Cadê o neném? Sumiu!

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O Natal chega, as ruas se iluminam, os corações ficam mais caridosos, o clima mais ameno... Exceto na Faixa de Gaza.


Uma época do ano em que tudo fica mais enfeitado, as casas piscam, não é raro encontrar Papai Noel distribuindo balinhas na rua ou recebendo criancinhas em seu trono nos shoppings espalhados pela cidade. Aliás, isso é algo meio contraditório - pelo menos para as criancinhas que creem no bom velhinho -, afinal, como explicar para um pimpolho, um tiquinho mais esperto, 16 papais noéis "atendendo" ao mesmo tempo? Pior que isso só a história da empresa que contratou dois papais noéis para o mesmo evento infantil. Juro que é a mais pura verdade; porém, conto o milagre, mas não revelo o santo.


Às vésperas do Natal, certa vez, fui à casa de uma tia muito natalina. Aliás, toda a minha família é muito natalina e, evidentemente, muito católica. Era aniversário do meu primo e faríamos um lanche com ele. Logo que entrei já reparei no presépio postado ao lado da porta. Desde quando meu avô era vivo os presépios da minha família são feitos com muito carinho e recheados de detalhes. Tem graminha, laguinho, bichinhos, estrela, arvorezinha de Natal, pastores e, obviamente, os reis magos e a trinca que representa a família mais famosa do mundo (talvez John Lennon contestasse, mas esta crônica é sobre outra coisa): José, Maria e Jesus.


Quando éramos pequenos, eu, meus irmãos e primos, saíamos toda noite de 24 de dezembro para procurar Papai Noel. Obviamente era um pretexto para nos tirar de casa. Assim, enquanto uma de nossas tias dava voltas e mais voltas conosco pela vizinhança falando "olha lá, será que é ele..." ou "eu vi, eu vi... bem ali, atrás daquele telhado", os demais tios e tias colocavam os presentes, que estavam escondidos nos porta-malas dos carros, debaixo da árvore. Quando voltávamos, a primeira coisa que percebia era que as luzes haviam se apagado e a sala estava parcamente iluminada pela árvore de Natal. Então, surpresa! Lá estavam todos os presentes "trazidos pelo Papai Noel".


Voltando ao presépio da minha tia, comecei a olhar os detalhes. Estava muito bem montado e tal, mas logo me incomodou uma coisa e, chato e curioso que sou, resolvi perguntar:


- Por que é que esses veadinhos estão no telhado? Como é que eles foram para lá?


Falava do telhado do estábulo que cobria a manjedoura. Minha tia, então, rindo da minha, digamos, besta pergunta, respondeu:


- Eles chegaram lá voando, pois não são veadinhos, são as renas do Papai Noel.

- Aaaaah bom... - Concluí logo, sem entrar no mérito histórico e de ordem cronológica no que se refere a Papai Noel e Jesus.

Depois desse breve diálogo, o papo sobre presépios veio à tona. Outra tia minha disse:

- Tem gente que só coloca o menino Jesus na manjedoura no dia 25, pois é só quando ele nasce...


Outra emendou:

- E tem quem, além de não colocar o menino Jesus antes, também evite colocar os três reis magos. Afinal, eles só chegam ao local depois do nascimento da criança...


E eu ali, pensando que, se assim fosse, o presépio estaria mais para as fazendinhas que eu montava na minha infância no quintal de casa do que para símbolo natalino. Foi aí que eu resolvi perguntar para a minha tia se ela colocava o menino Jesus antes ou só no dia 25. E ela disse que coloca antes, que quando monta o presépio já o deixa completo. Olhei para dentro do estábulo e, realmente, lá estava o menino Jesus. Porém, era todo dourado, completamente diferente de todas as outras peças do presépio. E aí eu fiz exatamente isso que você, caríssimo leitor, está pensando... Perguntei:


- Por que é que o menino Jesus é diferente das demais peças do presépio?


E minha tia respondeu, singelamente:

- Porque quando eu comprei o presépio, na Casa China, ele veio sem Jesus...


Sem Jesus?! Foi isso mesmo que ouvi? Sem Jes... Não pode ser!


Afinal, que falta faria um Jesus num presépio, não é mesmo?! Aliás, será que na China tem Jesus? Mais tarde olhei bem para o menino Jesus que minha tia colocou no lugar e percebi que ele parecia mais com um Buda. Vai ver, no fim das contas, Pink, tudo não passa de um plano maquiavélico dos chineses para conquistar o mundo. Ou melhor: garanto que é uma estratégia de vendas, como o trato entre a indústria de brinquedos com a de baterias, que só vendem carrinhos de controle remoto sem as pilhas; ou as criadoras de jogos para PC, que bolam o jogo, nos viciam e só mais tarde colocam as expansões - que são a parte realmente divertida da coisa - à venda.



Agora, por Deus (com o perdão do trocadilho) que não me contive de tanto rir na hora. Como diria Macaco Simão, foi muito melhor que Dias Gomes. Já estou até pensando em montar uma lojinha, ou site na internet, só para vender jesus-estepe de presépio. Vou ganhar rios.

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