20.

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Pov Marília

- Você pode... é... fazer... aquele doce para mim? - Pergunto procurando seus olhos - Não precisa se não quiser... eu só... estava com vontade.

- Posso, meu amor...

Sorrio de lado e selo nossos lábios e mesmo não querendo, eu vou para o meu carro, deixando ela segura em casa. Dou partida e respiro fundo, tentando acalmar meus pensamentos, colocando as ideias no lugar, tentando não chorar, não quero mostrar fragilidade. Não posso colocar a felicidade da minha avó acima da minha, preciso deixar claro o que eu quero, preciso ter voz, vou explicar o que está acontecendo e se ela realmente me ama, ela vai me ouvir.

Quando chego, desço rapidamente do carro e continuo tentando me acalmar, não posso continuar vivendo assim, quero ser feliz com a pessoa que eu amo, por isso preciso encarar de frente os meus problemas.

Entro na grande mansão da minha avó e escuto o barulho dos seus saltos, ela sabe que eu estou aqui.

- Oi, minha querida - Ela fala da ponta da escada - Como você está? Seu vestido está lá em cima, vamos lá v-

- Precisamos conversar - Falo sem olhar nós seus olhos.

- Sim, precisamos, você não decidiu qual vai ser os doces da festa, nem a quantidade de convidad-

- Eu não vou me casar - Interrompo ela novamente - Eu já te disse isso, para de fingir que não me escuta.

Ela se aproxima de mim e segura meu rosto, abaixo até eu encontrar seus olhos.

- Fala direito com a sua avó - Ela fala me olhando - Não me desrespeite na minha casa.

- Eu não quero me casar...

A mais velha concorda com a cabeça e segura a minha mão, alisando a minha pele. Me afasto dela e tiro a sua mão da minha, olhando para o chão o tempo inteiro.

- Eu amo ela, vovó - Falo com a voz embargada - Ela me faz bem, cuida de mim, me faz se sentir amada.

- Murilo pode fazer isso, minha neta.

- Eu não amo o Murilo, eu não... não me sinto viva igual eu me sinto com ela.

- Murilo pode te dar segurança, ele é uma certeza na sua vida - Ela fala se aproximando novamente e alisa meu rosto - Ele é um homem, vai te amar.

- Mas eu não amo ele - Grito nervosa e recebo um tapa no meu rosto.

Coloco a mão na minha bocheca e olho para ela, que está com as mãos fechadas em punho para mim. Eu sempre fui a neta que obedecia, não respondia, que todos os avós desejariam, eu sempre fui essa neta, mas isso me tornou submissa. Minha avó me puxa para sentar no sofá e segura meu rosto, limpando as minhas lágrimas.

- Eu te amo, sei que é melhor para você, isso é o que a sua mãe iria querer - Ela fala alisando minha pele - Sua mãe iria querer você com um homem de verdade.

Não respondo, só tento prender o choro, mesmo sendo impossível. Não quero desobedecer, principalmente alguém que me criou, que segurou a nossa casa, quando tudo estava desabando, meu respeito e amor são muito grande, mas eu não quero me casar.

- Eu amo ela, vovó...

- Sua mãe nunca aprovaria isso, Marília - Minha avó fala devagar - Sua mãe iria confiar em mim.

- Eu sinto falta dela...

Eu era a filha mais apegada na minha mãe, a filha que dormia junto com ela todos os dias, que chorava quando estava longe, que abraçava, beijava, eu perdi a minha vida quando ela se foi.

- Eu não quero me casar - Nego abraçando as minhas pernas - Eu quero ser feliz, Maraisa é a minha felicidade, ela é a minha família.

- Eu sou a sua família, Marília - Ela briga segurando meu rosto - Quando seus pais morreram, quem estava com você? Quem estava cuidando de você e da ingrata da sua irmã?

" - Eu sou a Marília Dias Mendonça - Falo segurando o braço do médico - Meu pais... eles... eles entram em uma cirurgia, eu... eu queria saber se eles estão bem.

- Eu vou checar para a senhorita.

Começo a andar de um lado para o outro, tentando me acalmar, sentindo meu peito descendo e subindo, a respiração falhando, meu estômago embolando, não me sinto nada bem.

- Lila, eu estou aqui - Luísa entra correndo no hospital e me abraça - Os médicos falaram alguma coisa?

- Não... ninguém fala nada.

Começo a chorar nós braços de Luísa e ela beija a minha cabeça, passando as mãos no meu cabelo, tentando me acalmar.

- Não vou aguentar perder eles, Luísa - Falo quase em voz - Eu não vou conseguir.

- Eu estou aqui, eles vão ficar bem - Ela fala beijando a minha cabeça - Eles vão ficar bem.

Minutos depois, o mesmo médico volta e se aproxima de nós duas, tirando a touca da sua cabeça.

- Não... - Nego com a cabeça - Por favor...

- Nós sentimos muito - Ele fala devagar - Nenhum dos dois sobreviveram.

Minhas pernas perdem a força e eu caio no chão, deixando as lágrimas caírem dos meus olhos, meu coração ser pisoteado pelo luto e minha alma ir embora juntos com eles. Em nosso peito apenas a dor de um punhal que a cada "meus pêsames" parece afundar.

- A vovó está aqui - Alguém me abraça no chão - Eu estou aqui.

- Vovó?

- Eu estou aqui, meu amor - Ela fala me abraçando - Eu vou cuidar de vocês, ninguém vai machucar vocês.

- Eu não me despedi...

- Eles sabem os seus sentimentos, meu amor...:

Minha avó naquele momento, se tornou meu refúgio, seu abraço era o lugar mais seguro do mundo, como dói saber que agora é o lugar mais áspero que eu poderia entrar. Mas ainda sim, ela esteve comigo no momento mais difícil da minha vida.

- Eu sou a sua família - Ela fala segurando a minha mão - Eu só quero o seu melhor, se case com o Murilo, ele é um grande homem.

- Mas... e a Maraisa?

- Eu vou trazer a irmã dela de volta, Luísa também - Ela fala passando a mão no meu rosto - Os pais delas vão ver a filha, sorrir ao ver a neta, todos vão ficar bem.

- Você promete?

- Prometo, meu amor...

Correntes e Cadeados (Malila) Onde histórias criam vida. Descubra agora