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Acho que nunca havia parado para perceber como a neve caía tão fortemente naquele mês, talvez dezembro fosse o mês nos quais era o mais corrido, natal e ano novo ao mesmo tempo, não tinha muito tempo para reparar em como as ruas estavam cobertas pela manta branca, gélida e fofa. Caminhei rapidamente assim que bati a porta do carro, o trancando automaticamente, suspirando em melhoria quando finalmente pude tirar o meu cachecol, minhas luvas, botas e todas as roupas pesadas que habitavam o meu corpo, agradecendo pelo o aquecedor estar sobre a temperatura certa, tão confortável ao ponto de me permitir andar apenas de meia pela casa.

Subi as escadas e me espreguicei, murmurei pelo o frio ao pisar no banheiro, mas não deixei a preguiça me vencer por mais de dois segundos, me aconchegando e me aninhando na ducha forte e quente, molhando os meus fios, ganhando massagens gratuitas dos jatos contra o meu couro cabeludo. Bocejei um pouco, o blusão largo foi a primeira coisa em que os meus olhos pousaram, eu o vesti, o perfume ainda era recente, fresco o suficiente para me fazê-lo inspirar mais de uma vez, apagando todas as luzes, escalando a grande montanha de cobertas, querendo que o sono me consumisse um pouco mais naquele dia, céus, como eu amava as sexta feiras.

Mas não pude negar e também não pude segurar o baixo riso que me sucedeu quando o braço manhoso se fez presente, contornando a minha cintura, me puxando para o mais perto possível, quase querendo se tornar uma só pela a tamanha necessidade de me ter por perto. Não poderia mentir que amava aquilo.

- Pensei que estivesse dormindo - sussurrei, ela reclamou, escondendo o seu rosto sobre a curva do meu pescoço, pedindo por meus carinhos em seus fios.

- Você sabe que eu não consigo dormir sem você...

- E quando é dia de plantão? Você passa a noite acordada? -  continuei rindo conforme recebia beijos suaves em minha nuca, subindo pelo o meu pescoço, passeando por meus ombros cobertos, ainda me causando todas as sensações que um dia pudera me causar.

- Sim, passo a noite inteira acordada e só pego no sono quando você chega.

- As vezes acho que o bebê da casa é você.

- Irá ficar tirando sarro da minha cara, senhora Manoban?

- Jamais.

- Ótimo - murmurou mais uma vez, descansando o peso do seu corpo contra o meu, segurando as minhas pernas para que ambas se abrissem, se encaixando entre elas, me fazendo rir e sorrir ao entender o que ela realmente queria, aceitando de bom grado.

Ou ao menos, dando menção de aceitar, já que nos encaramos juntamente ao escutar os murmúrios nada humorados vindo do quarto ao lado. Lalisa fechou os olhos e deu um estalo com a sua língua, rolando para o lado, me fazendo uma careta enquanto eu continuava gargalhando, olhando para o relógio e sabendo que estávamos sobre os horários certos e programados, bom, estava sendo assim nos últimos meses, acho que a fase de adaptação era a mais complicada porém eu tinha certeza que passaríamos sem graves problemas e berreiros.

- Eu faço a mamadeira - ela disse, beijando a minha nuca e me deixando ir em direção ao quarto, entrando calmamente, sem afobação e sem muitos movimentos bruscos, havia aprendido que fazer aquilo, não ajudaria muito e pra falar a verdade, atrapalharia ainda mais.

É, eu havia aprendido aquilo muito bem.

- Ei... ei, não... shh... está tudo bem, eu estou aqui, hey...

Aurora rapidamente procurou os meus olhos e a minha voz, e em tanto tempo, nunca pensei que me sentiria bem tendo alguém tão pequeno dependendo tanto da minha pessoa e dos meus passos. Céus, Aurora era tão parecida com Lalisa que dava um certo medo as vezes, talvez eu duvidasse da minha genética, será que ela era fraca? Ou será que a genética da minha esposa era forte o suficiente para fazer com que a nossa filha fosse extremamente parecida com ela? Eu nunca saberia responder, mas pelo menos em quesitos de personalidade, a nossa pequena garotinha havia herdado de bom grado a árvore genealógica da minha família, tão estressada, e tão mimada, que essa era a única certeza que eu tinha que ela era realmente a minha filha, e que havia saído de dentro de mim.

Shameless (Jenlisa G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora