CAPÍTULO 15.1

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        Às sete horas da manhã de segunda-feira Christian já estava de pé começando ospreparativos para o dia, barbeando-se e tomando um banho relaxante. Apesar de ter dormido tarde na noite anterior, a ansiedade não o deixou dormir por mais tempo. Naquele dia ele começaria a assumir suas responsabilidades no Hotel & Resort Sinclair. Terminando o nó da gravata ele olhou-se no espelho gostando do que via. O terno preto que usava assim como todos no seu armário era feito sob medida. A gola era estreita e lapela meio aberta deixando em evidência a camisa branca e a gravata verde listrada, seus ombros largos eram bem marcados. A cintura era acentuada na frente e folgada nas costas dando mobilidade, com o blazer ligeiramente mais alongado. Ajeitando seu lenço no bolso e dando o toque final ele pegou sua maleta e deixou o quarto.

***

      — Bom dia! — Christian disse ao entrar na cozinha e encontrar a senhora Taylor atarefada com os preparativos do café da manhã.      A senhora que tinha sido contratada por Dorothy como cozinheira trabalhava durante a semana e chegava sempre cedo.     

— Bom dia! — ela olhou para o relógio de parede. — Porque está de pé tão cedo?     

— Não consegui mais dormir. — ele deu de ombros.   

  — Tem café fresco no bule. — ela apontou o objeto. — É só o que temos pronto no momento.     Ele andou até o armário pegando uma caneca e se servindo.    

— Não se preocupe com isso. Vou aproveitar que ainda é cedo e vou terminar de revisar alguns documentos. Estarei no escritório se precisar de mim. — ele disse saindo da cozinha.

***

     — E então preparado para o primeiro dia? — Marisa perguntou ao irmão. Eles estavam sentados à mesa terminando o café da manhã. 

   — Como nunca estive antes. E você, o que vai fazer o dia todo?

   — Vou me encontrar com a Chloé. Ela quer me mostrar os novos designers em que andou trabalhando. E depois veremos. — ela mexeu o último pedaço de waffle na calda antes de comer.   

— Bom, eu tenho que ir. — Christian empurrou a cadeira para trás e levantou.   — Não é nada bom o chefe chegar atrasado no seu primeiro dia.   

— Boa sorte!  

 — Obrigado! Algo me diz que eu vou precisar. — ele a beijou na testa e se retirou.

***

    Christian estacionou seu Cadillac Eldorado Brougham 1957 azul metálico e prata em uma das vagas de funcionários. Descendo do carro, ajeitou o paletó fechando os botões, pegando sua maleta e chapéu seguindo para a entrada do hotel. Enfim conheceria o lugar por dentro.Comprada por Andreas R. Johansson II no início dos anos de 1920 do último descendente vivo de Edmund Sinclair. A casa passou por uma enorme reforma e restauração nos anos seguintes, já que sem ter condições financeiras, a manutenção da propriedade se tornou inviável para os antigos donos. Como consequência dos anos de abandono algumas partes se tornaram inabitáveis e muito de sua arquitetura original se perdeu. A antiga mansão de arquitetura Tudor de quatro andares pertenceu à família Sinclair por mais de dois séculos. Sua construção demorou cinco anos, sendo iniciada em 1703 e concluída em 1708.       Inaugurada como hotel na primavera de 1936 rapidamente tornou-se a principal atração da cidade e o melhor hotel da região. O resort foi construído quinze anos depois seguindo o mesmo estilo arquitetônico.      Analisando o edifício, Christian gostava do que via.     A arquitetura Tudor era sem dúvidas uma de suas favoritas. As paredes de estilo enxaimel com as vigas de madeira escura em posições horizontais, verticais e inclinadas preenchidas com tijolos vermelhos conferiam beleza e estilo único. Os arcos Tudor cercavam a porta e as janelas oriel, as janelas de sacada envidraçadas eram apoiadas por três mísulas cada. As empenas e o telhado acentuado ajudavam a garantir um melhor escoamento de água. Um dos principais problemas durante a reforma.     Subindo a escada da varanda, Christian dirigiu-se a porta dupla de madeira maciça com ornamentos e molduras esculpidas, vidros e grade de ferro.

