O Natal vem vindo, vem vindo o Natal...

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Curitiba, 15 de dezembro, por volta de 8 horas da noite. Sigo para a casa de um amigo, onde haverá um churrasco, e preciso passar em um mercado para comprar ingredientes para o evento. As ruas estão lotadas de carros e pessoas, pois o clima está agradável e o Natal se aproxima – e as caixas registradoras não param. Entro sem problema no estacionamento do dito mercado, encontro os produtos que procuro, passo pelo caixa sem demora e sigo para o carro para ir embora... E é aí que começa a nossa história.


A saída do estacionamento fica em uma via de mão única que desemboca na Rua XV de Novembro, Centro da capital paranaense. Nesse dia em questão, devia estar acontecendo umas 49 apresentações de Natal ao mesmo tempo no entorno da Rua XV. Era coral de Natal, balé de Natal, teatro de Natal, telão de Natal, iluminação especial de Natal, ambulantes de Natal, espectadores de Natal, crianças sedentas por Natal e muitos, muitos, muitos carros repletos de famílias e mais famílias querendo ver toda essa coisa de Natal que se repete ano após ano.


Tudo bem, cada um na sua. Contudo, por que todas as coisas de Natal aconteciam naquele dia, na mesma hora e na mesma região? Pior: por que todos os carros do mundo resolveram se dirigir às coisas natalinas pela mesma rua? E justamente pela rua que eu devia pegar para me pirulitar dali?


Formou-se, então, uma fila considerável na saída do estacionamento e eu ainda dei a sorte de ter como pole position dessa fila uma velha (desculpe a forma pejorativa, mas fiquei com um pouco de raiva da mulher) que não era das pessoas mais ousadas com as quais já topei na vida. De onde eu estava parado com o carro, conseguia ver o carro da velha (foi mal de novo) e o semáforo, que abriu e fechou cinco vezes antes mesmo que a coroca conseguisse colocar o bólido dela na rua.


Mas, enfim, ela conseguiu. Ainda faltavam mais três carros à minha frente, mas todos foram relativamente rápidos, haja vista a dificuldade enfrentada por conta do congestionamento que se formava. E o semáforo fechou mais três vezes (oito ao todo, vai contando aí) até que eu conseguisse chegar à rua.


Já na rua, precisei pedir licença para alguns motoristas, pois eu estava na faixa da esquerda e precisava chegar à faixa da direita (e ainda havia uma faixa central) para rumar para o meu destino. Foram mais quatro aberturas e fechamento de semáforo nessa brincadeira sem que eu conseguisse sair daquela quadra. Ou seja, doze vezes a sequência "verde, amarelo e vermelho", mas finalmente eu havia me colocado em posição de fuga. Faltava só o semáforo abrir mais umas duas vezes e pronto, eu conseguiria virar à direita e escapar daquele inferno.


O semáforo abriu mais uma vez e, quando fechou, meu carro era o da frente, o líder, o maioral, o Vettel do momento. Nada me impediria de me mandar da Rua Infernal do Natal. Nada! Nada mais de congestionamento; nada mais de carros; nada mais de escapamentos; nada mais de buzinas; nada mais de criancinhas remelentas com capuzes vermelhos. Era chegada a hora da liberdade. Comecei a fazer contagem regressiva: 10, 9, 8, 7... e, de repente, escutei a sirene. Uooooouuu!


Quando o semáforo ficou verde, verdinho da cor da esperança, parou um batedor da polícia bem na minha frente, fechou a rua e eu fiquei ali, paradinho da silva.


Pensa numa raiva.


Foi neste momento que eu ouvi a música: "O Natal vem vindo, vem vindo o Natal; O Natal vem vindo, vem vindo o Natal...".


Aí você vai dizer "Que lindo! Diante da raiva, o Beto teve um contato imediato com o Espírito do Natal!".


Nada disso, caro leitor. O fato é que, não bastasse a meleca do Natal infernizar o trânsito e consequentemente o meu trajeto, a porcaria resolveu ir até onde eu estava (tal e qual a montanha do Maomé. Se bem que essa comparação é meio contraditória, eu sei). Foram oito caminhões da Coca-Cola passando na minha frente ("O Natal vem vindo, vem vindo o Natal...") e mais um carro com o Papai Noel jogando balinha, duas caminhonetes da Jovem Pan, um ônibus cheio de criancinhas e duendes e, no fim da fila, outro carro com mais um Papai Noel (sim, dois barbudos), mas algo me diz que um deles era falso.


Nesse ínterim, o semáforo abriu e fechou mais quatro vezes (até já perdi a conta) e só então consegui me livrar do Natal.


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