acompanha, mas eu paro ela com as mãos.

- Eu preciso fazer isso sozinha - Falo procurando seus olhos - Eu quero... eu quero fazer isso sozinha.

- Tudo bem, amor...

Me aproximo do seu túmulo e coloco as rosas em cima, já que ela amava rosas vermelhas, porque é forte igual ao nosso nome. Mesmo que eu poderia falar em pensamentos, isso tem que sair, guardar mágoas ou rancor é como segurar uma brasa quente e esperar que a outra pessoa se machuque e eu não quero isso, quero me libertar de uma vez.

- Eu... eu não sei se a senhora pode me ouvir - Sussuro baixinho - Não sei se você ainda se importa, eu não sei, mas eu... eu gostaria de falar.

As lágrimas que saiem dos meus olhos dói, mas não uma dor qualquer, até porque elas saiem direto do coração.

- Os gêmeos são lindos - Sorrio fraco e passo meus dedos sobre o seu nome escrito - Léo é encantador, protetor, cuidadoso, ele aprendeu com a minha esposa, já a Lua é agitada, falante, gosta de beijos, um pouco mimada... admito só para a senhora que ela é um pouco parecida comigo.

Tento continuar falando, mas o choro piora, fazendo eu não conseguir falar, é um processo doloroso, mas necessário. É como se o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente.

- Maraisa... ela é a melhor coisa que já aconteceu na minha vida - Falo com dificuldade e limpo as lágrimas dos meus olhos - Ela... ela é a minha vida.

Me aproximo mais do seu túmulo e olho para as datas escritas, o começo e o fim de uma história. Ela não foi a melhor pessoa do mundo, ela machucou quem eu mais amava, me machucou, mas ela ainda era a minha avó.

- Eu não odeio a senhora, não estaria se odiasse... nunca consegui odiar e eu tentei, muitas vezes - Balanço a cabeça devagar e sorrio de lado - Meu coração é muito bom para odiar alguém e eu nunca te desejei mal, nunca, até nos piores momentos...

Porque nada volta a ser como era antes. Depois que algo é quebrado sempre vão existir marcas que vão provar que algo esteve errado. Não existem segundas chances quando um coração é magoado. Não existem outras oportunidades para algo que se deixou passar, mas depende de você, deixar isso te atingir para o resto da vida, ou virar a página desse livro.

- Eu só queria que a senhora soubesse...

Você consegue, Marília.

- Eu só queria que a senhora soubesse que eu te perdoo.

Correntes e Cadeados (Malila) Onde histórias criam vida. Descubra agora