22.

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Pov Marília

- O vestido está perfeito - Minha avó fala me olhando - Você está linda.

- Está apertado...

- É melhor assim - Ela dá dois tapinhas no meu ombro - Deixa a sua cintura mais modelada.

A costureira termina de arrumar o vestido no meu corpo e me vira para o espelho, mostrando como eu estou. Nunca pensei que eu iria me sentir tão estranha e tão desconfortável em um vestido de casamento, o problema não é a roupa, o vestido é perfeito, o problema sou eu, não era assim que eu planejava me casar. Continuo com a cabeça erguida, segurando meu choro. Sequer fui na empresa essa semana, com todos esses preparativos, parece que todos precisam da minha atenção, mas eu nem sei se quero voltar para lá, ver a morena, não quero encarar ela ainda. Não vou demitir a Maraisa, não seria justo, comigo e muito menos com ela.

- Vovó... eu... eu queria que Luísa entrasse comigo - Chamo a sua atenção - E eu... queria... que a daminha fosse a minha sobrinha.

- A daminha vai ser a irmã do Murilo - Ela dá a palavra final - E quem vai entrar com você vai ser eu.

- Mas... Luísa pode vim para o casamento.

- Não.

- Mas tínhamos um combinado - Falo descendo do palanque - Ela iria voltar, junto com a minha cunhada e-

- Pode apertar mais - A mulher fala para a costureira - Não está nas medidas ainda.

Ela ignorou totalmente o que eu falei, como se não importasse a promessa que ela tinha feito. Começo a ficar irritada e tento tirar o vestido que estava apertando meu corpo inteiro.

- Está me apertando muito - Resmungo irritada - Eu quero tirar.

- Marília, deixa o vestido assim - Minha avó grita comigo - Precisamos tirar as fotos ainda.

Reviro meus olhos e volto para o palanque, vendo meus braços ficando vermelhos pelo tecido apertado. Tenho inúmeras coisas para fazer hoje, tenho que sair com o Murilo, para os paparazzis flagrar a gente juntos, tenho que resolver as coisas pendentes na empresa e ainda voltar a tempo para o jantar que vai ter com a minha família. Mesmo estando completamente cansada, por não conseguir a mais de cinco dias, continuo firme, tentando não enlouquecer.

- Vão ser dois vestidos - A costureira fala - Um para a festa e outro para a igreja.

- Isso...

- Um vestido está bom - Resmungo irritada.

Meu celular começa a tocar e eu desço novamente, pegando meu aparelho na bolsa, quando vejo, Luísa está me ligando. Me afasto delas e me tranco no banheiro, para falar com a minha irmã.

- Oi, Lu...

- Eu não vou deixar você acabar com a sua vida, por causa daquela mulher - Luísa fala nervosa - O que é aquele anúncio, Marília?

- É meu casamento, Luísa...

- Eu nem preciso te ver, só pela sua voz eu vejo que você não está bem - Ela responde brava - E a Maraisa? E o namoro de vocês?

Não respondo, não tenho nada para falar sobre o nosso término, absolutamente nada.

- Marília, acorda desse transe - Luísa grita comigo - Você está perdendo o amor da sua vida.

- Você não entende...

- Você não vai se casar com esse homem.

Desligo o celular e abaixo a cabeça, recusando as suas chamadas. Ninguém entende, ninguém nunca vai entender a pressão que é, ninguém nunca vai saber o que você sente e sequer se importam com isso. Limpo a única lágrima que caí dos meus olhos e saio do banheiro, voltando para a prova dos vestidos.

///

- Marília, temos que sair juntos - Murilo fala puxando meus braços - Esse é o combinado.

- Olha, Murilo, com todo o respeito - Falo puxando meu braço de volta - Vai de fuder, minha cabeça está cheia, eu só quero ir para o único lugar que me faz bem, que é a minha empresa.

- Eu v-

- Contar para a minha vó - Concordo com a cabeça - Eu sei, você é um mimadinho de merda, que se não tem o que quer, saí correndo para os braços da mamãe.

- Eu vi você tomando os calmantes, Marília - Ele fala segurando meus braços - Você quase tomou uma cartela inteira.

- É para você se eu morro e não preciso me casar com você.

Dou as costas para ele e subo para a minha empresa, aqui está sendo a minha única fonte de felicidade, já que eu posso pelo menos ver de longe a morena. Subo para o escritório e quando todos me vê, saiem correndo para os seus postos, até que eu vejo uma coisa: Gabriela e Maraisa conversando, mas o que mais me chama a atenção é a mão da mulher na perna de Maraisa, me deixando completamente irritada.

- Gabriela, eu quero você na minha sala - Grito alto - Agora.

Ignoro os olhares de Maraisa para mim e entro na minha sala. Mal terminamos e ela já está com outra pessoa, meu corpo sequer esfriou e ela já está assim. Sento na minha cadeira e espero a loira entrar, enquanto eu balanço os pés pela ansiedade.

- Com licença, senhora Mendonça - Ela pede entrando na minha sala - O que a senhora quer conversar?

- Eu quero que você pegue as suas coisas e saia do meu escritório - Falo rapidamente - Você está demitida.

- Eu não fiz nada.

- A empresa é minha - Dou de ombros - Faço o que eu quiser, agora saí.

Ela saí chorando da minha sala e eu levanto nervosa, andando de um lado para o outro. Está tudo um caos, minha vida, meus sentimentos, minhas emoções, está tudo bagunçado, não consigo controlar meus impulsos, sinto que posso estar enlouquecendo aos poucos. Quando vou voltar para a minha mesa, sinto uma tontura forte e começo a perder a minha visão, me segurando em qualquer coisa.

Escuto alguém batendo na porta e pelo relance, vejo que a minha morena.

- Podemos conversar, senhora Mendonça?

Mesmo querendo falar com ela, não consigo manter meus olhos fixos em nada e seguro na minha mesa, me abaixando no chão.

- Eu quero ficar sozinha - Falo baixinho.

Maraisa se aproxima de mim e segura meu corpo, fazendo eu deitar a cabeça no seu ombro.

- Você está gelada... - Ela fala passando a mão no meu pescoço - Está suando frio.

- Vai embora... por favor.

- Eu vou te levar no médico - Maraisa fala me levantando - Você não está bem.

Apoio minha cabeça no seu ombro e seguro as suas roupas, sem conseguir levantar a minha cabeça, ou abrir meus olhos. Maraisa passa as mãos pela minha cintura e tenta fazer eu andar, mas eu não consigo e abraço a mulher na minha frente, para não cair no chão.

- Marília...

- Eu não quero me casar...

- O que sua vó está dizendo para você? - Ela pergunta segurando meu rosto - Me fala o que ela dizendo, por favor.

Quando vou responder, alguém abre a porta e eu sinto dois braços me tirando de Maraisa e meu corpo sendo tirado do chão.

- O que você fez com ela, Maraisa? - Murilo pergunta nervoso.

- Me leva para o hospital... - Peço quase sem voz - Por favor...

Murilo beija o meu rosto e ele fala alguma coisa para a mulher, mas eu desmaio e não consigo entender o que é.

Correntes e Cadeados (Malila) Onde histórias criam vida. Descubra agora