Coadjuvantes

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Ser coadjuvante. Com você isso também acontecia? Eu sempre era o coadjuvante nas brincadeiras. Sempre! Quando criança, eu, minha irmã e meus primos éramos inseparáveis e todos os jogos, brinquedos, invenções, histórias eram encenados por nós quatro juntos. O problema é que eu era o terceiro na escala hierárquica, por assim dizer. O líder sempre foi meu primo e, portanto, ele sempre era o "chefe".


Tinha carro na brincadeira? Lá ia o Beto para o banco do passageiro. Polícia e ladrão? Sempre fui o ladrão - e sempre acabei preso. Quinteto de super-heróis japoneses? Rá, adivinha quem era o Change Qualquer-Coisa? Nunca, nunquinha, fui o Change Dragon. Pensa num troço frustrante. Ser o Change Dragon era como ser, para os mais novos, o Power Ranger Vermelho (que não sei se tem nome, mas é quem manda e isso que importa). Já para os mais antigos, ser o Change Dragon era como ser o General Eisenhower (acho que a comparação não cabe, mas agora já era). E meu primo sempre, de maneira ditatorial, foi o Change Dragon. Triste.


Uma vez brincamos de Liga da Justiça (Super-Homem, Batman, Mulher Maravilha e afins) só que, não sei por que, decidimos optar todos por personagens secundários. Meu primo e minha prima foram os Super Gêmeos (ativar!) e sabe quem sobrou pra mim? O Gleek. Pois é, fui o coadjuvante dos coadjuvantes. Já minha irmã, se não me engano, foi a Formiga Atômica. Tadinha.


Até quando a brincadeira fugia ao controle dos meninos eu me estrepava. Lembro que minha prima era fissurada na Barbie (creio que estou fazendo uma revelação que ela não gostará muito, mas enfim). Ela tinha a Barbie, o namorado da Barbie, o carro da Barbie, os acessórios da Barbie, vestidos da Barbie e uma mansão da Barbie. Sério mesmo, tinha até elevador no palacete de brinquedo. E sempre que íamos à casa da minha prima - ou seja, território hostil para meninos - acabávamos obrigados a brincar de Barbie. Então, ficava assim: minha prima era a Barbie, a minha irmã a amiga da Barbie, o meu primo o namorado da Barbie e eu era um robô que soltava raios... Pois é, imagino o que você está pensando.



Mas pelo menos eu era dedicado às histórias, sabia trabalhar em equipe. Não lembro exatamente como eu conseguia encaixar o diabo do robô no enredo da Barbie, mas o fato é que no fim das contas tinha lógica. E, pensando bem, acabo de escrever uma crônica que mistura Barbie, robô assassino, Esquadrão Relâmpago Changeman e General Eisenhower... tudo é possível.

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