A claridade e a brisa da manhã entraram pelas cortinas e portas abertas e acordaram Marisa. Ao se espreguiçar ela notou que tinha adormecido no divã de frente para as portas que davam uma pequena visão do céu noturno. Ao levantar sua coluna protestou por dormir em um lugar não tão confortável. Bocejando ela aproximou-se do relógio em cima do criado mudo e viu que era 7h20, teria tempo de sobra para tomar um banho e descer para o café da manhã.
***
Depois de um banho relaxante Marisa foi até o guarda-roupa abrindo as portas, escolhendo uma calça capri verde oliva, e depois de avaliar suas opções decidiu por uma blusa branca de manga cavada com gola boneca e amarração em fita preta. Para completar pegou meias soquete para usar com seus sapatos Oxfords saddle shoes xadrez marrom de dois tons. Após vestir-se sentou a penteadeira de três espelhos que assim como o guarda-roupa era um móvel Chippendale e começou a escovar e desembaraçar os fios prendendo o cabelo em um rabo de cavalo no alto da cabeça com um lenço vermelho formando uma cascata negra e cacheada até o meio das costas. Para terminar usou um brilho labial vermelho para realçar os lábios, depois de conferir o visual no espelho, saiu do quarto. Marisa não usava maquiagem no dia a dia, preferia dedicar tempo para maquiar-se apenas para as apresentações de ballet ou os eventos em que comparecia com a família.
Ao chegar à cozinha encontrou Dorothy de frente para o fogão preparando panquecas.
— Bom dia, Dorothy!
— Bom dia, Marisa!
Marisa olhou para o relógio de parede e já eram 8h da manhã.
— Christian ainda não apareceu?
— Ele está lá fora. — ela apontou para a porta aberta da cozinha. — O café será servido na varanda.
— Precisa de ajuda? — ela olhou para a mulher que habilmente fazia uma grande pilha de panquecas no prato ao lado de outra pilha já pronta.
— Tenho tudo sobre controle aqui, não se preocupe. Mas você poderia levar o suco para mim? — ela apontou para a jarra em cima do balcão.
— Claro!
Marisa pegou a jarra e saiu porta a fora encontrando seu irmão sentado à mesa lendo jornal como de costume e tomando uma xícara de café.
— Buenos dias! — cumprimentou Marisa depositando a jarra em cima de um descanso de prata na mesa e sentando em uma cadeira ao lado dele de frente para o jardim.
— Buenos dias! — respondeu tirando os olhos do jornal dobrando-o colocando-o de lado.
Marisa notou que o irmão não usava os seus típicos ternos e estava vestido casualmente. Usando uma camisa pólo preta com detalhes e bolso frontal branco, uma calça de golfe xadrez cinza escuro e sapato loafer marrom.
— Vai jogar golfe?
— Não, por quê?
— Então porque a calça xadrez?
Christian apenas deu de ombros e voltou a beber seu café quando Dorothy aparece empurrando um carrinho de serviço com dois pratos de panqueca, leite, geléias, calda de bordo, manteiga, ovos mexidos, bacon e um novo bule de café.
— Espero que estejam com fome!
***
Eloise os encontrou ainda sentados à mesa da varanda dos fundos após o café. Naquela manhã ela usava um vestido midi branco de poá preto em decote V com grandes rosas vermelhas estampadas e um sapato preto que combinava com a bolsa de mão e as luvas. Os óculos de sol gatinho de armação branca chamava a atenção para os lábios perfeitamente pintados de vermelho. O cabelo repartido lateralmente caia com ondas bem marcadas até logo abaixo dos ombros. Dessa vez ela não estava usando um chapéu.
— Oh! Bom dia! Que bom vocês já estarem acordados.
— Bom dia!— responderam os irmãos e Dorothy juntos.
— O que vocês têm programado para hoje? Vim convidá-los para um passeio pela cidade. — ela perguntou sentando-se em uma das cadeiras.
— Eu vou ter que recusar o convite. Tenho que verificar alguns documentos que eu trouxe e comparar com os documentos que a senhora me entregou ontem. E ainda preciso dar um telefonema para o nosso pai. — Christian falou.
— Que pena! Dorothy?
— Tenho que supervisionar o andamento da casa. E a nova cozinheira deve chegar a qualquer momento.
— Ah! E você, querida?
— Eu estava pensando em explorar um pouco mais da casa e talvez a propriedade. Mas talvez um passeio pela cidade seja bom. Chloé também irá?
— Fico muito feliz em ouvir isso. Infelizmente não. Chloé está trancada no atelier. Disse que teve uma inspiração para uma nova coleção. — comentou Eloise, ajeitando as luvas. — Podemos ir? — ela estava empolgada.
— Claro, eu só vou lá em cima pegar a minha bolsa. E já desço. — Marisa disse levantando e entrando na casa.
— Vou esperá-la no carro.
***
Marisa encontrou sua tia ao volante do Ford Hudson Hornet 1953 cranberry e pale green. Ela olhou para os lados procurando por Mark. O motorista não estava à vista. Sem ter muito o que fazer, ela entrou no carro sentando no banco do carona procurando o cinto de segurança.
— Esses óculos não são do Christian? — Eloise perguntou, ajeitando seus próprios óculos de sol.
— Não são mais. — respondeu Marisa ajeitando a armação do Ray ban clubmaster de lentes verdes e dando um sorriso inocente.
— Pronta? — perguntou Eloise com um leve sorriso, dando partida enquanto Marisa acenava com a cabeça acomodando-se no banco de couro.
O interior do carro era de couro nos tons de verde e branco. Eloise manobrou o veículo pela fonte e na estrada de cascalhos passando pelo portão.
— E então por onde começamos?
— Nossa primeira parada será o Parque Whittemore. Quero ver como andam os preparativos de perto e depois iremos ao Covered Market para algumas comprinhas e depois veremos.
Logo após terem descido a colina e entrarem na estrada, Marisa inclinou-se na janela para aproveitar a curta viagem até o centro da cidade. O dia estava lindo! O céu azul quase não tinha nuvens e a temperatura era agradável, nem quente demais como o verão e nem frio demais como no inverno. A primavera sem sombra de dúvidas era sua estação favorita do ano.
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MEMÓRIAS QUE O TEMPO NÃO APAGA
Historical FictionÉ inicio dos anos de 1960. É neste momento que conhecemos a historia de Liam Mulrooney e Alexander Harrison, que vivem na pequena cidade de Eudora, localizada no Condado de Dutchess, na região de Hudson Valley, estado de NY. Liam é um homem gentil e...