Prólogo

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Dezembro, 2007



O trem parou num solavanco e com o indicador subi a haste de metal do meu óculos. Ele sempre escorregava do meu rosto quando eu ficava de cabeça baixa. E eu era o tipo de menino que sempre ficava de cabeça baixa. Eu tinha vergonha de conversar com as pessoas, de que elas me olhassem. Isso me deixava nervoso e eu sempre trombava ou derrubava alguma coisa quando ficava nervoso. Isso fazia as pessoas e principalmente as outras crianças rirem de mim. Eu não queria que rissem de mim, então eu ficava de cabeça baixa e sempre tentava passar despercebido.

Meus pais sempre me disseram que eu era tímido e devia tentar fazer mais amigos. Só que antes de completar 11 anos eu só convivi com crianças humanas ou não-bruxas e elas percebiam que eu era diferente. Uma criança do mundo dos bruxos sempre é diferente de uma criança do mundo dos humanos. E elas riam de mim e cada vez mais eu ficava na minha, no fundo eu não queria que elas soubessem quem eu era. E no final os livros de magia que eu lia em casa com meus pais se tornaram meus melhores e únicos amigos.

Mas agora ao completar 11 anos eu estava indo pra uma escola onde me ensinariam apenas magia. Meus pais estavam confiantes, pois, eu estudaria apenas com crianças bruxas assim como eu. Eles tinham certeza que eu faria amigos e me tornaria aos 20 anos um bruxo brilhante, eu no entanto, não estava tão confiante assim.



- Hei garota! - o homem gritou e com o susto que levei dei um pulo no banco. - Sai dessa cabine! - ele arreganhou a porta e entrou, me encolhi contra a parede assustada. - Você quer se perder em alguma estação por ai?

Balancei a cabeça várias e fiquei de pé. O homem tirou minha mala de rodinhas do compartimento e me entregou. Com as mãos tremendo peguei a mala da mão dele, fiquei com medo que ele me lançasse um feitiço e me transformasse em um sapo ou não sei mais o que.

- Então se manda antes que o trem parta.

Sai da cabine o mais rápido que pude já que minha mala estava pesada e não ajudava. Aos 11 anos eu só tinha cabelo e sardas e nenhuma força nos meus braços e pernas que eu sempre achei fino demais.

Desci do trem e me assustei ao ver tantas crianças da minha idade e outras tão mais velhas parecendo adultos. Todos eles eram bruxos como eu? E será que algum deles só descobriu que era bruxo ou bruxa um mês atrás assim como eu?

- Sua filha é uma adorável bruxinha. - o homem de cabelos brancos que aparecera em casa do nada dissera aos meus pais. - E agora que ela completou 11 anos precisa ir para uma escola própria onde irão ensiná-la tudo sobre magia e o mundo dos bruxos.

Eu lembro que fiquei escondida na cozinha ouvindo a conversa e estranhando as vestes longas e o chapéu roxo com estrelas azuis daquele homem.

Mamãe não acreditou no senhor.

- Isso é impossível, não temos caso na família a mais de 100 anos. - mamãe dissera ainda pasma.

- Mas já houve casos de bruxos na família e isso é normal dado que relacionamentos entre bruxos e humanos apesar de raros acontecem.

Mamãe ficou histérica e papai preocupado. E eu fiquei em pânico, mas também maravilhada. Como filha caçula eu sempre me senti diferente dos meus irmãos e nunca consegui fazer amigos. Claro que meus irmãos não ajudavam. Sendo meninos eles deviam cuidar de mim e não espalhar que eu era estranha e assim fazer as crianças zombarem de mim. Mas eu já tinha ouvido histórias sobre os bruxos, eu só não sabia que meu bisavô fora um bruxo e se casara com minha bisavó que não era bruxa.

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