45. Quem está no inferno não sabe o que é o céu

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Lilith

Tudo está escuro e desfocado. Não consigo ver nada à minha frente com clareza, tudo parece um borrão cinza e tremulante.

Meu corpo parece pelo menos três vezes mais pesado, meus braços estão pendendo para frente e balançando de um lado para o outro, acompanhando o ritmo dos passos de seja quem estiver me carregando agora... porque eu estou sendo carregada com certeza. Apesar de não identificar muita coisa no momento, eu consigo sentir a pressão de um ombro ossudo contra meu estômago.

Parece que eu estou indo e voltando, indo e voltando o tempo todo. O som dos passos começaram a ficar mais abafados agora, e eu mal conseguia distinguir as palavras que o homem... os homens? Alguém falava!

— Pritchard disse para levá-la direto para o quarto! — Alguém disse.

— Voldemort quer vê-la agora — rebateu. A voz parecia bem mais perto que a primeira, então deve ser quem está me carregando.

— Ela é perigosa agora! — A voz distante falou de novo. — A próxima reunião é amanhã à noite, ele nem vai desconfiar se a gente não contar nada.

Meu corpo pulou baixo algumas vezes ao ser jogado contra o colchão frio. Olhei em volta, tentando identificar onde eu estava, um quarto estreito e sem cor, extremamente frio e fechado. Quando a porta foi fechada e trancada, o quarto ficou escuro com um único feixe fraco de luz no topo da parede atrás de mim, aquele quarto tinha uma única janela redonda.

Estiquei o braço e senti o chão gelado sob os dedos e fiz força para me levantar, olhando em volta com dificuldade pela falta de iluminação. A porta se abriu bruscamente, a luz forte e repentina me cegando por um segundo sendo acompanhado por um baque suave e miados raivosos.

— Seu bicho! — O homem anunciou e bateu a porta com força.

Pisquei várias vezes para espantar as lágrimas e estalei os dedos para que Misty viesse até mim, o que ela - por sua vez - não tardou em fazer.

Acho que somos só nós duas por enquanto...

Me joguei para trás no colchão fino e espirrei algumas vezes por causa da poeira fina que levantou pelo impacto. Senti uma lágrima solitária rolar pela minha bochecha enquanto observava o teto escuro e, pouco a pouco, uma lágrima se tornou duas que se tornaram dezenas.

Quanto mais eu tentava ficar quieta e silenciar meu choro, mais a minha garganta doía e se fechava, tornando respirar uma função difícil. Pouco a pouco, minha têmpora também começava a latejar. Só queria fechar os olhos e me perder na escuridão para que a dor passasse - ou pelo menos a dor física.

Sempre estive familiarizada com a dor, esse era um sentimento com o qual eu sabia lidar bem pois o conhecia de cor. De qualquer forma, era a única coisa que me mantinha consciente, era algo físico ao qual eu poderia me apegar, algo que não fugia da minha zona de conforto apesar de tudo.

Nada parecia real, apenas um terrível pesadelo do qual eu não conseguia acordar. Meu corpo estava completamente entorpecido, eu não sentia nada e ainda assim tudo doía, tudo parecia errado e eu continuava chorando sem parar. Era como se eu estivesse vazando, esvaindo-me por entre os dedos, como se algo estivesse tentando sair a todo custo depois de ser aprisionado por tanto meu.

Me sentia quebrada, destruída.

Meu corpo parecia partido em milhares de fissuras que foram ignoradas até se tornarem rachaduras sem concerto e eu estava desaparecendo através delas.

Não sei em qual momento eu peguei no sono, mas despertei com os barulhos intensos de trovão. Abri os olhos lentamente, o quarto estava um pouco mais claro que horas atrás e levantei-me da cama devagar, desviando de Misty que estava encolhida no canto e me olhando curiosamente desde o momento em que eu acordei.

Autodestrutivo - Draco MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora