Capítulo 14 - Coelhos

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- Você não acha que estamos perto demais da Vila do Rei!? - indagou o homem.

- Sim. É justamente por isso que não seremos achados aqui. Falando nisso, olhe - apontou Oert para uma pequena praia.

  Oert e mais 3 homens estavam fugindo de uma recém batalha. Oert tinha em sua bolsa 2 mil hacksilvers de Marebaixa, mas ainda não havia contado essas moedas. Após 2 dias de navegação, seguiram o mesmo caminho que Turgdson fizera um dia antes. O sol estava se pondo e os ventos gelados gritavam o nome do inverno que estava próximo.

  O homem que assumira o lugar de Hudøn fora Aghör, Queixo de Prata. Como seu vulgo já o diz, Aghör tinha um queixo feito de prata, depois de uma expedição na qual perdeu o queixo por uma lâmina. Sua fama era a pior possível em Marebaixa. Entretanto, Aghör foi morto na invasão de Påtyr, 4 invernos depois da morte de Hudøn.

  Os quatro homens fugitivos atracaram o knarr na costa e puxaram até o meio das árvores que estavam ali perto.

- Aquilo é fumaça? - indagou William. Os outros homens olharam na direção.

- É... parece que sim. Vamos até lá - confirmou Oert pegando sua bolsa no knarr. Estavam equipados de espadas e Júvio levava um arco consigo.

  Percorriam o caminho em fila, olhando ao redor e em estado de alerta. Oert e Júvio estavam tranquilos, pois sabiam que a região (aparentemente hostil) não tinha perigo algum. Afinal, apenas eles eram sabidos do terreno no meio dos outros dois maltrapilhos. Júvio era de Tyrthron, William de Águia Negra, Kyran de Yanhisk e Oert de Marebaixa.

- Como você sabia que estávamos perto da Vila do Rei? - indagou Oert se aproximando de William.

- Ah! Meu pai é nórdico, como você. Uma vez passei por este rio para descer até o mar e voltar até Águia Negra. Me lembro muito bem por conta dessa correnteza estranha - explicou William enquanto caminhava ao lado de Oert. Júvio vinha atrás, com seu arco e flecha a postos e Kyran na retaguarda.

- Hm. Nasci e cresci no extremo norte daqui. Em um assentamento quase esquecido pelo rei. Nem nosso Jarl ia nas assembléias com aquele homem - dissertou Oert, caminhando com a mão esquerda apoiada em sua espada, que jazia na bainha. - Aprendi a fazer o que for preciso para sobreviver. Vi minha mãe morrer para uma doença que vinha com o frio. Esse jeito não é o que eu queria, mas pelo menos me mantenho vivo.

- É. Fugi de Águia Negra fazem 4 Invernos, por conta de uma dívida deixada por meu tio, que era mercenário. Meu pai e eu trabalhamos até meu pai morrer de febre e não conseguir pagar. Ou eu pagava ou virava escravus - replicou William.

- Escravus? O que é? Além do mais, você... fala muito bem a nossa língua - citou Oert.

- Escravus é como se... como se fosse os escravos daqui. E sim, meu pai não falava comigo em alvorti, que é nossa língua. E também, esses hacksilvers não tem valor algum para minha dívida. Usamos o besante. É feito de ouro ao invés de prata.

- Não sei se posso confiar em você - afirma Oert, que olhava para o caminho.

- Bom, ainda não decidi se quero voltar para Águia. Apesar de essas terras serem mais difíceis de se viver, estou gostando dos desafios. E eu digo o mesmo quanto à você. O que mais parece que o destino nos uniu naquela confusão. Trabalhei com o Velho Kolen por 3 anos, pescando. Aprendi a gostar de Marebaixa. Se é que será chamada assim agora...

- Destino? Por Odin... você é anormal. No seu lugar, eu daria um jeito de voltar para lá e foder todas as mulheres possíveis de Águia. Fiquei sabendo que são tão peitudas ao ponto de esconder MEU ROSTO! - cita Oert, acompanhado de uma gargalhada no final. William sorriu junto, voltando o olhar para a fumaça. Estavam mais perto dessa vez.

𝐅𝐎𝐆𝐎 𝐃𝐀 𝐃𝐄𝐒𝐎𝐋𝐀𝐂Ã𝐎 - 𝐕𝐎𝐋. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora