48. Lilith reouve à Samael

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Meu corpo ainda está fraco e dolorido e manchas de sombras escuras que cobrem toda a minha visão periférica, ainda assim, meu corpo é guiado corredor por corredor, movido por uma curiosidade dolorosa.

Depois que Voldemort saiu do porão esta noite, fui deixada para sangrar sozinha no chão de pedra frio e áspero. Eventualmente a ligação entre meu pescoço e ombro parou de sangrar, mesmo que tenha demorado o triplo do tempo por causa da Beladona. No momento em que meu corpo parou de formigar e eu consegui voltar a sentir minhas mãos e pernas, me levantei e caminhei devagar para o meu "quarto".

A mansão está completamente vazia hoje. Sei que está por causa do silêncio e escuridão que dominam o ambiente, o que fazia o barulho dos meus pés descalços contra o chão de madeira soarem mais altos do que o pretendido, ecoando pelos corredores e sendo absorvidos pelas paredes escuras. Tudo aqui era abafado e opressor.

Ainda me sinto fraca e preciso me encostar nas paredes para não cair a cada poucos passos. Eu pareço quase moribunda, sei que sim. A minha pele agora pálida e amarelada não se parecem em nada ao bronzeado dourado que ela sempre tinha antes, minhas bochechas já foram redondas e coradas, mas agora estavam fundas e sem vida e até meus olhos escuros não brilhavam mais como antes, na verdade, eles estavam opacos e envoltos por círculos fundos e escuros.

Eu não era nada além de um fantasma do que um dia já fui.

Olho para a porta de madeira escura que estou apoiado e tenho a sensação de já ter visto ela antes. Meus olhos varrem o corredor, percebendo que não estou nem perto de onde o meu quarto ficava, não sei como cheguei tão longe, mas foi como se um sussurro interno tivesse me trazido até aqui.

Segurei a maçaneta de prata e respirei fundo, tomando coragem para abrir a porta que estava, surpreendentemente, destrancada. Ao entrar, fui recepcionada com paredes decoradas de forma austera e fria, elas não tinham muitos detalhes, não tinham retratos, pôsteres e nenhuma cortina colorida cobria a enorme janela de vidro que iluminava o quarto. Ele era adornado com um ar sombrio que refletia os últimos meses da vida de Draco.

Tudo era mais vazio do que eu me lembrava, nem mesmo a câmera de fotos estava em cima da mesa de cabeceira como da outra vez, mas um detalhe chamou a minha atenção. Um desenho esmaecido de um sol, feito a mão, como se uma criança tivesse rabisco ele na parede.

A semelhança dos traços daquele desenho me fez sentir um aperto no peito, um eco de um passado perdido. Ao deslizar os dedos pelo contorno do sol, uma sensação familiar me invadiu. Lembranças fragmentadas, como peças de uma quebra cabeça desordenado faziam a minha cabeça latejar.

Uma garotinha chorando, os braços pequenos apertando com força a cintura de um menino. O rosto dele é um borrão, mas eu me lembro de olhos cerrados observando com preocupação.

— Eu... — a voz repentina de Draco quebrou o silêncio, sua voz era hesitante, como se estivesse perdido em sua mente — desenhei isso quando era criança. Eu refazia esse símbolo sempre que ele desbotava. Até que parei.

Não o ouvi entrar apesar do silêncio palpável. Me virei assustada e o encontrei de pé, parado perto da porta, encarando o mesmo desenho fixamente. Por um momento, éramos apenas sombras dos nossos antigos "eus", reconhecendo a dor no olhar um do outro, sem entender de onde ela vinha.

Até que ele começou a caminhar até mim, devagar, tentando disfarçar a própria vulnerabilidade. Engoli em seco, sentindo um peso esmagador em meu peito. Tentei me lembrar, mas minha cabeça doía, as memórias são curtas e nebulosas, como se tivessem sido apagadas ou bloqueadas. Vi Draco franzir a testa, ele também estava tentando entender o motivo pelo qual aquilo soa tão dolorosamente familiar.

Autodestrutivo - Draco MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora