EletricistazinhoZ

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Sabe aquele filme FormiguinhaZ? O personagem principal é um mero operário. Na verdade, na sociedade de castas do formigueiro, é o que o destino lhe reservou, mas ele é teimoso e faz de tudo para se tornar um soldado, mesmo não tendo "nascido para isso". Pois bem, eu também estou mais para operário, contudo, um operário bem mais mequetrefe, que não manja patavina de coisas "operáveis" do dia a dia. Não entendo de motor de carro, tenho sérias dificuldades em consertar chuveiro, não sei preparar argamassa, apanho do cortador de grama e por aí vai. O problema é que, pelo menos na minha vida, desgraça pouca é bobagem e, portanto, nunca vem desacompanhada.

Encontrava-me sentado em frente ao computador, tranquilo, pensando no que escrever, quando percebo alguém à porta. Era meu pai, com aquele imperioso ar de general quando está prestes a dar uma ordem.

– Filho, desligue o computador, temos uma missão a cumprir.

Missão?! "Lascou!", pensei na hora. E o futuro provou que eu estava certo. Virei para meu pai e perguntei:

– Que missão?

– Antes de qualquer coisa, tenha postura! Barriga pra dentro, peito pra fora e arranje uma lanterna. – Ele me deu aquela escovada.

– Sim, senhor. Também vai precisar de cantil e binóculos, senhor? – achei melhor me precaver para tudo.

– Não, mas vamos precisar de chave de fenda e fita isolante.

Em resumo: havia dois dias que a fiação da luz da cozinha estourara e ninguém tinha providenciado um eletricista. Um jogou para o outro que jogou para o um e todo mundo foi empurrando com a barriga. O problema é que achar o queijo dentro da geladeira (que também estava sem lâmpada) no escuro tornou-se uma tarefa impossível e a abstinência de queijo começava a deixar os nervos de todos à flor da pele.

Avisei meu amigo Thiago, que no momento conversava comigo pelo MSN, e pedi a ele que providenciasse reforços caso eu não reaparecesse em 20 minutos.

Enfim, com aliados previamente cientes da situação e de posse de todos os apetrechos necessários (que incluíam chave de fenda; alicate; fita isolante; escada; lanterna e uma marmita para a hora do intervalo da operação, que ninguém é de ferro), marchamos firmes, como pracinhas decididos a tomar Monte Castelo.

Contudo, achei melhor posicionar a minha mãe e o meu cachorro atrás de uma barricada, caso sofrêssemos contra-ataques ao desligarmos a energia. Foram momentos de tensão.

Liguei a lanterna e percebi que o fio havia oxidado e se rompido, talvez por causa da umidade. Com essa informação em mãos, traçamos o plano. Eu ficaria encarregado da lanterna, das ferramentas e de manter contato com o QG – formado por minha mãe e pelo meu cachorro, que se encontravam a uma distância segura. Meu pai executaria a tarefa mais delicada: arrancaria a parte rompida do fio, puxaria a extensão que estava para dentro da laje, isolaria e colocaria tudo nos devidos lugares.

Um dos grandes perigos desse tipo de intervenção é que, ao baixar a chave (ainda mais se não for a geral), nunca se tem certeza absoluta se a corrente foi realmente cortada. Porém, mesmo na incerteza, meu pai, assim que desligou o disjuntor interno, partiu sem pestanejar rumo à escada. "Que coragem!", pensei, com uma pitada indisfarçada de orgulho. Ele parou bem embaixo do buraco, onde há alguns dias havia uma lâmpada, avaliou a situação, respirou fundo, pegou o alicate e me estendeu, dizendo: – Toma, acho melhor você fazer isso.

Um líder nato!

De princípio, a ponta do fio rompido não queria se soltar. Foram alguns minutos de incessante luta: puxa daqui, empurra dali, afrouxa parafuso de lá, até que o inimigo decidiu entregar-se. Vibramos com o primeiro êxito.

Minha mãe correu para o portão e gritou para a vizinha: – Até agora, tudo bem! Porque começava a se formar uma multidão na porta de casa. Afinal, situações de perigo sempre chamam a atenção dos populares.

Limpamos a região atacada, isolamos os fios e parafusamos de volta. Era hora de religar a energia e ver se tudo tinha dado certo. Minha mãe correu lá para fora e pediu que todos fizessem silêncio. Uma gota de suor escorreu pela minha têmpora, desprendeu-se do meu rosto e se espatifaria no chão se eu, como Tom Cruise, em Missão Impossível, não a tivesse segurado a tempo (sinceramente, não sei por que fiz isso, mas achei que seria importante na hora). Meu pai posicionou-se em frente à chave e, milésimos de segundo antes de ele ligá-la, tive um mau pressentimento. Saí correndo e gritando "Fire in the hole!" ao mesmo tempo em que me jogava sobre minha mãe e meu cachorro, que, não sei por que, parecia não entender nada.

Então, meu pai religou a chave enquanto, num último ato de esperança, dizia: "Faça-se a luz" (tenho a sensação de que ele plagiou essa frase de alguém importante, mas agora não estou lembrado do nome da celebridade). E a luz se fez. Sensacional!

Ou seja, mais uma vez o tirânico mundo dos aparelhos e sistemas elétricos tentou subjugar os justos e foi derrotado.

P.S: só faltou hino patriótico e bandeira americana neste final, hein?

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