Cinco

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— Millie, já está pronta? — Minha mãe vem ao meu encontro na sala.

— Estou só te esperando — Digo cruzando as pernas sentada no sofá.

— Pelo menos se deu ao trabalho de se arrumar hoje. Vamos, seu pai está esperando no carro junto com Finn — Ela diz me olhando dos pés a cabeça.

Vou de encontro com minha família no carro, mais uma vez eu estava indo a tão temida igreja, porém com uma expectativa melhor, Sadie havia perguntado de mim no começo da semana, talvez minhas idas aquele lugar possam se tornar menos desinteressantes.

— Sua mãe me contou que tem delinquentes que fumam na sua sala — Meu pai diz me encarando pelo retrovisor.

— Eu já disse que não ando com eles — Cruzo os braços e jogo as costas no estofado.

— Estou pensando em te trocar de escola — Ele ignora minha fala e se opõe com sua voz grossa.

— E o Finn? Não vai junto? — O cacheado me olha incrédulo.

— Ele não precisa, sei que é um bom garoto, e ao contrário de você ele tem amigo naquele lugar — Mamãe coloca a mão para tras e junta as mãos com as do filho. 

— E como vão fazer para levar nos dois a escolas diferentes?

Não tento fazer nenhum protesto contra a mudança de escola, eu estava acostumada com aquela, mas a coisa mais interessante das aulas era o garoto que veio da Venezuela e não sabia falar Inglês, acabei passando um tempo a mais com ele. Talvez ele seja meu amigo.

— Você já está bem grandinha, pode ir andando ou pegar ônibus.

— Mas vocês ainda não me falaram qual escola querem me levar — Começo a desenhar na janela úmida pela chuva.

— Qual escola a neta da Elizabeth estuda? — Meu pai pergunta a matriarca.

— Eu não sei. Millie, sabe me dizer? — Ela se vira para mim com expectativa.

— Estudo domiciliar — Respondo ainda sem a encarar — Por que queriam me colocar junto com ela?

— A Elizabeth sempre nos fala como a neta é inteligente, estudada e educada, se estudasse em algum lugar que fornece isso aos alunos seria de bom grado. Deveria se parecer mais com ela.

Bufo com tamanha besteira que escuto, encosto a cabeça na janela e fecho os olhos até chegar ao inferno.

...

— Boa noite, como vão família Brown? — Sadie é a primeira pessoa a recepcionar nossa família quando chegamos.

Ela usava um vestido branco rodado com algumas flores verdes desenhadas e um all star também verde nos pés.

— Boa noite, Sadie — Meus pai a cumprimentam — Millie, Finn, sejam educados.

Sinto a mão do meu pai em minhas costas me impulsionando levemente para frente, fazendo assim eu ficar cara a cara com a sardenta.

— Boa noite, Sadie — Estendo a mão.

— Como vai, Millie? — Ela me puxa para um abraço rápido.

— Anda logo, Finn.

— Boa noite — O menor apenas acena com tédio e apoia a cabeça nos braços do papai.

— Nós vamos nos sentar, fique com sua amiga um pouco e depois venha atrás da gente — Minha mãe diz com uma voz doce que eu só escuto quando tem alguém por perto.

A ruiva que ainda estava ao meu lado murmura uma despedida e põe a mão no meu ombro.

— Tira a mão de mim — Retiro seu toque de mim.

— Eu espero ansiosamente para te ver e é assim que me recebe? — Ela usa um tom de ironia.

— Vê se não enche.

Saio de perto da garota e vou em direção ao bebedouro, não estava com sede, apenas queria um pouco de distância.

— Pensei que estivesse com vontade de me ver — Escuto sua voz atrás de mim.

— Eu até estava, mas percebi que você vai acabar dificultando minha vida se ficar atrás de mim — Digo grossamente pegando um copo descartável e enchendo de água.

— Cara, o que eu te fiz? Pensei que estávamos de boa — Ela tenta se aproximar novamente.

— Por que não vai ser perfeita em outro lugar? — Viro o líquido e amasso o copo, tentando sair em seguida.

— O que deu em você? — Mais uma vez ela pega em meu ombro.

— Já é difícil demais ser eu, aí você aparece e querem que eu seja como você — Mordo o corpo.

— Acha que se afastar de mim muda os seus pais?

— Eu não falei dos meus pais.

— Não precisa ser muito inteligente pra saber que é isso — Ficamos caladas, mas mesmo assim o barulho era grande demais.

— O que você quer, Sink?

— Eu queria ser sua amiga, tivemos um puta momento foda naquele dia e agora você tá nessa — Me surpreendo com a quantidade de palavrões que ela solta dentro da casa do senhor.

— Meus pais começaram a implicar comigo por sua causa.

— E se afastar de mim vai mudar alguma coisa? Várias pessoas vão ir e vir e sempre vão te comparar com algum desses. Não precisa criar uma bolha não.

— Eu não preciso de ninguém.

— Você não precisa de ninguém ou não tem alguém? — Sua pergunta congela meu raciocínio por alguns segundos, o que dá a ela tempo de falar mais — Se afastar das pessoas assim só é pior.

— O que sugere? Que eu vire sua amiga e ature eles?

— Exatamente. Os seres humanos foram criados para ficarem juntos, se afastar é apenas uma forma de mostrar que você precisa voltar aos trilhos.

— Tá, eu posso ser sua amiga — Digo jogando o copo mastigado no lixo — Pero no esperes que me gustes.

— O que? Fala espanhol?

— Arranho um pouquinho — Digo sorrindo convencida, posso não ser boa em tudo, mas aprendi espanhol com apenas conversas com o garoto excluído.

— Vem, vamos dar o fora daqui — Sadie segura em meu pulso e se atira para fora da igreja.

— Onde nós vamos? Meus pais estão me esperando — Meu desespero começa a tomar conta de mim, não queria ficar de castigo mais uma vez.

— Calma, você vai gostar.

A ruiva passou me puxando por várias pessoas que entravam na igreja, me levando assim a despida noite estrelada.

— Tem dinheiro aí? — Ela me pergunta ofegante quando para.

— Não? — Respondo com insegurança — Se me trouxe aqui para me assaltar não vai ter sucesso.

— Então vamos ter que passar na minha casa.

— O que? — Sinto ela me puxar outra vez, mas agora rumo a sua casa.

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Não revisado

Que a Igreja pegue fogo {SILLIE}Onde histórias criam vida. Descubra agora