A Traição do Olimpo

XIII Piper

XIII

PIPER

— Me tira daqui! — berrou Piper pela milésima vez.

Ficar trancafiada em uma cela escura, fria e úmida não estava nos planos semanais de Piper. Ela já estava quase ficando sem voz de tanto que gritara.

A garota já havia tentado de tudo, quebrar as grades com sua faca, cerrá-las, furar uma parede. Nada tinha surgido efeito. Nem as visões de Katoptris estavam funcionando mais.

Por sorte, Piper não era claustrofóbica, senão, seria o fim da picada. Não havia se quer uma janela ou luz na cela, apenas uma cama, um vaso sanitário e uma pia. Piper queria tanto que Percy estivesse com ela agora, seria realmente útil...

Para além das grades de metal, havia apenas dois corredores escuros, um para frente e um para direita e passos de alguém que nunca se revelava.

Piper estava cansada, frustada e irritada. Não conseguia avisar ninguém onde estava e mesmo se pudesse, onde ela estava? Simplesmente caíra ali depois de descobrir a verdade sobre Helena. Precisava sair logo daquela cela para avisar seus amigos sobre ela.

— Me soltem agora! — Nem a maior intensidade de seu charme estava dando resultado.

Piper encostou a cabeça na grade e suspirou. Já havia rezado para sua mãe ajudá-la, e até para todos os outros deuses...

Os passos que sempre se mantinham distantes começaram a se aproximar. Piper ergueu a cabeça rapidamente e tentou forçar a visão para conseguir enxergar algo.

Uma luz começou a se aproximar juntamente aos passos.

Piper deixou sua faca escondida para trás, pronta para atacar se necessário. Uma silhueta de pessoa se aproximou, uma senhora de uns cinquenta anos com pele azeitonada, cabelos longos e negros, e óculos sem aro. Vestia roupas verdes em estilo hippie e carregava na mão um lampião de luz amarela.

— Quem é você?! Por que estou presa aqui?! — indagou Piper de uma vez só e aos gritos furiosos.

A mulher, por sua vez, manteve a calma e plenitude. Puxou uma cadeira, sabe se lá de onde, e se sentou ao lado da cela.

O lampião da senhora chamou atenção de Piper quando um pequeno arco-íris tremeluziu dentro dele, lhe dando um estalo de informações na mente. Já ouvira algum de seus amigos lhe falando de uma senhora parecida com essa...

— Você é a deusa Íris — disse Piper e a senhora assentiu. Saber disso não a deixou menos confusa, muito pelo contrário. — Por que estamos aqui?

A deusa não respondeu.

— Pode me dizer? Por favor... — Piper usou o charme em sua voz. A deusa lhe encarou.

— Não é o lugar mais agradável para ambas, eu admito, mas é onde ficaremos por um tempinho. — A voz da deusa era calma e suave, parecia até que estava meditando.

O arco-íris brilhou mais forte. Íris deu um tapa no lampião e o arco-íris sumiu.

— Não podemos deixar que comentários ruins se espalhem. Sabe o que fake news pode fazer com uma pessoa? Muita coisa ruim.

Piper se calou por um momento tentando analisar e entender o que estava acontecendo.

— Caí aqui porque descobri a verdade sobre Helena, isso é óbvio. E você é a deusa das mensagens de Íris... A mesma pessoa está nos prendendo aqui porque não quer que espalhem essa verdade, certo?

— Errado. Não estou presa aqui, ela fez um ótimo acordo comigo. Bolinhos Veganos prontos para entrega a qualquer momento e em qualquer lugar! — respondeu a deusa em forma de propaganda e gesticulando as mãos como se estivesse lendo um letreiro em sua frente.

Um detalhe prendeu atenção de Piper.

— Ela, né?

— Ela a pessoa, querida. Nem feminino nem masculino. A pessoa, o ser humano.

Piper bufou e se sentou no chão da cela. Íris não iria ajudar, e a garota duvidava que fosse ter sucesso com seu charme por conta do cansaço.

Seu coração estava agoniado. A preocupação com seus amigos só aumentava, principalmente com Jason. Era um perigo ainda maior para ele aquela garota por perto.

De repente, a deusa deu um chute no lampião assim que outro arco-íris brilhou.

— Fofocas se espalhando? — perguntou Piper.

— Ah, sempre. E é mais difícil de segurar quando sãos os deuses falando.

— Prenderam Hermes também? Ele deve saber de bastante coisa.

A deusa a encarou com um sorriso simples, porém assustador.

— Esse daí não veremos por um bom tempo.

Os pelos do corpo de Piper se arrepiaram por completo. Ela não sabia nem o que responder.

A raiva que sentiu de Helena desde o primeiro momento que a vira só cresceu. Era tudo culpa dela, tudo. Dela e de s...

— Não vai demorar para saírmos — disse a deusa interrompendo seu pensamento. — Só espere as coisas se acalmarem.

— Meus amigos estão em perigo, eu preciso sair daqui.

A deusa pegou uma revista e começou a ler. De vez em quando batia em seu lampião novamente.

Piper encostou a cabeça na grade, estava chateada, não iria negar. Seu peito apertava toda vez que ela pensava em Jason, e mais ainda quando imaginava ele junto de Helena. Não conseguia tirar da mente o momento em que os vira juntos na frente da enfermaria do acampamento. Os braços de Jason ao redor dela, a segurando com firmeza, a troca intensa de olhares... Talvez no fundo, Piper estivesse com pouquinho de ciúmes de Jason, mas bem no fundo. Seu maior problema ainda era a preocupação.

Um prato de comida apareceu em cima da cama, Piper deu uma olhada, era macarrona com molho branco. Pelo menos a comida é vegetariana, pensou ela.

— Eu que escolhi o prato — começou a deusa. — Sou super a favor do seu estilo de vida. Devia ir em minha loja, iria amar meus cookies de chocolate vegano.

Piper ignorou, não queria se dar o trabalho de conversar com a deusa do veganismo. Sua mente estava em outro lugar. Por um segundo, ela imaginou a possibilidade de Helena conhecer Leo. Os olhos de Piper se encheram de lágrimas só de pensar em seu irmãozinho correndo perigo com aquela filha do azar.

Leo já havia passado por coisas demais, não seria justo ele ainda ter que lidar com os problemas que Helena traria. Depois de Jason, Leo era o segundo na linha de perigo em andar com Helena... O coração de Piper apertou mais ainda ao pensar em Annabeth e Percy, mas também sentia um pequeno alívio ao lembrar que nenhum dos dois tinha ido com a cara dela.

O barulho da deusa batendo no lampião era o único som que ecoava em toda sua prisão. Piper se arriscou a olhar sua faca, com a esperança que lhe mostrasse algo. E mais uma vez, nada.

Piper fechou os olhos e deixou que sua mente a levasse para outro lugar. A casa do vovô Tom com seu pai. A construção do Argo II ao lado de Jason e Leo. Sua vitória contra Quione. A morte de Jason...