Luzes! A resposta no fim do túnel

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Meus amigos, eis uma lição que poderá vos salvar em diversos momentos delicados ao longo da vida: se uma mulher chegar para você e falar "reparou em alguma coisa diferente?", saiba, só há uma resposta: "Sim!" Afinal, nenhuma mulher pergunta isso se não tiver, realmente, alguma coisa diferente. Garanto, essa pergunta prevê, em 100% dos casos, a resposta positiva. Portanto, diga sim, sim a plenos pulmões, sim sempre, sim com peso, força e determinação. SIM! Sim mesmo que você não saiba do que se trata. O "sim" lhe dará tempo para fazer uma busca visual rápida e tentar, pelo menos, chutar o que possa ser o tal diferente.


Sei que você aí, caro leitor, sabe do que estou falando. Tal situação remonta de nossos antepassados. Garanto que seu pai, seu irmão, o tio pinguço, seu bisavô índio ou um ente imigrante de alguma guerra já caiu nessa fatídica pergunta. É um carma tão característico dos homens que suspeito que Abraão, certo dia, passeando pelas paragens de Ur, encontrou sua mulher Sara, que perguntou: "Marido, notou alguma coisa de diferente?" E ele, por um minuto de vacilação, disse: "Não, mulher, o quê?" E foram meses de ladainha e de reprovações por parcos centímetros de cabelo, por um novo penteado hebreu ou por causa de luzes inspiradas nos desertos palestinos. O possível "não" do patriarca ecoa ainda hoje nas respostas de homens incautos, pegos desprevenidos e, como é fadado aos machos da espécie, absolutamente inertes a certos detalhes primordiais à sobrevivência. E eu fui um desses desavisados.


Minha namorada chegou lá em casa loira, linda, deslumbrante, encantadora, sublime - viu só, estou me esforçando, querida - e perguntou: "Reparou em alguma diferença?" E eu fraquejei. Foi um segundo, apenas um segundo de devaneio e respondi "Não". Ah, se eu pudesse voltar no tempo. Se eu pudesse voltar segundos e trocar o "não" pelo "sim". Se eu pudesse retroceder e espelhar-me no pai Abraão e em mais tantos desgraçados cuja vida viu-se fora dos trilhos depois dessa monossílaba. Pior, eu tentei justificar. Lembre-se, amigo, nunca, nunquinha da silva, tente justificar o não. Redima-se, desculpe-se, puna-se, flagele-se, mas não se justifique.


Quando ela disse, "Beto Pacheco (sim, nome e sobrenome), eu fiz luzes!" Eu vi que estava lascado. Só que justifiquei: "Homem não repara nessas coisas". Rá!, pra quê? Foi pior a emenda que o soneto. "Eu não fazia luzes havia nove meses, a raiz estava por aqui...", explicava ela - com toda razão, quero deixar registrado - e eu, naquela enxurrada de palavras, só consegui emitir um "É?" E então ela passou como um furacão sala adentro. Aí eu pergunto, como consertar? Procurei a resposta na Torá, no Velho Testamento, até no Alcorão, mas não achei. O que me leva a crer que pai Abraão simplesmente resolveu calar. Um sábio. Diferente de mim, que tentei argumentar dali, ajustar daqui e ia bem até que minha namorada pergunta para minha irmã se ela também não tinha notado nada de diferente e minha mana responde "percebi logo que você desceu do carro". Senti-me como Júlio César diante de Brutus.


Mas, tudo bem, entendo esse corporativismo diante da fraqueza masculina. Só que a minha salvação veio de onde menos se esperava. Saímos à noite, após uma tarde de pedidos de desculpa negados veementemente, com algumas amigas da minha namorada e logo que nos encontramos pergunto a elas "Vocês notaram alguma coisa de diferente nela?" e as amigas "Não!" Rapaz, que felicidade, que felicidade! Pois é, quem diria que a absolvição viria das testemunhas de acusação. Se bem que não adiantou muito, pois "elas não me veem há semanas, você me vê todo dia, estou tão loira que até eu estranho quando me olho no espelho, não é possível que você..." e lá foi o meu cérebro Homer Simpson imaginar um macaquinho tocando pratos enquanto ela tecia argumentos plausíveis e certeiros aos quais, mesmo não tendo dado muita atenção, concordo em gênero, número e grau.

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