Um novo dia ia raiando e o relógio na parede marcava 5h10 da manhã. No estúdio Marisa se alongava nas barras. Acordando todos os dias antes do amanhecer ela descia para o estúdio e passava as horas seguintes lá até Dorothy ou alguém chamá-la para o café da manhã. Ela tentava retornar a rotina que tinha antes. Aos poucos vinha tendo mais confiança em si mesma. Mas mesmo assim ainda não se arriscava em grandes saltos ou movimentos que exigiam demais de seu joelho. Um solo de piano começou a preencher a sala.
***
As 7 horas Liam estacionou a caminhonete ao lado do Cadillac na mansão Johansson. Ele tinha uma reunião com o senhor Johansson naquela manhã. O homem ligou pessoalmente há alguns dias e fora vago sobre o assunto que iriam discutir. Saindo do carro ele deu a volta pela frente abrindo a porta do passageiro e pegando a caixa de geleias, em cima dela ia à pasta marrom de documentos. Enquanto caminhava até a porta da frente ele olhava para o belo jardim. Nas poucas vezes em que esteve na propriedade nunca reparou nele de fato.
Tocando a campainha ele esperou.
- Bom dia Liam! - Dorothy o saudou ao abrir a porta.
- Bom dia Dorothy! - ela deu espaço para que ele entrasse. - Aqui estão as geleias que você pediu.
- Ah, que bom! - eles começaram a caminhar até a cozinha. - Achei que as que tínhamos aqui durariam até semana que vem, mas acabaram ontem. E como vão todos no rancho?
- Estão todos bem.
- Que bom! Diga a Caitlin que qualquer dia irei fazer uma visita.
- Eu direi. Onde eu coloco isso? - ele perguntou vendo a movimentação da cozinheira e alguns empregados que circulavam pela cozinha entrando e saindo.
- Pode deixar aqui em cima mesmo. - ela apontou para uma das bancadas. - Você veio falar com o Christian não é? - ele assentiu deixando a caixa e pegando a pasta. - Ele está atendendo uma ligação agora. - ela olhou para o relógio na parede.- E enquanto você espera aceita um café?
***
Liam passou um tempo conversando com Dorothy, a mulher o viu crescer e o considerava um neto. Ela sempre o visitava no rancho, mas com a chegada da família Johansson a cidade, ela não tinha mais tanto tempo livre. Naquele exato momento ele estava arrependido de não ter aceitado a oferta dela de acompanhá-lo até o escritório. Ele não queria atrapalhar o serviço dela. Então disse que poderia ir sozinho. Agora ele se encontrava parado no meio do corredor vazio sem saber para onde ir. Parecia surgir um novo corredor toda vez que ele olhava. Tinha certeza de que tinha seguido certo as instruções. Agora teria que voltar e admitir seu engano. Mas antes precisava descobrir em que direção ficava a cozinha. Virando a direita em um corredor Liam começou a ouvir som de piano. Parando por um momento ele escuta a melodia que lhe é vagamente familiar. Saindo da inércia ele decide seguir o som. Talvez a pessoa que estivesse tocando poderia ajudá-lo. Caminhando pelo corredor o som o leva até uma porta entreaberta de onde a harmoniosa melodia saía. Ele abre a porta e no centro da sala uma bailarina executava suaves e elegantes movimentos acompanhando o ritmo da música.
***
Concentrada nos seus movimentos, na harmonia e no ritmo da música, Marisa não notou o estranho parado à porta. Ao perder o equilíbrio terminando o movimento da pirueta, ela suspirou frustrada. Esse era um dos movimentos que fazia com perfeição. Porém, novamente tinha colocado o peso todo para trás e não sobre o pé de apoio. Um movimento pelos espelhos na parede chamou sua atenção, virando para a porta encontrou um estranho que era vagamente familiar vestido de cowboy com calça jeans, camisa xadrez e colete marrom de couro e chapéu.
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MEMÓRIAS QUE O TEMPO NÃO APAGA
Historical FictionÉ inicio dos anos de 1960. É neste momento que conhecemos a historia de Liam Mulrooney e Alexander Harrison, que vivem na pequena cidade de Eudora, localizada no Condado de Dutchess, na região de Hudson Valley, estado de NY. Liam é um homem gentil e...