Capítulo 16

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Na manhã seguinte quando acordei tomei um susto ao ver Alicia na sala. A casa estava silenciosa demais.

- Bom dia Any! - tomei um susto quando ela me viu.

- Bom dia. - respondi sem jeito, a imagem dela ao flagrar eu e o Poncho estava tão nítida que mais uma vez desejei que o chão se abrisse e me engolisse. - Poncho e Estevan saíram?

- Sim, foram na cidade. - a mãe de Alfonso sorriu.

- Ah ta! - mordi o lábio e abaixei a cabeça.

- Posso falar com você?

Encarei Alicia parando de respirar e só consegui concordar com a cabeça.

- Vem comigo pra biblioteca, por favor. - ela sorriu e saiu na frente.

Entrei em pânico. Nem Poncho ou Estevan estavam em casa. Isso significava que ela poderia me expulsar dali por ter me engraçado com o filho dela que ninguém tentaria impedi-la. Será que era isso? Ela ia me dar uma bronca e mandar eu fazer as minhas malas e sumir dali?

Entramos no escritório e coloquei as mãos atrás das costas retorcendo-as. Uma forma de esconder o nervosismo que eu estava sentindo.

- Any queria falar com você sobre o que eu vi ontem no seu quarto com o meu filho. E temo pra mim que não é a primeira vez que aquilo acontece, estou certa?

O jeito que ela me olhou me fez dar um aceno com a cabeça. Mas eu precisava encontrar minha voz pra fazê-la entender que eu não estava enganando ela a meses ou anos como ela podia estar achando.

- Não é a primeira vez, mas eu juro que a gente não tava junto quando chegamos aqui na sua casa. Ainda éramos amigos, apesar de as coisas estarem começando a mudar.

- Eu sei, notei seu nervosismo perto do meu filho quando chegaram, uma coisa que nunca tinha acontecido antes. - ela respondeu e ao terminar de falar Alicia sorriu me surpreendendo. - Sabe por anos eu busquei vocês na estação de trem, via vocês cada vez maiores e mais ligados enquanto iam crescendo. Eu ficava me perguntando até quando essa amizade duraria. Eu estava esperando pelo momento em que o Poncho apareceria aqui sozinho enquanto você passava as férias com seu namorado ou ele chegaria aqui com outra garota e me apresentaria a ela como sua namorada.

"Será que ela estava decepcionada por eu ter virado a namorada?", me perguntei mordendo o lábio.

- Eu achava a primeira opção mais fácil. Meu filho aparecer sozinho aqui dizendo que você estava passando as férias com outro. Eu tinha medo de como ele ficaria, tinha medo de você se envolver com um rapaz ou até ele com uma moça e isso afetar a relação de vocês. Eu sempre achei muito bonita a amizade, a cumplicidade de vocês. Perdi a conta de quantas vezes ouvi vocês desabafarem um com o outro. Meu filho sempre sozinho e tímido, o garoto brilhante que se achava diferente, tinha encontrado alguém. Uma amiga que o havia aceitado do jeito que ele era, o apoiava sempre e em troca ele te apoiava de volta. Mas posso confessar uma coisa?

- Pode! - assenti prendendo a respiração.

- Sempre tive uma pontinha de desconfiança de que no fundo vocês eram muito mais do que amigos. Meu filho sempre foi tímido e nunca quis falar de "garotas" perto de mim ou do pai, mas com você ele sempre foi diferente. Vocês ficam diferentes quando estão juntos, como se alguma coisa conectasse vocês. Ele fica menos envergonhado, você mais confiante. Como se juntos vocês encontrassem o lugar de vocês no mundo.

As palavras dela me surpreenderam, pois, eu sempre me senti assim quando estava com Poncho. Desde quando éramos crianças, parecia que quando eu estava com ele eu estava no lugar certo. Eu me sentia parte do mundo, o mundo dos bruxos. E várias vezes Poncho me disse a mesma coisa. Comigo por perto ele também sentia que se encaixava no mundo. Por isso sempre fomos tão amigos, tão ligados. A gente se entendia.

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