"And when I felt like I was an old cardigan, under someone's bed..."

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                                                                            Enid




    A porta do quarto de Wednesday foi fechada com um estrondo.

    Tudo passava muito devagar diante de meus olhos, tanto que fiquei estática na mesa, sozinha, tentando processar aquela interação caótica e tão pesada entre os Addams.

    Primeiramente, Wednesday estava estranha desde que acordou. Quando ela não desceu para o café da manhã, indaguei para a mesma se havia algo de errado, e ela me respondeu que estava tudo bem.

    Passou o resto do dia trancada no quarto, tocando. Eu sabia que ela tocava como forma de expressão. Sabia que aquela era uma de suas mais intensas formas de relaxamento. E sabia que o ombro dela estava provavelmente latejando, e sua cabeça doendo pelo barulho excessivo dos gritos de ambas as duas, na qual a audição de Wednesday era sensível, não tanto quanto a minha.

    Me vi passando o dia com a matriarca Addams, e pela primeira vez, me senti acolhida. O cuidado que Mortícia teve comigo desde o primeiro dia em que realmente nos conhecemos, no dia em que ela me aceitou na família dela com o maior amor que jamais recebi de quem deveria ter aquele papel, foi essencial para que eu criasse um vínculo especial com minha sogra.

    Então, quando minha garota berrou com a mãe, praticamente implorando com os olhos para que parasse de fingir que se importava com ela, minha cabeça entrou em conflito. Como eu podia acreditar que alguém que praticamente me adotou como filha poderia ser tão diferente com Wednesday?

    Mas minhas opiniões eram apenas minhas, e minhas conclusões não podiam ser premeditadas. Aquela relação não era minha para que eu achasse algo ou concluísse alguma coisa sem escutar os dois lados da história. E se eu quisesse cuidar de Wednesday, que eu sentia estar afundada em um desespero que ela com certeza negava para si mesma, eu tinha que entender os dois lados da moeda.

    Então saí da sala de jantar, à procura de Mortícia.

    Não foi muito difícil encontrá-la. Ela estava em seu lugar favorito da casa, sua estufa. A mulher elegantemente vestida de preto estava em frente a um pequeno jardim de dálias-negras, acariciando as flores com devoção. Aquelas eram as flores favoritas de Wednesday, e aquele era o jardim que ela mesma cultivava. Eu via as lágrimas caindo pelos olhos da matriarca Addams e caindo nas pétalas negras.

    — Mortícia? Desculpe incomodar. – eu me aproximei enquanto a mesma continuava sua admiração pelas pequenas flores.

    — Você não incomoda, pequena. – ela disse com a voz levemente embargada. – O que deseja?

    — Quero conversar sobre Wednesday. – respondi de forma leve. – Eu quero ajudar, mas pra isso eu preciso entender isso tudo.

    Ela acenou com a cabeça.

    — Claro, Enid. – ela respondeu.

    Eu percebia seu olhar para o cemitério Addams no fundo da casa. Não importava a verdade por trás daquilo, Wednesday havia exagerado e muito quando disse aquilo.

    — Wednesday não devia ter dito aquilo. Eu sinto muito, Mortícia. – eu disse.

    — Não peça desculpas, luz de primavera. – ela se sentou em um pequeno banco do lado de fora e eu a acompanhei. – Eu mereço cada palavra que foi dita naquela sala.

    Permaneci em silêncio, lhe dando a liberdade de dizer o que quisesse. Ela pareceu respirar antes de continuar.

    — Pubert era um menino sorridente. Ele sempre foi sozinho, mas sempre fazia companhia para mim. – ela começou. – E então um dia ele fez um amigo. Era o filho de nossos vizinhos. A amizade era saudável. Meu pequeno era feliz brincando com ele. O acolhi em nossa casa, e o recebi como um convidado merece ser recebido. Era um garoto adorável, ao contrário dos pais.

All of the Stars - WENCLAIRWhere stories live. Discover now