MEMÓRIAS QUE O TEMPO NÃO APAGA

CAPÍTULO 23

Era um dia atípico na cidade, a chuva que caiu depois do almoço pegou a todos de surpresa estragando os planos para aquele domingo. Na mansão Johansson, Marisa, Christian, Eloise, Chloé e Dorothy estavam reunidos na cozinha sentados à mesa tomando o chá da tarde no elegante serviço de chá de porcelana turquesa que estava na família a gerações. Todos os empregados receberam folga naquele fim de semana.

— Eu queria saber o porquê Abigail Harrison nos odiar tanto. — comentou
Marisa se lembrando da mulher e da maneira hostil que a tratou ao saber do seu namoro com Alexander.

— Isso é uma história antiga, que começou muito antes de eu nascer. — Eloise
respondeu bebendo um gole do seu chá de maçã com limão.

Naquela noite ela e Chloé dormiriam na mansão Johansson, já que Jared estava
fora da cidade resolvendo assuntos da joalheria.

— Na verdade tem mais a ver com ego ferido. — Dorothy completou servindo uma xícara de Earl Grey para Christian que adicionou um pouco de leite e quatro cubos de açúcar.

— E então, como tudo começou? — perguntou Christian provando seu chá e se deliciando com o sabor envolvente de bergamota. — Vocês não podem começar um assunto como esse e não terminar.

— Não sabia que você era fofoqueiro Christian? — Chloé o alfinetou pegando
mais alguns mini-sanduíches de presunto e mostarda e queijo e chutney.

— Eu aprecio ser um homem bem informado. Além do mais conhecimento é
poder. — ao terminar de falar as quatro mulheres começaram a rir. Ignorando-as
começou a se servir de fatias de bolo de limão, muffins de blueberry e sanduíches de salmão defumado e cream cheese.

— Bem! — começou Dorothy se ajeitando na cadeira e bebendo um gole de chá. — Não é segredo pra ninguém na cidade que Abigail Harrison deveria ser Abigail
Johansson.

— O quê? — falaram Chloé e Marisa ao mesmo tempo em que Christian se engasgava.

— Abigail era noiva do meu pai. — emendou Eloise, estremecendo só de pensar nessa possibilidade enquanto acudia o sobrinho com tapinhas nas costas.

Os três jovens estavam em choque. Dorothy continuou com a narrativa.

— O noivado de Abigail e Andreas II avô de vocês foi um acordo firmado entre as duas famílias. O fato de suas mães serem amigas de longa data foi o que determinou. Desde muito nova Abigail já era considerada uma Johansson e era tratada como tal por muitos. — Dorothy fez uma pausa torcendo o nariz. — Andreas sem dúvidas era o melhor partido da cidade ao lado de Edward Blackwell e de Joshua Harrison. Porém havia uma diferença entre eles, ao contrário dos Johansson’s e Blackwell’s que vinham de famílias aristocráticas inglesas centenárias, a fortuna e poder dos Harrison's vieram da corrida do ouro e ainda estava em grande ascensão. Por sorte nossa Andreas não concordou com o casamento arranjado. Ele era apaixonado por outra jovem inglesa que conheceu em uma das viagens que fez acompanhando o pai e apenas seus amigos Edward e Josh sabiam sobre o namoro secreto dos dois. E com a ajuda dos amigos, Andreas se casou escondido com a jovem Lucille Norton que rivalizava em beleza com a Abigail. — ela fez outra pausa para beber um pouco de chá. Todos estavam vidrados na história. — A notícia se espalhou como pólvora pela cidade na semana do jantar de noivado e logo se tornou um escândalo. Abigail foi humilhada e para se vingar sua família espalhou o boato de que o casamento só aconteceu por um golpe do baú. O que não era verdade, já que Lucy Norton vinha de uma família dona de indústrias metalúrgicas e siderúrgicas na Inglaterra e estavam em expansão na Europa e principalmente nos Estados Unidos, além do fato de que ela e Andreas só tiveram filhos depois de quatro anos de casados. — falou a última parte olhando para Eloise. — Nem preciso dizer que a partir daí surgiu uma forte inimizade entre os Johansson's e os Anderssons e que muitos negócios entre eles foram desfeitos. O que quase levou os
Anderssons à falência. Perder o apoio e prestígio dos Johansson's custou caro. Segundo diziam naquela época, a fortuna deles seria a salvação das finanças da família.