12.

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Pov Marília

- Qual vai ser a cor do vestido? - Murilo pergunta me olhando.

- Preto - Dou de ombros - Eu vou estar de luto.

Murilo revira os olhos e continua anotando os detalhes do casamento, enquanto eu como o brigadeiro do restaurante.

- Desde quando você gosta de brigadeiro, Lila?

- Não te interessa.

Termino o potinho e levanto a mão, querendo outro e coloco o pote sujo de brigadeiro junto com os outros cinco. Odeio ter que ficar aqui, queria ir ver a morena, sei que ela está magoada comigo, mas eu nem iria fazer nada, só queria vê-la, mesmo que de longe.

Estamos no restaurante a quase três horas, decidindo as coisas de casamento, anotando, apagando, tentando deixar tudo perfeito para o dia.

- Qual rosas você vai querer no buquê?

- As murchas.

- Marília...

- Eu posso ir para a minha empresa? - Pergunto me levantando - Você decide da forma que você quiser, eu não me importo.

- Sua a-

- Eu sei, Murilo - Falo terminando a minha taça - E quando eu sair, você vai correndo até ela, típico.

Dou as costas para o homem e vou até o meu carro. Não vou para a empresa coisa alguma, vou ir ver Maraisa, quero fazer uma proposta com ela, mesmo sem saber se a morena vai aceitar.

Vou direto para a sua casa e toco a campainha, na esperança que ela esteja.

- Oi, Marília - Almira me abraça com força.

- Oi... eu posso ver a Maraisa?

- A Mara saiu - Ela explica - Danilo levou ela para almoçar, você não quer esperar aqui dentro?

- Eu posso?

- Pode...

Me sento no sofá e balanço as minhas pernas, esperando o tempo passar. Não nego que me incomoda bastante os dois saírem juntos, mas não posso impedir, não quero parecer ciumenta demais, tento me controlar.

- Vocês brigaram? - Almira pergunta colocando um copo de achocolatado na minha frente.

- Eu... eu não sei lidar... com que eu sinto - Sorrio fraco - E acabo... lutando contra os meus sentimentos.

- Você quer me contar o que você sente sobre ela?

Olho para a mulher e nego com a cabeça, pegando o achocolatado em mãos e me encolhendo no sofá.

- Eu... eu acho que amo ela - Falo com o copo em mãos - Mas ela não... não deve sentir o mesmo.

- Por que você acha isso?

- Eu não sei...

Almira não fala mais nada. mas é suficiente para as lágrimas caírem dos meus olhos. Eu queria conseguir me entregar para, fugir só nós duas, ignorar o resto, mas não posso, isso iria acabar com a única pessoa da minha família que me restou.

- Lila... o que você está fazendo aqui? - Maraisa pergunta abrindo a porta.

Olho para ela e sorrio de lado, deixando as lágrimas caírem dos meus olhos. Maraisa me olha com frieza e da passagem para o Danilo entrar na casa.

- Podemos conversar? - Pergunto me levantando - Por favor...

- Não, não vamos conversar - Ela fala tirando a sua blusa de frio - E é para você ir embora, não quero você aqui.

- Eu não queria ter falado daquele jeito...

- Marília, você machuca as pessoas - Maraisa abre a porta para mim - E você não vai me machucar mais.

- Me desculpa...

Saio da casa rapidamente e entro no meu quarto, batendo a porta com força, encostando a minha cabeça no volante e chorando compulsivamente, fazendo meu corpo tremer, de tanta raiva e mágoa que eu sinto. São inúmeros anos e dias, tentando sentir algo, desejando amar alguém e quando eu consigo, minha autodefesa machuca todos ao meu redor.

///

- Essas são as medidas do vestido - A mulher mostra para a minha avó - Estão um pouco acima, mas é normal a noiva engordar devido a ansiedade.

- Pode diminuir esses centímetros - A mais velha nega - Marília vai emagrecer até lá.

- Eu gosto do meu corpo, vovó...

- Você vai emagrecer, querida - Ela dá um tapinha na minha perna - Não é difícil.

Concordo com a cabeça e desço de onde estava, indo vestir a blusa de frio, que Maraisa deixou em casa, é a única coisa que eu tenho dela e consigo sentir seu perfume. Minha avó continua conversando com a mulher que vai fazer o meu vestido e eu só consigo ver as inúmeras chamadas perdidas de um número desconhecido.

Só bloqueio o número e volto a minha atenção para o casamento.

- Vamos publicar hoje a notícia do casamento, Marília - Ela fala animanda - Temos que convidar a cidade inteira.

Minha avó continua falando e meus pensamentos vão para longe, me tirando desse pesadelo.

" - Por que você está quietinha, Lila?

- Não quero que você fique indo embora para a sua casa.

- Eu não posso morar aqui - Ela fala rindo e segura meu rosto - Mas eu posso vim te ver.

- É..."

Puxo seu moletom mais para cima e sinto seu cheiro, que mesmo com o meu dia péssimo, me acalmou o tempo inteiro. Eu queria ela aqui comigo, queria beijar sua boca, queria abraçar seu corpo, passar minhas mãos pelos seus cabelos, mas talvez seja melhor assim, no fim da história não ficamos juntas.

- Marília, estamos falando com você - Ela grita comigo - Presta atenção, está dormindo igual a sua irmã fazia.

- Não fala da Luísa - Resmungo nervosa.

- Você me respondeu.

- Eu só quero dizer que a minha irmã não era esse monstro - Falo nervosa - Ela era a melhor pessoa para mim.

- Sua irmã era uma defeituosa.

- Pelo o quê? Amar uma mulher? - Pergunto rindo - Ela soube o que era um amor verdadeiro.

- Aquilo não é amor.

- Você me forçar a me casar com um homem que eu não gosto, isso não é amor - Grito com ela - E quer saber? Talvez eu seja defeituosa, talvez eu também ame uma mul-

Quando vou terminar de falar, minha avó me joga no chão, jogando a arara de roupas cima da minha perna, fazendo eu gemer de dor.

Ela se aproxima de mim e segura meu rosto, alisando a minha pele.

- Eu só estou te punindo, porque eu te amo - Ela fala devagar - Você querer amar, não é errado, mas ame um homem, não uma mulher.

- Eu não quero me casar... - Falo chorando.

- Esse é o nosso acordo, Marília - Minha vó beija a minha testa - Você se casa e eu deixo a sua irmã voltar para casa.

Correntes e Cadeados (Malila) Onde histórias criam vida. Descubra agora