CAPÍTULO 12

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     Alexander tirava fotos do jardim enquanto Adam andava silenciosamente ao seu lado. Não passou despercebido por ele que a cada novo canteiro que visitavam o amigo olhava para os lados. Ele preferiu não interrogá-lo ainda, pois preferia terminar logo as fotos da manhã e aproveitar o festival. Depois de registrar o canteiro multicolorido de frésias eles se dirigiram para o canteiro de rosas cor de rosa, mais a frente à direita era o canteiro das rosa vermelhas. Assim que começou a fotografar uma brisa trouxe até Alexander um perfume de baunilha. Sem ligar ele continuou seu trabalho até que novamente o cheiro de baunilha invadiu seu olfato. Olhando para os lados e não vendo Adam resolveu checar de onde vinha o doce aroma. Ao se aproximar das rosas vermelhas o cheiro se tornou mais forte e intenso. E foi quando ele descobriu a fonte.

     Inclinada sobre uma das rosas uma jovem de olhos fechados e com um leve sorriso nos lábios apreciava o aroma da flor. Uma mecha solta de seu cabelo tocava as pétalas como se acariciasse a flor. Ela nem ao menos havia percebido sua presença. Alexander precisava eternizar aquela imagem e o que era melhor do que uma fotografia. O disparo da câmera alertou a jovem para a sua presença. Ela levantou a cabeça procurando a fonte do ruído e olhou diretamente para ele.

***

     O barulho que chegou aos seus ouvidos despertou Marisa para o lugar onde se encontrava. Procurando a fonte do ruído encontrou um homem que jogava os compridos fios rebeldes do cabelo loiro que caíam na testa para trás com uma mão e na outra segurava uma câmera.

    — Desculpe-me!Não quis te assustar. — ele deu um sorriso amigável. — Eu trabalho para o jornal Daily Weekly como fotógrafo. E estou registrando o festival. — ele levantou a câmera. — Incomoda-se se eu tirar algumas fotos?

     Marisa notou que ele tinha a voz levemente rouca e suave com um toque de diversão. E um sorriso de menino travesso.

    — Fique à vontade. — disse ela se afastando.

    — Espere! — ele chamou se aproximando. — Eu gostaria de tirar uma foto sua com as rosas.

    — Eu não sou modelo. E pelo que parece você já fez isso. — ela olhou para a mão dele que segurava a máquina fotográfica.

    — Desculpe mesmo por isso. — ele sorriu abertamente.

     Marisa estreitou os olhos para o desconhecido.

   — Você não me parece nem um pouco arrependido.

   — Em minha defesa. Apenas digo que capturei a mais bela imagem do dia.

     Antes que pudesse responder a cantada de Alexander, eles foram interrompidos por uma risada feminina acompanhada de uma risada masculina. Virando a cabeça para o lado Marisa avistou Chloé sentada no banco mais a frente acompanhada de um homem que lhe entregava uma rosa branca que só poderia ter sido recém colhida do canteiro atrás deles.

***

     Curioso para saber mais sobre a misteriosa desconhecida Alexander deu a volta e se aproximou ficando ao seu lado encontrando Adam sentado ao lado de Chloé Blackwell.

   — Ora essa! — exclamou Alexander. — Então foi aqui que ele se meteu. — ele falou para si mesmo.

     Parado ao lado da desconhecida ele pode perceber que o cheiro de baunilha era mais intenso e inebriante. Alexander notou pela primeira vez que ela tinha uma postura impecável com o pescoço estendido e a coluna alongada e que mesmo assim ele era pelo menos de dez a quinze centímetros mais alto, já que ela usava uma sapatilha nos pés ao invés de salto alto. Ela era mais alta e mais magra que a maioria das moças da cidade e região. E pela roupa ele sabia que ela não pertencia aquele lugar. A maioria das moças não teria coragem ou dinheiro o suficiente para comprar uma peça de roupa como aquela.

     O vestido em questão era de musseline com toque de seda, azul royal, frente única em gola alta com laço lateral, com a saia acinturada evasê terminando na altura do joelho.

     Marisa tinha um leve sorriso nos lábios vermelhos e um olhar afiado para o casal à frente.

    — Isso ainda vai acabar em casamento. — ela sussurrou tão baixo que se não estivesse ao seu lado Alexander não ouviria.

    — Disse alguma coisa, senhorita? — ele fingiu que não ouviu para continuar puxando conversa com ela.

    — Não. — ela virou-se para ele ao falar. — E se me der licença eu gostaria de terminar o passeio.

    — Precisa de um acompanhante? — perguntou antes que ela pudesse se afastar.

     Ela olhou novamente para o casal que de tão distraídos não notaram que eram observados.

    — Não se incomode, tenho certeza de que posso achar o grupo onde estava. Eles não devem estar muito longe.

    — Pode até ser, mas eu garanto que eu seria um guia muito melhor. Eu venho até esse jardim todos os anos. Quase o conheço como a palma da minha mão.

    — Posso saber o porquê de toda essa insistência?

    — Pela companhia agradável, é claro! E pela possibilidade de conhecê-la melhor e de quem sabe convencê-la a posar para uma ou três fotos.

     Alexander estava jogando todo o seu charme em cima da desconhecida que ele queria conhecer melhor. Ela era completamente diferente das moças que conhecia e ele estava intrigado com a cor dos olhos dela. Eles tinham um tom de dourado incomum que ele nunca tinha visto antes.

    — É mesmo? Não me parece uma proposta muito tentadora. — ela levantou uma sobrancelha e esboçou um sorriso. — E além do mais, não devo sair por aí com desconhecidos.

     Alexander pescou a dica.

    — Não seja por isso. Alexander. — ele estendeu a mão em cumprimento. — É você bela dama?

    — Muito prazer Alexander. — ela apertou a mão estendida. — Pode me chamar de Marisa.

    — Marisa. — Alexander testou a pronúncia. O nome não era muito comum. — É um belo nome. Nunca ouvi antes. Bom nesse caso com as devidas apresentações feitas será um prazer lhe acompanhar e ser seu guia, Marisa. — ele abriu um largo sorriso ao pronunciar o nome dela.

     Os dois começaram a caminhar lado a lado com Alexander tentando puxar os mais diversos assuntos para iniciar uma conversa.

MEMÓRIAS QUE O TEMPO NÃO APAGAOnde histórias criam vida. Descubra agora