8.

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Pov Marília

Acordo com a luz da janela no meu rosto, Maraisa está dormindo tão pesado, que nem com o peso do meu corpo sobre o seu fez a morena acordar. Aproveito que ela está dormindo e beijo a sua bocheca, jamais faria isso com ela acordada.

A morena é linda, sua bocheca vermelha pelo calor dos nossos corpos, as mãos segurando a minha cintura e seu rosto emburrado quando ela dorme, tudo isso arranca um sorriso meu de lado.

Maraisa tem sido uma boa amiga, mesmo com tudo, com a minha maneira impulsiva de agir, ela não desistiu de mim.

- Maraisa... - Chamo ela devagar - Levanta, eu tô com fome.

- Não, deixa eu dormir mais.

- Mas... mas eu não sei fazer nada.

Ela me olha brava e senta na cama, passando a mão no seu rosto. Não quero a morena de mal humor, então crio coragem e me aproximo mais dela, deixando um beijo na sua bocheca. Maraisa me olha curiosa e sorri sem mostrar os dentes.

- Faz o meu café, por favor - Peço e sento na cama novamente - Eu tô com fome.

- Faço, Marília...

Sorrio com isso e puxo ela para fora da cama. Levo ela para a cozinha e coloco tudo que ela vai precisar em cima da bancada e me sento na cadeira do outro lado. Maraisa começa a fazer e eu observo a morena, com seus movimentos rápidos e precisos.

- Posso te fazer uma pergunta, Maraisa?

- Pode...

- Quem era aquela outra menina que tem nós quadros da sua casa?

- É a Maiara - Ela sorri de lado - Minha irmã gêmea.

- Eu nunca vi ela na casa - Falo pegando um pedaço de queijo da pia - Ela não mora com você?

Maraisa fica quieta e eu entendo que talvez ela não queira falar sobre isso. Só me aproximo mais dela e abraço o seu corpo, fazendo a morena se assustar.

- O que você está fazendo, Marília? - Ela pergunta confusa.

- Nada... eu só... queria te abraçar.

- Tudo bem...

- Eu também tenho uma irmã - Falo procurando seus olhos - Mas ela... ela está um pouco longe daqui.

- Eu sei... eu meio que sei tudo da sua vida.

Reviro meus olhos e concordo com a cabeça. Maraisa vira nós meus braços e me entrega meu misto quente.

- Obrigada... - Sorrio para ela.

Maraisa concorda com a cabeça e eu vou comer na mesa. Olhando ainda de relance para a morena na cozinha. Maraisa está com uma calça de moletom larga e uma regata branca, mesmo simples, ela está muito linda.

Ela se senta comigo na mesa e fica me olhando curiosa, enquanto eu como o meu pão.

- Murilo não se importa que você durma abraçanda com outra pessoa que não seja ele?

- Por que você está falando dele?

- Ele é seu noivo...

Não respondo, só continuo comendo meu pão e tomando o achocolatado que a morena fez para mim. Maraisa respira fundo e levanta da mesa, provavelmente chateada porque não teve uma resposta.

- Você quer entrar na piscina? - Pergunto chamando a sua atenção.

- Você tem piscina?

- Tenho...

Me levanto da cadeira e seguro a sua mão, levando ela para a área da piscina da casa. Maraisa quando vê, coloca um pé dentro da água, mesmo molhando seu moletom.

- Vai te molhar, Maraisa - Falo puxando a sua mão.

- Eu não sou feita de açúcar - Ela fala rindo - Entra comigo.

- Não, ainda estou de camisola.

- Por favor... sempre quis entrar com roupa normal.

Reviro meus olhos e coloco um pé dentro da água. Mesmo que o dia esteja quente, não é muito confortável entrar de roupa na água. Maraisa vai entrando mais a fundo e eu sou obrigada a ir também, pelas nossas mãos entrelaçadas.

- Maraisa... eu quero voltar.

Maraisa me puxa para mais perto dela e passa as minhas mãos pela sua cintura, a água já está acima da minha cintura, fazendo meu corpo se arrepiar. A morena passa a mão pelo meu rosto e me olha, alisando a minha pele com o polegar.

- Você é muito bonita, Marília...

- Eu já disse que você pode me chamar Lila...

Ela sorri fraco e eu não entendo porque ela está me olhando assim, a minha única reação é deitar a minha cabeça no seu ombro.

- Você é a minha amiga - Falo subindo com as minhas mãos para o seu pescoço - Não é?

- Sim, Lila...

Levanto minha cabeças novamente e sinto as suas mãos apertando mais os nossos corpos. Como uma onda, sou invadida por uma vontade inexplicável de beijá-la, apenas junto mais os nossos rosto e aproximo a minha boca da sua.

- Você é noiva, Marília...

- Não fala dele...

- Não, eu não posso - Ela me afasta com as mãos - Você é noiva, tem um casamento marcado.

- Mas eu... eu não...

- Fala, Lila...

Eu não quero me casar com ele, mas você nunca vai atender.

- Eu acho que é melhor eu ir - Ela fala saindo da água - Desculpa, eu me deixei levar e...

- Não vai embora igual todo mundo - Peço com a voz embargada e saio da piscina, indo atrás dela.

- As vezes as pessoas tinham motivos para ir embora, Lila.

É tanta tristeza guardada, que eu achei que diferente das outras pessoas ela iria ficar, mas eu vi que não, que assim como os meus pais, como minha irmã, como meus amigos, todos foram embora, talvez minha avó não esteja tão errada assim, se eu não me casar com Murilo, eu vou ficar sozinha para o resto da minha vida.

- É melhor você ir mesmo - Falo mudando a minha postura - Voltar para a sua casa minúscula, que mal cabe seus pais.

- Sério, Marília?

- Eu não preciso de você aqui - Empurro ela para longe - Não de uma pessoa tão ruim e covarde como você.

Maraisa me olha e eu vejo a mágoa através do seu olhar. Ela só se afasta e vai embora da casa, me deixando sozinha novamente.

Minha única reação é sentar no chão e chorar, abraçada com as minhas pernas. Todos vão embora, todos foram embora, ninguém nunca vai ficar e todos me machucam quando eu me abro. Talvez a senhora Mendonça que eu mesma criei não seja tão ruim, ela não se machuca, mesmo machucando outras pessoas, ninguém machuca ela.

Correntes e Cadeados (Malila) Onde histórias criam vida. Descubra agora