XIX Helena

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XIX

HELENA

A reação de Calipso foi pior que a dos Lares. Leo e Helena estavam se divertindo dançando Just Dance ao som de Kill This Love, até a porta da oficina abrir e uma garota entrar. Tinha uma aparência jovem, quase adolescente. Cabelos castanhos claros, preso em uma trança lateral. Usava uma jardineira jeans com uma blusa branca por baixo. Helena reconheceu logo que era a namorada de Leo.

— Cheguei, Leo e trouxe uns... — Calipso parou de falar no segundo em que colocou os olhos em Helena e em seguida gritou apavorada e horrorizada, como se estivesse vendo um fantasma bem na sua frente. Embora os gritos dela fossem bem menos agudos e estridentes que os de Leo.

— Calma, calma! — gritou Leo. — Está tudo bem! Ela é amiga.

Calipso cessou os gritos, mas o olhar de horror continuou. Os olhos castanhos estavam completamente arregalados e a garota estava pálida.

Leo coçou a garganta e disse:

— Ah, mi linda... Está é Helena, é amiga de Jason. Caiu aqui por acidente.

O olhar de Calipso não relaxou, a garota ainda parecia estar vendo seu pior pesadelo.

— O que foi? — perguntou ele.

— Ah... ah... — gaguejou Calipso. — Tem... tem uma barata ali! — ela apontou para algum ponto atrás de Helena.

Leo soltou um grito fino, pegou um martelo de seu cinto de ferramentas e saiu a procura da barata.

Calipso e Helena continuaram se encarando. Helena se sentia diferente desta vez, não tinha vontade de abaixar o olhar como estava fazendo com os outros semideuses.

— Isso é... impossível — murmurou Calipso em tom baixo.

— O que? — perguntou Helena.

Calipso desviou o olhar para Leo, e disse que a barata havia corrido para debaixo do sofá. Leo correu até lá procurando o inseto. A garota se aproximou de Helena com cuidado, a analisando por inteiro.

Helena continuava parada apenas observando.

— Nunca imaginei que veria algo assim... — murmurou Calipso.

— Sabe que posso te ouvir, não é? — indagou Helena. — Não sou uma estátua, estou vendo você me olhando assim. Qual o problema?

Calipso a encarou.

— Estou impressionada... E assustada, é claro. Em meus milhões de anos de existência, nunca se quer imaginei ver algo assim... É tão fora das regras... É engraçado que ainda existam coisas que podem nos surpreender — ela deu uma risadinha.

Helena sentia, de alguma forma, que Calipso sabia bem mais sobre ela do que parecia e que estava escondendo isso.

Amore mio, não achei a barata — disse Leo.

— Acho que me enganei, querido. Sua amiga vai ficar aqui muito tempo?

— Não. Jason já estava vindo buscá-la.

— É melhor assim — Calipso lançou um olhar solidário para Helena. — Lamento que eu não possa deixar que você fique mais. É mais seguro para Leo e eu. Soube da sua tempestade e não quero que entremos nessa também...

— Eu entendo — concordou Helena. — Não se preocupe.

Essa foi a última conversa que tiveram. Calipso se trancou na cozinha e ficou lá o resto do tempo. Helena agradecia por não ter sido expulsa da oficina ou apanhado dela. Calipso queria ficar longe de confusão, mas a intuição de Helena dizia que ela também não queria correr o risco de falar algo que não devia por acidente.

A Traição do Olimpo Onde histórias criam vida. Descubra agora