Primavera de 1986. Parece radiante, não? Há dois anos atrás, quando Samantha Henderson se mudou para Hawkins com o objetivo de terminar seus estudos, saber da existência de um mundo invertido não estava em seus planos.
Além disso, se apaixonar pelo...
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UPSIDE DOWN. Thursday, March 27.
Gritei o máximo que pude enquanto corria. Um passo atrás do outro, a dor em minha perna gritando e as lágrimas inundando meus olhos. Os morcegos continuavam a cercar Eddie, agarrando seus braços ou avançando os dentes contra sua pele. Como se fossem abutres rodeando uma carne morta. Então, apertei ainda mais os passos quando um demobat enlaçou a cauda no pescoço de Munson e começou a sufocá-lo.
— Otários! — Abanei as mãos acima da cabeça, berrando. — Aqui! Venham atrás de mim!
A nuvem de criaturas se dividiu em duas, uma permanecendo em Eddie e a outra voando em minha direção. Senti um arrepio nos pelos da nuca quando os vi avançando como uma maré enfurecida. Posicionando a arma já destravada, ergui a espingarda para os seres alados e, com a distância favorável, deslizei o dedo pelo gatilho.
O estrondo ecoou pelos meus ouvidos.
Continuei atirando. Uma, duas, três vezes. Agora, o suficiente para chamar a atenção de todos. O morcego que antes sufocava Eddie, estava morto no chão e com a cabeça estourada. Outro investiu um ataque pela lateral, mas os tiros o impediram de continuar. Prossegui aproximando e disparando balas em qualquer criatura que aparecesse à vista. Os projéteis os acertavam com precisão.
A nuvem se dissipou pelo ar, uns morcegos voando em círculos e outros ainda investindo em ataques. Aos poucos, se distanciaram de Eddie. Continuei mirando, atirando e recarregando, até as munições chegarem na metade.
— Morram! — Gritei.
Deslizei o dedo pelo gatilho tantas vezes que nem me dei conta. Mas quando olhei para Eddie, meu sangue gelou. Ele estava sangrando. O líquido vermelho mal me deixava ver a pele estraçalhada pelos morcegos. Precisei me conter ao máximo para não desmanchar em lágrimas novamente. Contudo, não tive nem tempo de ajudá-lo. Um demobat apareceu de surpresa voando em nossa direção. Depois outro.
— Se afastem! — Eu atirava para o céu, gritando e com a voz de choro. — Deixem ele em paz! Por favor!
As mãos trêmulas atrapalhavam que eu segurasse o cabo firmemente. Só restavam algumas balas, e eu encarava desesperadamente as criaturas raivosas.
— Por favor… — Minha voz saiu como uma súplica. — Saiam daqui! Saiam! Sai-
A cauda de um morcego enrolou em meu pescoço e me lançou para longe. Porém, a espingarda de prontidão me permitiu matá-lo. Ou talvez eu tenha dito cedo demais, pois outro morcego me agarrou e cravou os dentes em meu ombro.
Senti a visão ficar turva e as forças se esvairem aos poucos. Os dentes perfuraram tão ferozmente que quase achei que perderia o braço. A mão esquerda que tentava alcançar a arma de fogo — que continha a última bala — desistiu de continuar. Meus olhos pesavam pelo cansaço. Meu corpo cedia à exaustão. Não me importava se me levassem no lugar de Eddie. Desde que ele estivesse a salvo.