Sweet Nightmare

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                                                       Wednesday


    A luz da primavera iluminava as pedras foscas das quais as paredes eram feitas.

    O sol agora permanecia quente em meio ao clima frio que sempre foi característico da escola de excluídos na qual eu me encontrava, deixando o sentimento de felicidade e dever cumprido florescer como as flores mais lindas do jardim que era a vida.

    O Quadrilátero tinha alunos e mais alunos sentados nas mesas, aproveitando o café da manhã de domingo, comendo e rindo uns com os outros. Eu não os julgava. Na verdade eles tinham motivos para estar felizes. Qualquer um ali tinha motivo para estar radiante.

    Enquanto isso, meu tradicional quádruplo gelado esquentava em minha mão enquanto eu divagava para qualquer lugar longe dali, sem sequer ter encostado na pequena quantidade de comida que eu havia pegado na mesa. Talvez fosse tolice sobreviver apenas com cafeína, já que aquela era minha segunda dose apenas naquela manhã, mas era a única coisa que conseguia me manter acordada depois de mais uma noite muito mal dormida.

    As olheiras de meu rosto e a falta de cor de minha boca eram disfarçadas pela maquiagem leve que eu sempre usava. Mas nem mesmo minha habilidade excepcional em manter as expressões neutras em qualquer situação minimamente estressante conseguiam esconder, de absolutamente ninguém, o quanto eu estava acabada. Pois minhas noites estavam lotadas de pesadelos.

    Nunca tive medo deles. Em nenhum único momento nesta ainda curta estadia no jogo da vida fui acometida por qualquer sentimento ruim quando tive pesadelos. Na verdade eu apreciava. Pois eu sempre estive do ponto de vista daquele que saboreava o medo nas entranhas da vítima. Gritos de terror, súplicas em meio a lágrimas, o cheiro característico de sangue sempre me foram extremamente agradáveis. Porém, não era por causa de pesadelos comuns como esses que eu perdia meu completo sono. Não eram barulhos macabros e risadas maquiavélicas que me faziam acordar em um supetão, completamente suada e com a respiração entrecortada. Mas sim a falta deles.

    O silêncio nunca me foi tão aterrorizante como era agora.

    Senti meus pelos se eriçarem contra uma brisa fria que cortou o Quadrilátero, como se respondesse a simples lembrança daquele que agora havia se tornado meu martírio.

...

    A escuridão me engolia, me levando cada vez mais fundo em seu completo vazio.

    Silêncio. Não havia nada ali. Eu não era absolutamente nada. Apenas uma sombra que um dia já foi uma garota vestida em tons de preto e branco. Mas algo ainda permanecia em meio ao silêncio caótico. Um azul tão puro e brilhante quanto as águas do mar aberto se colocava contra todo aquele nada. Eu sabia que aquela era minha casa. Sabia que aquele tom frio que transmitia tamanho calor me tiraria dali.

    Mas ele não tirou.

    O azul foi perdendo seu brilho, diminuindo de tamanho em minha frente, sem que eu pudesse mover um único músculo para impedir. Se eu tivesse um coração ali, ele certamente estaria galopando para alcançá-la. A luz. Mas até mesmo ela, tão pura quanto um anjo recém criado, inocente como uma criança que acabava de nascer, boa como ninguém nunca foi, desistiu do desastre iminente que eu era.

    Eu costumava ter um nome, mas eu já havia me esquecido dele. Eu costumava ser algo, que agora se encontrava tão perto, mas tão distante. Num poço sem esperança e muito menos qualquer tipo de sentimento, observei a luz ir embora lentamente, enquanto eu deixava que a escuridão e o vazio me consumissem para o resto da eternidade.

All of the Stars - WENCLAIRWhere stories live. Discover now