32

5.5K 528 128
                                    

"Jennie"

Insegurança.

Era uma palavra tão insignificante pra mim a um tempo atrás. O que era "insegurança"? Tirar uma nota baixa? Não me sair bem em uma prova ou alguma apresentação? Essas eram as minhas inseguranças idiotas, antes de conhecer Lalisa.

Depois que a conheci, coisas, pensamentos assim se apossaram da minha mente. Será que eu sou bonita o suficiente? Será que eu tenho classe o suficiente? Será que o meu corpo a agrada o suficiente? Será que ela olha para outras mulheres? Mulheres mais velhas? Mulheres mais ricas? O que eu tinha que a fazia ter tanto interesse? Será que ela se interessaria por outras adolescentes? Será que um dia ela perderia o interesse em mim? É claro que sim...

E eu era uma idiota, por me afobar tanto, por me cobrar tanto, céus, Lalisa traria a lua para mim caso eu pedisse, disso eu não tinha dúvidas. Mas por que.. por que eu não conseguia me sentir o suficiente? Eu era menos do que suficiente. Eu era apenas uma adolescente sem graça que por algum motivo havia despertado o interesse de uma mulher mais velha e com muito mais recursos do que eu. Isso era tão ridículo.

Meus olhos estavam fechados, minha mente se concentrava em não deixar minhas orbitas se encherem de lágrimas, apenas sentindo o movimento do carro, deixando minha cabeça contra a janela. Não sentia a sua proximidade, e como eu a queria próxima... como eu queria que ela me abraçasse, sussurrasse que tudo aquilo, que nós, poderíamos dar certo. E como daria certo? Como ela me apresentaria? "Olá, essa é a Jennie, minha aluna que agora é a minha namorada". Aquilo soaria no mínimo bizarro, aos ouvidos dos meus pais, meu amigos, seus amigos. E então minha mãe surtaria, meu pai a apoiaria, e ambos me mandariam para um internato de freiras para que eu virasse uma noviça. Adeus, Oxford, adeus, futuro consultório, adeus, tudo... adeus, Lalisa...

Eu tinha que dar adeus a ela...

Eu tinha que parar de ser paranóica.

- Hey... - ela chamou, fazendo com que eu abrisse os olhos, um pouco perdida, ainda estávamos em movimento, indicando que não havíamos chegado no nosso destino final. A encarei - Me desculpe... eu... não sei pelo o que estou te pedindo desculpas, mas por favor... não quero ficar assim com você, não na nossa viagem, aonde prometemos que seria a melhor viagem das nossas vidas.

- Por que... - eu comecei, respirando fundo o suficiente para não começar a chorar, mesmo que isso já era mais do que impossível, as lágrimas nos meus olhos já existiam - Por que eu tenho medo de te perder, Lisa? Eu sinto esse medo... por quê em algum momento irei perder você?

Lalisa se manteve calada conforme as minhas palavras saíam da mesma forma que as minhas lágrimas, a minha garganta queimava e apertava, eu sentia um pouco de falta de ar, sufocada naquele sentimento que comecei a sentir apenas depois de conhecê-la. E eu poderia facilmente colocar toda a culpa nela, sobre todas as minhas confusões, mas isso não seria justo, eu não seria justa, o que mais Lalisa queria era me ter. Por que eu não conseguia ser dela?

- Eu não tenho muito, Jennie - a mulher murmurou, um tanto quanto pensativa - Tudo o que eu tenho é material, eu tenho dinheiro, tenho uma casa maravilhosa, eu tenho o mundo aos meus pés. Mas depois que eu te conheci, entendi que isso, tudo o que eu tenho, tudo o que eu construí, não é absolutamente nada perto de você. Eu tive sim relacionamentos ao decorrer desses anos, sexos sem compromissos, namoros nada duradouros, mas nenhum desses casos me fizeram entender o que eu realmente preciso. E eu preciso de você. Eu não preciso de dinheiro, eu não preciso de uma casa linda, eu não preciso do mundo, eu preciso de você ao meu lado. Mas por favor, me entenda... como terei você, sendo que ainda está sobre um namoro? Você o ama, Jennie? Seja sincera comigo, apenas dessa vez.

- Não... eu não amo ele...

- Então por que? Por que ainda permanece com ele? O que eu preciso fazer, agora, nesse exato momento, para que você o deixe e fique comigo?

