Vinte e Três

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- O que tá' acontecendo aqui? - Puxei Finn pelo ombro, fazendo o garoto me encarar.

- Sadie começou uma banda, não é incrível? - Ele se virou novamente para o palco mas eu tornei a puxá-lo.

- É muito incrível pra ela, mas a gente tá fora - Segurei nos pulsos do meu irmão e tentei o arrastar para fora da visão do palco.

Eu não falava com Sadie a 4 anos, na verdade não tinha nenhuma noticia da garota.

Eu definitivamente não gostei da forma que meu coração se apertou quando vi seu rosto.

- O que? Por que? - Finn tentou soltar seus pulsos das minhas mãos, mas ele sabia que era impossível - Você tá me machucando outra vez.

Soltei o mais novo assim que ele disse isso, pela primeira vez em anos essa frase voltou a me afetar.

- Finn, por favor, vamos embora - Tentei convencê-lo pelo meu tom de voz, já que eu não estava afim de segurá-lo.

- Deixa de ser careta, já estamos aqui - Ele me encarou e sorriu de lado.

- Espera, você sabia que ela estaria aqui hoje? - Perguntei indignada para ele.

- Eu precisava fazer vocês se verem mais uma vez.

- Você só pode tá' brincando comigo, não é possível - Aumentei meu tom de voz, o que assustou o garoto.

- Millie, se acalma. Não é o fim do mundo - Ele coloca suas mãos nos meus ombros, mas eu as rebato.

- Eu tô caindo fora, volta pra casa a hora que quiser, mas não fode pra mim. Se vir a Maddie avisa que eu vou embora.

Quando me virei para encontrar um caminho em meio aquela multidão, Finn segurou meu braço com toda sua força e gritou com os pulmões cheios.

- SADIE! Olha pra cá - Meu braço foi erguido para o alto.

Depois de encarar incrédula meu irmão, olhei para o palco, já que a primeira música havia acabado. Sink estava me olhando, com um sorriso nos lábios, e as sobrancelhas erguidas.

- Parece que tem alguém bem interessante na plateia hoje - Sadie disse calmamente no microfone, fazendo toda a multidão gritar e agitar.

- Cara de pau - Puxei meu braço com tudo, fazendo Finn tropeçar - Quando você chegar em casa eu vou conversar com você.

- Mas-

- Mas nada. Não importa a hora que chegue, saiba que eu vou estar no seu quarto te esperando.

Olhei para o palco mais uma vez, vendo Sadie com um olhar perdido. Mandei um dedo do meio para ela e abri caminho para fora da casa de show.

...

Quando cheguei em casa eram por volta de 04:30. A casa estava um completo silêncio, e eu temia que não iria permanecer assim por muito tempo.

Fui para o quarto do meu irmão e me tranquei lá, tirando meus sapatos e me deitando em sua cama com colcha de marinheiro.

Perdi a noção de tempo, lá fora já estava claro, Finn ainda não havia aparecido, eu não conseguia dormir, e agora tinha uma ruiva na minha cabeça.

Desde que Sadie foi embora eu desisti de viver minha vida do jeito certo. Ela não estava mais aqui para me levar em bazares, me livrar se cigarros ou até mesmo me empurrar de algum barranco.

Eu não fui forte, nem um pouco. E tenho plena consciência de que me tornei alguém insuportável de se conviver, minha única amiga era Maddie, que por algum motivo não se abalava com a minha personalidade de merda.

Aos poucos fui me tornando aquilo que eu mais temia, uma adolescente que vai a festas e enche a cara com qualquer coisa que lhe entregam, e eu não me orgulhava disso.

Não vou culpar 100% Sadie pelo que aconteceu, na verdade nao deveria culpa-la por nada, a desequilibrada sou eu, mas mesmo assim é mais reconfortante ter alguém que não seja você para justificar um erro.

- Você tá brava comigo? - Finn sussurrou da porta do quarto, eu nem percebi sua presença.

Me sentei em sua casa, pacientemente, apontando para que ele se sentasse ao meu lado.

- Eu to furiosa - Bufei assim que ele se aproximou - Me conta tudo.

Olhei para meu irmão com calma, esperando ele responder.

Finn com 16 anos estava quase da minha altura, mas mesmo assim continuava pálido e magricela. Seus gigantes cabelos foram cortados em cima e raspados nas laterais, e não foi por escolha dele.

Ele com certeza estava com olheiras, e com certeza havia enchido a cara junto com sua amiguinha.

- Eu falo com ela desde que você foi embora - Ele falou baixo, olhando para suas mãos em seu colo - Me desculpa.

- Só aceito suas desculpas quando me contar absolutamente tudo.

Ele suspirou e me olhou, com lágrimas nos olhos.

- Não briga comigo.

- Finn.

- Na primeira semana que Sadie foi embora eu mandei uma mensagem a ela no dia do aniversário dela.

- Aniversário dela? - Perguntei confusa, eu não me lembrava que essa data estava tão perto naquela época.

- Sadie fez 16 anos e eu a mandei parabéns, mas não parou por ai - O garoto se levantou e me olhou - Ela queria saber de você, como você estava, se tinha raiva dela.

- Você respondeu o que ela queria?

- Não. Fizemos um acordo, eu não contava nada seu para ela, e eu não contava nada dela para você.

- Continua.

- Eu conversei com ela quase todos os dias desde que vocês brigaram, e Millie - Ele fez uma pausa dramática - Ela também amava você.

Meu coração errou uma batida com essa frase, eu fantasiava bem no começo como teria sido estivéssemos juntas, mas nem de longe imaginei meus sentimentos sendo correspondidos.

Uma vontade de chorar me atingiu em cheio, mas com certeza eu não faria isso na frente do meu irmão. Nem havia motivos para isso, larguei meus sentimentos por ela meses depois de sua viagem.

Vendo que eu fiquei em silêncio, ele continuou.

- A pouco tempo ela começou uma banda com mais dois amigos, e me disse que se apresentaria em uma casa de show perto da nossa casa.

- Ela sabia que estaríamos lá? - Perguntei em um fio de voz.

- Sabia, ela sabia.

No mesmo segundo a campainha tocou, fiquei em silêncio junto com o mais novo, que parecia saber muito bem quem estava na porta.

Encarei os seus olhos castanhos com um ódio mortal, até que escuto uma outra voz na porta do quarto.

- Millie, podemos conversar?

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NÃO REVISADO

Que a Igreja pegue fogo {SILLIE}Onde histórias criam vida. Descubra agora