CAPÍTULO 6

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         — Ai, minha barriga!

        — Para de reclamar! Ninguém mandou você se entupir de torta depois de repetir o jantar.

        — Não se preocupe Christian, vou te trazer um antiácido e logo isso vai passar. Mas você deveria começar a comer menos. Aonde vai parar tanta comida?

           — Ninguém sabe, mas há muitas teorias. — Marisa respondeu passando por eles e sentando em um dos sofás da sala de estar.

        — Obrigado Dorothy, você é um anjo!

        Ela descartou o elogio dele com um aceno de mão e saiu da sala para buscar o remédio.

        — Não me olhe assim! Você sabe como eu aprecio boa comida. E além do mais, a comida das cidades do interior sempre tem um tempero especial que te pega pelo estômago.

        — Eu vou fingir que acredito nisso. — declarou Marisa dando batidinhas na barriga do irmão quando Dorothy retornou.

        — Aqui está. Tome duas colheres e quando fizer efeito se sentirá como novo. Precisam de mais alguma coisa?

        — Não Dorothy, obrigado!

        — Nesse caso então boa noite para vocês. O café da manhã será servido às 8h não se atrasem.

       — Boa noite! — os irmãos responderam juntos ao passo que a senhora deixava a sala de estar.

       Christian tomou as duas colheres do remédio e fez caretas e som de ânsia de vômito.

       — Nem pense nisso, Christian Ramon! — falou afastando-se de perto dele. — Se você vomitar em vou te sufocar com essa almofada.

    — Isso tem um gosto horrível! — ele colocou o remédio na mesa de centro e levantando.

    — Remédios não foram feitos para terem gosto bom! Aonde você vai?

    — Eu preciso beber água! Esse gosto nunca mais vai sair da minha língua.

    Marisa ria do desespero do irmão para chegar até a cozinha enquanto o seguia de perto.

    — Quem sabe agora você aprende a não comer mais do que a barriga!

    Christian ignorou a irmã ao mesmo tempo em que tomava de uma vez um copo de limonada que encontrou na geladeira.

    — Bem melhor! Acho que devemos nos recolher também esse dia foi longo.

    Deixando o copo na pia eles saíram do cômodo depois de apagar a luz. Seguiram pelo corredor que tinha uma iluminação baixa graças às arandelas espalhadas em pontos estratégicos, como na escada facilitando a visão durante a noite. Embora originalmente os quartos dos membros da família sejam no terceiro andar e o segundo andar sendo destinado aos hóspedes, os irmãos preferiram se instalar no segundo andar que também oferecia excelentes quartos, apesar da insistência tanto de Dorothy como de Eloise. Os dois seguiram pelo corredor que levava a ala leste como era chamada. Os quartos escolhidos ficavam um de frente ao outro.

    — Buenas noches, hermana pequeña! — disse Christian abraçando e beijando o topo da cabeça de Marisa.

    — Buenas noches! Nos vemos por la mañana.

    Os dois se afastaram e cada um entrou em seu respectivo quarto.

***

    Após passar algumas horas deitada Marisa não conseguia dormir. Isso sempre acontecia quando dormia fora de casa, o ambiente novo e o colchão era sempre um problema. A enorme cama dossel de carvalho entalhado e o confortável colchão com certeza proporcionaria uma boa noite de sono, mas no momento o sono era a última coisa que passava por sua cabeça. Sua mente estava agitada demais para ficar parada. Cansada de virar de um lado para o outro ela resolveu levantar e abrir a pesada cortina de veludo vermelho com detalhes em dourados para olhar o céu.

    Ao abrir as portas francesas ela sentiu o ar fresco noturno, que foi muito bem recebido. Ainda que parcialmente encoberto pelas nuvens, ainda sim em certos pontos as estrelas estavam visíveis. A lua iluminava os jardins deixando a noite menos escura. Saindo na sacada, Marisa resolveu sentar, olhar as estrelas e pensar, talvez elas tivessem uma luz a compartilhar.

MEMÓRIAS QUE O TEMPO NÃO APAGAOnde histórias criam vida. Descubra agora