***

       Por dentro a decoração vitoriana era visível em cada detalhe, desde os móveis aos objetos que compunham cada ambiente. Os tons de cobre, vermelho, marrom e dourado passavam a ideia de luxo e riqueza. Saudando os recém chegados na entrada, o grande lustre de cristais pendia do terceiro ao primeiro andar. Nos mezaninos, alguns hóspedes circulavam descendo as escadas deixando o hotel naquela manhã. O chão de mármore Carrara usado para substituir o antigo piso de madeira dava ao ambiente um aspecto de nobreza. Depois de observar e absorver cada informação do ambiente, Christian caminhou para a pequena recepção à direita.

         — Bom dia, senhor! Em que posso ajudá-lo? — saudou a recepcionista com um sorriso no rosto.   Retirando os óculos escuros e colocando-o no bolso interno do paletó ele se virou para a recepcionista.   

— Bom dia! — respondeu à saudação e olhou para o relógio no pulso. — Eu estou procurando a senhora Eloise Blackwell.  

 — O senhor tem hora marcada?   

— Sim.  

 — Se o senhor puder aguardar vou verificar se ela se encontra no momento. — a funcionária falou se afastando e entrando em uma porta que ficava atrás do balcão que ele sabia ser a gerência.

***

    Christian já esperava a quinze minutos ao lado do balcão de recepção quando foi abordado por um desconhecido.    

    — Com licença!   

— Pois, não? — ele falou olhando para o homem parado à sua frente.   

     — Sou o gerente de hotel e fui informado de que o senhor está à procura da senhora Blackwell? — o homem o avaliava da cabeça aos pés.    Christian ergueu-se em toda a sua altura e encarou o homem nos olhos.    

     — Sim. Eu deveria encontrá-la aqui essa manhã às 9h30.    

      — Infelizmente a senhora Blackwell não se encontra. E talvez nem venha hoje. Sua secretária me informou que talvez ela nem compareça ao hotel pelo resto da semana. — falou o homem com um falso sorriso cordial. — Como administradora do hotel e primeira-dama ela é uma mulher muito ocupada e seu tempo é muito valioso. Se o senhor quiser deixar seu nome e algum recado, ficarei feliz em lhe informar que o senhor esteve aqui. — não passou despercebido por Christian que o homem baixinho e calvo nem ao menos perguntou seu nome ou disse o dele.   

       Christian sabia que o homem estava mentindo e que se ele deixasse qualquer tipo de recado ele nunca chegaria ao seu destino. E que aquela era a resposta padrão dada a todos os que eram considerados indesejados e inoportunos. Antes de sair de casa Eloise tinha lhe informado que se atrasaria um pouco, porque passaria na prefeitura antes de encontrá-lo no hotel. E mesmo sabendo disso ele resolveu manter o horário combinado anteriormente para começar a explorar o hotel e fazer uma pré-avaliação dos funcionários.    

      — Entendo. — ele endureceu a postura olhando o nome do gerente gravado no crachá de identificação dos funcionários. — Em todo caso vou continuar esperando, já que o senhor não tem certeza de que ela não virá hoje. — ele resolveu fazer-se de desentendido. — Além disso, tenho certeza de que a senhora Blackwell não se esqueceria de seus compromissos. Enquanto eu espero vou esperá-la no restaurante. E ficaria imensamente grato se alguém me informasse sobre sua chegada. — falou se afastando.    

    — Espere. O senhor não pode fazer isso. — o homem falou entrando novamente na frente dele.   — As dependências do hotel são apenas para os hóspedes.     

   — Compreendo. — Christian sabia que o homem estava mentindo. — Então esperarei confortavelmente aqui. — ele apontou para as poltronas dispostas no saguão.    

     — O senhor não pode fazer isso. — o homem o seguiu tentando não chamar a atenção dos hóspedes que circulavam pelo local.    

     Cansado daquilo, Christian resolveu encerrar a questão.  

       — Sim, eu posso e irei senhor Patterson. — disse abrindo os botões do paletó e se ajeitando confortavelmente na poltrona pegou o jornal da manhã que havia na mesinha ao lado, abrindo-o e ignorando o homem. — A propósito eu não estou com pressa. Posso esperar o dia todo. O gerente estava furioso, mas para não causar um escândalo e chamar a atenção dos hóspedes resolveu deixar Christian em paz por hora.


MEMÓRIAS QUE O TEMPO NÃO APAGAOnde histórias criam vida. Descubra agora