Vinte

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Estávamos nós três esperando meu irmão sair da escola, Sadie não disse mais nada e muito menos Carlos.

Se não tivesse que chegar em casa com meu irmão certamente eu teria saído correndo e nunca mais olharia nos olhos azuis da Sink.

Me sentia aflita, sem ar e despedaçada, o tom de voz que ela tinha usado me deixou assustada, não consegui enxergar nenhuma brincadeira em seu rosto, com certeza é o fim de tudo que construímos.

Eu queria matar aquele Venezuelano, queria o mandar de volta para seu pais em uma caixa de transporte de cachorro.

Ele traiu minha confiança, contou tudo a ela, ele estragou tudo que eu construí.

Eu só precisava chorar um pouco e dormir, só isso.

— Millie, Millie — O cacheado apareceu pulando em minha frente, me mostrando um papel — Eu consegui um oito na prova de matemática, um oito!

Ele pulou e girou com a prova em mãos, todo contente por conta da sua visível dificuldade na matéria.

— Meus parabéns — Coloquei minha mão em seus cabelos e puxei alguns cachos, vendo eles esticarem e voltarem a enrolar.

— Olha Sadie, eu consegui uma nota boa, eu vou pedir pra minha mãe colocar na geladeira — Ele sapateou em volta dela circulando com os dedos a nota.

— Eu tô vendo. Sabia que você era inteligente — Ela lhe mostrou um sorriso e um joinha com as mãos.

  — Mira, Carlos. Tengo doce años y soy más inteligente que tú.

— Vate a la mierda — O garoto tirou seu boné e saiu em direção a rua.

— Desde quando você gosta do Carlos e desde quando você fala em espanhol? — Dei um peteleco em sua orelha e abracei seu corpo de lado.

— Eu não gosto do dele — Finn colocou a língua para fora e fez uma careta — Eu aprendia ofender ele, é diferente.

— Uh, Millie, vem comigo rapidinho? — A ruiva perguntou com a voz baixa — Você nos espera aqui?

Meu irmão confirmou com a cabeça, ainda admirando sua prova.

  Comecei a seguir a ruiva até a parte de trás da escola, onde os alunos iam para fumar e se pegar.

— O que quer? — Meu tom saiu rude, mas não era minha intenção.

— Conversar com você... sobr-

— Sadie, não é hora. Meu irmão está me esperando, e esse com certeza não é o lugar apropriado para isso.

— Eu não vou poder falar com você tão cedo se não for agora.

— E por que? Se não perde a coragem?

Eu inconscientemente estava na defensiva, me esquivando de qualquer coisa que ela falasse, tentando atacar.

— Millie o que houve com você? — Ela colocou a mão sobre a minha — Minha avó vai viajar, e eu vou ter que ir com ela.

— Quando você vai viajar? — Entrelacei nossas mãos.

— Daqui dois dias...

— Para onde vão?

— Eu não sei, uma cidade grande talvez.

— Quando você volta?

Sadie não me respondeu.

— Sadie, quando você volta? — Aumentei o tom de voz.

Ela ainda estava em silêncio, o que me fez desesperar.

— Sadie Elizabeth Sink, quando você volta? — Apertei sua mão quando senti uma lágrima descendo.

— Você tá me machucando — A ruiva tentou tirar minha mão de cima da sua.

— Me desculpa — Soltei a garota que logo me olhou decepcionada.

— Não é a primeira vez que você faz isso — Ela encolheu o corpo.

— Isso o que? — Tentei me aproximar mas ela recuou.

— Você machuca os outros, Millie. Ainda não percebeu?

Comecei a negar com a cabeça repetidas vezes, deixando as lágrimas correrem pelo meu rosto até pingarem de meu queixo.

— Sempre que alguma coisa não sai como você quer você machuca alguém.

— Não é verdade, eu nunca fiz isso com ninguém, muito menos você!

— É mentira — Sadie começou a se afastar sem me deixar acompanhar.

— Eu te amo! — Gritei com todo meu pulmão, caindo no chão logo em seguida.

...

— Cadê a Sadie? — Finn perguntou quando eu que peguei sua mochila, ao invés da outra garota.

— Ela não vai mais voltar com a gente — Coloquei a mão em suas costas o mandando ir — Ela nunca mais vai ver a gente.

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NAO REVISADO

Que a Igreja pegue fogo {SILLIE}Onde histórias criam vida. Descubra agora