A porta dos desesperados

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Caríssimas leitoras, sabem qual é a grande frustração dos homens? Por acaso vocês imaginam qual é a circunstância que nos faz sofrer pelo simples fato de ser sem solução? Situação essa com a qual nos deparamos, mais cedo ou mais tarde, sem conseguir – por mais que tentemos – aprender como se faz? Pois vou revelar agora o maior desapontamento do mundo masculino: é quando, na hora do rala-e-rola, do vamos ver, da porca torcer o rabo, de afogar o ganso, ou seja, do sexo, não conseguimos abrir, de primeira, o sutiã.


Gente, estou falando sério. O negócio lá, pegando fogo, e você se depara com um mecanismo complicadíssimo que foi feito justamente para te enlouquecer. O troço é tão engenhoso de se abrir, mas tão engenhoso, que mais parece os enigmas medievais do "Nome da Rosa", do Umberto Eco. Um labirinto. Um cadeado com segredo. Uma charada feita para nos fazer de idiotas a cada tentativa.


Eu queria saber quem foi a filha-da-mãe que bolou essa trama diabólica. Sim, porque certamente foi uma mulher. E isso fica evidente por dois motivos.


1º: só uma mulher teria a pachorra, a crueldade, a maquiavélica paciência para elaborar o ferrolho do sutiã de tal forma a nos atormentar para todo sempre, geração após geração;


2º: nenhum homem conseguiria algo tão inteligente.


Inteligente e simples, e é aí que mora o perigo. Aí é que está a genialidade – dos infernos! – da coisa, pois, por parecer tão óbvio, não nos preocupamos em estudar seu mecanismo. Achamos, em nossa soberba atitude de supremacia, que iremos tirar de letra quando chegar a hora; porém, na-na-ni-na-não, ledo engano. O danado fica lá, travado, imóvel, sem dar uma brechinha. É o avesso do enigma da Esfinge.


Ah, confesso, eu seria tão feliz se soubesse sacar um sutiã de primeira. Veja nos filmes como é. O rapaz chega, abre a blusa e, voilà, o sutiã da moça já era. Tudo tão rápido que chega a ser desconcertante. Essa excelência cinematográfica de arrancar um sutiã de prima, num piscar de olhos, representa o ápice da sedução. E é por isso que só vemos tal coisa no cinema, oras! É tudo uma falácia. Aposto que o sutiã é cenográfico. Com um de verdade isso seria impossível. Sem contar que na vida real, depois de tamanha demonstração de habilidade, não precisaríamos nem mais do artifício das preliminares (é brincadeirinha, meninas, brincadeirinha!).


No mundo da realidade – onde se anda de ônibus, o revólver tem balas finitas e o Sarney foi presidente do Senado – a gente se enrola todo. Tenta demonstrar tranquilidade, "ela não vai perceber que o sutiã me deixa nervoso... não vai perceber!" Finge habilidade, controle, domínio, mas é só chegar perto daqueles aramezinhos que fecham o sutiã para desandar a maionese, para nos sentirmos na Porta dos Desesperados. Só falta entrar o Sérgio Mallandro no quarto gritando: "VOCÊ TÁ DESESPERADO? OLHA O TUBARÃO! NADA! ENTÃO GRITA!" AAAAAAAAAHHHHHHH!


Que sufoco, viu? Pior é a cena. Fica a moça ali, esperando, sem saber o que fazer, sem saber o que falar, e o homem abraçado a ela numa brava luta contra a meleca do sutiã. E desse jeito, sem ver o que se está tateando, fica muito mais difícil. Contudo, não podemos assumir logo de cara o despreparo. Só quando ela pergunta, "Quer uma ajudinha aí?", é que partimos para o segundo round: "Não, imagina, é que desse tipo de engate eu nunca tinha visto".


Já arrancando os cabelos, abrimos mão de nossa credibilidade e decidimos tentar soltar o sutiã dando um auxílio visual às mãos. Mesmo assim, é um parto para conseguir. Todo o repertório de piadinhas já se esgotou e você lá, na lida. Até que soa o gongo, a moça se cansa e resolve abrir ela mesma. A habilidade dela é tamanha que chega a ser uma afronta. Só falta ela falar "Quer me ver fazer de novo, só com a mão esquerda agora?"


Ao longo desses séculos buscamos com afinco criar algo tão complicado para contra-atacar as mulheres, mas sem sucesso. Acredito que elas tenham encontrado a arma perfeita para nos atormentar e temo que jamais consigamos nos equiparar a tamanha tecnologia. Todavia, se não podemos vencer a guerra, o negócio é continuar com a guerrilha. Portanto, mantenham as tampas das patentes erguidas, meus camaradas, e tratem de continuar pesquisando – um dia descobriremos o segredo.

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