A lei do silêncio foi passada para mim dessa vez, assim como a rapidez dos meus olhos em fugirem dos seus. Nunca doendo tanto poder escutar um suspiro doloroso saindo dos seus lábios, junto a forma desconfortável na qual ela se remexia, quase que suplicando... implorando pelo o meu amor.

- Do que você tem medo, Jennie?

- De tudo... de todos...

- Isso é algo que... não é só você que tem medo. Eu também tenho! Acha que eu não pensei nas mil e uma possibilidade de como isso irá afetar o nosso círculo social? Mas... o que eu sinto por você, faz com que todos os meus medos se tornem uma adrenalina fodida e uma expectativa na qual... eu só terei, obtendo você...

- Eu não sou metade do que você merece, Lalisa...

- E o que eu mereço, Jennie?! - suplicou - O que é o suficiente pra mim se não for você? Me diga.

- Eu... não sei...

- Está vendo?! Nem você sabe! Por favor, não coloque e nem tire palavras da minha boca quando você não tiver ideia ou uma certeza ou pronta para debater. Nós não damos "certo" porque você não quer.

- Eu quero...

- Quer mesmo? As vezes eu duvido um pouco. Eu quero que se sinta bem comigo ao ponto de não precisar ter medo, que se sinta bem comigo ao ponto de segurar a minha mão no meio da rua, quero que se sinta bem comigo ao ponto de podermos ir a um parque ou ao cinema sem que fique olhando para os lados ou com a cabeça baixa. Isso é pedir demais? Eu só queria que... você parece de ter vergonha. Eu só queria que você fosse minha de verdade, e a cada dia que se passa, eu sinto que terei que esperar mais e mais, cada segundo mais. Ou talvez... você só não me ame da forma que eu te amo.

- É claro que eu amo...

- Então diga isso olhando nos meus olhos, princesa... por favor...

Eu levantei os meus olhos em direção aos seus, a encarei profundamente, havia marcas de um pouco de dor, um pouco de esperança, de que com a minha fala, com a minha declaração, pudéssemos vencer todo o universo de problemas que a nossa relação nos traria, era como se apenas três palavras, pudesse definir todo o nosso futuro. E que futuro? Tínhamos um futuro juntas? Dificilmente tínhamos... eu não disse, não tive coragem, não tive forças, e quando os seus olhos abaixaram ao entender que eu não diria, um pouco de mim morreu por dentro, um pouco de nós morreu em nossos corações.

- Eu não consigo... me desculpe...

- Você não consegue me amar, ou você não consegue confiar em mim?

- Eu amo e confio em você. Eu não confio no mundo...

Essas foram as últimas frases trocadas entre nós duas até a nossa chegada ao hotel. Lalisa entrou diretamente no banheiro, me deixando sobre o quarto sozinha, ainda esperei, e muito por ela, mas era como se ela evitasse a minha presença, e era completamente plausível o porque. Com isso, eu retirei aquele vestido, removi a minha maquiagem e procurei no fundo da minha mala um pijama quente e sem graça, me enfiando debaixo da coberta, com os olhos fechados, mas sem um pingo de sono, dormir não poderia ser tão fácil depois de tudo aquilo.

Alguns minutos que pareceram horas, pude escutar a porta do banheiro se abrindo, mantive meus olhos fechados, me encolhendo aos poucos sobre o edredom conforme sentia o colchão afundar ao meu lado, indicando que ela estava se deitando ao meu lado. Corpos imóveis e lesionados mentalmente deitados naquela cama, uma de costas para a outra, como estranhas dividindo o mesmo colchão e a mesma coberta, desconfortáveis com a presença uma da outra.

- Eu acho que estou cansada de amar alguém que não é meu.

- Você só não entende... minhas emoções estão aflorando... e elas estão me deixando louca, Lisa...

- Há tanta tensão entre nós, Jennie... ceda... eu apenas quero que você ceda...

- Eu quero... eu apenas quero ceder... - murmurei, finalmente criando coragem para me virar para ela, descobrindo que a muito, ela esperava pelo o meu rosto perto do seu.

- Juro por Deus que não me importo se serei perdoada... porque agora eu não tenho mais vergonha... eu estou gritando a plenos pulmões por você. Eu não tenho mais medo de encarar isso... eu preciso de você mais do que eu quero...

- E eu preciso de você mais do que eu queria...

...

Shameless (Jenlisa G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora