"We all need someone to stay..."

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                                                               Wednesday









    Paraíso.

    Era quente. Era confortável. Era um sonho.

    Eu estava ciente de que estava em casa. Realmente em casa. O tecido de meus cobertores quentes com textura não incômoda a minha pele pesava sobre meu corpo. E eu, que nunca sentia quase frio nenhum, estava tremendo.

    Não sabia dizer se era apenas minha normal reação biológica a baixas temperaturas ou se era o terror que eu me recusava a admitir que se passava em minha mente.

    Mas a pergunta que não parava de ecoar sobre a mórbida e fria alma de minha pessoa era: Por quê eu não morri? A morte estava literalmente ali, pronta para me levar em seu abraço gelado. Mas não levou. Lembro-me vagamente de ouvir que eu ainda tinha algo a fazer. Eu só não sabia dizer o que era.

    E então, recordando minha consciência, algo pegajoso e gelado residia em minhas têmporas, e minha memória se recordou de um abraço quente. De um calor extremamente familiar. O que sequer estivesse em minha testa foi trocado por dedos macios, e eu juro pelos sete infernos que eu involuntariamente soltei um suspiro de alívio juntamente com uma tosse seca. O suficiente para que a mão ficasse rígida contra minha pele, mas não se afastou.

    A cor vermelha se colocou em minha visão ainda embaçada, o que era estranho já que não havia nada ali com cores. Muito menos uma pessoa.

    Me concentrei em focar meus olhos nas cores que lentamente adquiriam certa definição, ao ponto de eu diferenciar a silhueta em um robe de seda preto. Um fitilho vermelho estava amarrado em seu pulso enquanto seus dedos tocavam minha pele.

    Assim que desfez aquele contato, pude observar as orbes negras e profundas que eu havia herdado, assim como os cabelos e a palidez, não tão extrema quanto a minha. Mortícia sorria para mim, um sorriso com uma mistura vasta de sentimentos, assim como o brilho de seus olhos pela manhã.

    — Olá, pequena. – ela disse. – Que bom que acordou.

    Eu não disse nada para responder, me vi incapaz daquilo. Eu estava ainda tentando processar como ela havia me encontrado no meio da floresta, já que nem mesmo eu que tinha cada centímetro daquele pedaço de terra gravado em minha mente conseguia achar o caminho de volta.

    — Tão parecida comigo fisicamente. – Mortícia disse enquanto despejava um conteúdo fumegante em uma caneca negra. – Mas tem a mesma personalidade teimosa de seu pai. O apreço por situações perigosas e mortais até mesmo para nossos níveis.

    Seus olhos encontraram os meus. Um brilho anormal estava neles, ou eu que provavelmente delirava de alguma forma.

    — Anda nos assustando com muita frequência, pequeno escorpião. Meu coração não é capaz de suportar vê-la toda vez perto do abraço da morte.

    — Não é como se você tivesse um. – eu disse. Minha voz não estava tão nítida, mas era entendível. E o sorriso retornado pela mulher em roupas pretas foi brilhante.

    — Suas primeiras palavras são um elogio a sua mãe? Me sinto lisonjeada. – ela gargalhou levemente enquanto preparava alguma coisa longe de minha visão.

    — Não é minha culpa na maior parte das vezes. – eu retornei ao assunto anterior enquanto ela se virava para mim com a caneca.

    — Eu sei, pequena tormenta. Aqui. – ela esticou a caneca em minha direção. – Tomou muita chuva ontem, acabou pegando uma pneumonia. Mas sabe das habilidades de sua avó. E é chá preto, seu favorito.

All of the Stars - WENCLAIRWhere stories live. Discover now