Um dia a casa cai

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Muito bem, vamos todos ficar calmos, não é momento para pânico. Não quero alarmá-los, mas algo está acontecendo. Estou sentado em frente ao computador e começo a ouvir um barulho muito, mas muito estranho. No início não identifiquei o que era. Começou baixinho, quase um zumbido, mas foi crescendo e crescendo e CRESCENDO! Agora parece que tem uma máquina de lavar roupa dentro da minha cabeça, não dessas modernas, mas daquelas da década de 80. Já tinha máquina de lavar roupa na década de 80? Não lembro. Acho que meus neurônios têm me abandonado, navegando embora nas correntezas da cerveja, com mais velocidade do que eu supunha.


O som vai e volta. E nos momentos de pico parece que a casa vai desabar. Gritei pro meu cachorro, que estava aqui ao meu lado quando tudo começou e me olhava com cara de que ia se borrar todo: "Vá chamar ajuda que a casa vai cair". E ele saiu correndo e se enfiou dentro da casinha dele. Covarde!


Primeiro eu pensei que o problema vinha de dentro do meu computador. O que não seria de se estranhar, afinal, faz dias que ele vem reunindo tropas inimigas em seu interior – ele deve ter mais vírus do que todos os que o Sr. Burns já acumulou em seu corpo ao longo de todas as temporadas dos Simpsons – e imaginei que era o momento do ataque final. Contudo, como eu já previa há algum tempo que isso poderia ocorrer, deixei à mão a minha espada do He-Man, que ganhei no Natal de 1987, e um elmo do inimigo do Falcon, do qual eu não lembro o nome e tenho trauma até hoje.


Mas também percebi que não vinha do computador. Abri a janela (sim, de elmo e espada do He-Man em punhos) na esperança de que o problema fosse lá fora. Negativo. Comecei a rodar pela casa, mas o barulho sumia à medida que eu me afastava. Não, o problema estava mesmo na área delimitada pelo quarto onde fica o computador. Foi neste instante que, além do ronco, comecei a ouvir batidas. BAM! BAM! BAM! Saí correndo e me juntei ao cachorro na casinha. Ele me chamou de covarde e me escorraçou de lá como quem chuta um cão sarnento. Mas ele não perde por esperar. Essa desfeita lhe custará o papel de Gato Guerreiro durante a batalha final.


O desespero (e não medo, afinal, não sou homem de ter medo, muito menos fobias. À exceção de cobras e de falar com mulher bonita. A fobia de cobras não é tão difícil e já estou resolvendo com análise) já me tomava conta e achei melhor avisar alguém caso acontecesse alguma coisa. Chamei minha amiga Cláudia no MSN e contei o que estava acontecendo. Ela tentou me acalmar e foi perguntando "Já viu se não é isso? Já olhou acolá?" e eu disse que já havia feito uma varredura na área e não identificara de onde vinha o som. Cheguei a pensar que poderia ser meu estômago, pois não havia almoçado ainda, ou se, sei lá, teria alguma nave alienígena estacionada por perto. Até a presença de um sapo gigante no quintal eu cogitei, mas a lógica me desmentiu (graças aos céus, pois, pensando nas cenas, acabo de descobrir que também tenho medo de OVNI'S e de sapos gigantes).



De repente, caiu a ficha: o encanamento. Sim, eram os canos de água que batiam como nunca antes. Encostei o ouvido na parede e obtive a confirmação. Ufa! Porém, como eles nunca haviam batido dessa maneira, a prudência mandava que eu ficasse em alerta. Daí a Cláu perguntou se eu tinha como ir dar uma olhada e eu disse que sim, só que teria de pegar uma escada, subir no telhado e tirar as telhas para ver os canos. E ela: "Então faça isso". E eu: "Se eu tenho preguiça até de sair de casa para ir ao bar tomar cerveja você acha que eu vou subir em escada e tirar telha a essa hora?" Que a casa caia! Vou morar com o cachorro.

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