16. Não existe rosa sem espinhos

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Lilith

Toda noite a enorme coruja aparecia na janela com mais algum presente ou bilhete e ficava batendo até que eu abrisse e a deixasse entrar. Já tinha um espaço reservado para o amontoado de coisas que se acumulavam na mesa de cabeceira do meu lado do quarto. Eu tentei fazer com que a coruja mandasse os objetos de volta, mas ela se recusava todas as vezes, e toda noite trazia algo diferente.

Na primeira noite em que a ave não apareceu, eu pensei que ele desistiu e eu finalmente teria paz, mas eu estava enganada. Naquela noite um conjunto de origamis encantados se chocou contra a minha janela. No começo eram dez, depois vinte e então quarenta, até que eu abrisse a maldita janela.

Isso aconteceu cerca de três ou quatro vezes ao longo das últimas duas semanas, mas eram objetos variados, todos artesanais, mas variados. Eu já estava no ápice da minha irritação quando juntei todos eles em uma sacola grande e a levei até as masmorras.

Embora já estivesse de noite, havia alguns alunos espalhados pelos corredores, todos eles encaravam com curiosidade a sacola flutuando durante todo o percurso. Só quando cheguei nas masmorras me lembrei que não conseguiria entrar na comunal então esperei, uma hora Malfoy teria que aparecer.

Merlin deve ter ajudado, porque em menos de dez minutos Theodore Nott e Daphne Greengrass chegaram ao corredor. Nott me encarou com dúvida, mas não expressou nenhuma emoção, foi Daphne quem reagiu de verdade. Inversamente proporcional a minha cara fechada, o sorriso dela aumentava pouco a pouco, as sobrancelhas franziam em diversão e ela cantarolou a senha para que a porta abrisse.

Theo continuou olhando, esperando que eu entrasse, mas me mantive parada na mesma posição e ele só bufou uma risada e entrou também. Demorou menos ainda para que a porta se abrisse de novo com Draco Malfoy passando por ela dessa vez.

— Pra que essa comoção toda? — foi a primeira coisa que ele falou, seu sorriso arrogante se desmanchou quando ele notou minha varinha apontada para a sacola.

Malfoy abriu a boca para falar mais uma vez, no entanto, antes que ele pudesse, lancei o saco em sua direção. Por muito pouco, não consegui atingi-lo, Malfoy sempre foi uma bom duelista e tinha ótimos reflexos, mas tudo bem, a intenção não era machucar, queria apenas assustá-lo.

— Você é doida? — Ele exclamou com raiva, dando passos pesados até ficar cara a cara comigo.

— Sou! E vou ficar ainda pior se você não me deixar em paz — gritei, estufando o peito e sem desviar o olhar para que ele entendesse que eu estava falando sério.

— Caralho, sua- — Ele se interrompe no meio da frase, com os olhos arregalados, mas não tinha medo neles, era puro ódio. A respiração de Draco estava tão pesada quanto a minha e era possível observar nossos ombros se mexendo. Não notei quando seus olhos suavizaram e sua expressão corporal mudou, foi o tom de voz contido e suave que me despertou da raiva cega. — Você não gostou dos meus presentes, querida? Que pena... escolhi especialmente para você.

Ele estava com uma cara de tristeza, como se estivesse realmente magoado, mas eu sabia mais. O tom de voz doce e o jeito suave com que ele tirava a franja que caía no meu rosto poderia enganar qualquer um, mas não enganaria a mim. — Se você tentar me comprar de novo eu vou estuporar você.

— Não, marrentinha, você entendeu tudo errado. — Quanto mais condescendente ele agia, mais raivosa eu ficava. — Eu não estou comprando você, estou te conquistando.

— É o que você acha que tá acontecendo? — cruzei os braços sobre o peito, enquanto perguntava. Mas ele deu mais um passo para frente, os dedos que arrumavam com cuidado minha franja agora agarravam minha nuca, imobilizando meu rosto para olhar somente para ele. A força do seu aperto contrastava com a imagem de docilidade que ele tentava transpassar para quem estivesse assistindo.

Autodestrutivo - Draco MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora