Dezoito

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- Quero que se sente bem aqui - Empurrei a ruiva apressadamente até a sentar em minha cama.

Eu estava a quase duas semanas sem falar com Sadie, desde o dia em nos beijamos em seu quarto.

Eu acabei não conseguindo dormir lá naquela noite, confirmei na hora por pura adrenalina, e com certeza isso chateou ela.

- Não vai me contar nada? - Ela fecha a cara, irritada.

- Contar o que? - Lhe dou um sorriso desesperado e vou até a porta do quarto para tranca-lo.

Não queria que Finn invadisse nessa noite.

- Você sumiu por quase um mês - Sadie se levantou da cama.

- Foram duas semanas - Apontei o dedo para ela, instruindo que se sentasse novamente, e logo ela obedeceu.

- Grande diferença isso faz.

- Está brava comigo?

- Não vou ficar se me explicar - Ela empina o nariz e vira o rosto.

Eu estava prestes a contar a verdade a ela, de que tive que me isolar da sociedade para poder pensar melhor na minha relação comigo mesma e agora com Sadie.

Isso me deixa tão confusa!

Eu não queria ter sumido sem dizer nada a ela, mas era inevitável o seu turbilhão de perguntas caso eu avisasse, e a Sink consegue ser bem inconveniente quando quer.

- Vamos, estou esperando.

- Por que é sempre eu que tenho algo a contar? - Faço um bico.

- Porquê é sempre você que tem algo a esconder. Pensa que não me esqueci da última vez que nos vimos?

Enrigeci o corpo quando ela mencionou aquele dia.

- Ah, então o problema foi aquele dia? - Perguntou com deboche - Eu beijo tão ruim assim?

Eu e ela ficamos em silêncio olhando uma para a outra, meu corpo tensionado e as bochechas dela vermelhas.

- Não é isso, com certeza não é - Abaixo a cabeça e solto uma risada nasal - Eu só acho que as coisas devem ser feitas no tempo certo, e aquela não era a hora de te contar nada.

- Estou ficando com medo, você por acaso é alguma apresentadora de TV? Eu vou ganhar uma casa nova?

Sink dizia tudo em um tom brincalhão, mas suas mãos se arrastando pelas próprias pernas davam indicio de uma ansiedade constante.

- Adoraria que minha mãe tivesse me explorado na infância para ter um patrimônio acumulado e poder realizar esse sonho, mas não.

Ficamos em silêncio outra vez, um silêncio constrangedor.

- Eu vou poupar seu tempo.

Disse me levantando da cadeira em que estava sentada e indo até o meu guarda roupa, pegar aquele velho ukulele que a de olhos azuis havia me dado.

- Ainda tem ele? - Ela pergunta sorrindo confusa - Pensei que tivesse se livrado disso.

- Claro que não me livraria dele, eu até mesmo aprendi a tocar.

- Você? Em duas semanas? - Seu tom de deboche aumentava cada vez mais.

- Eu tinha um objetivo muito importante com esse ukulele - Abrecei ele e me sentei em sua frente outra vez.

- E que música aprendeu a tocar? Roberto Carlos? - Ela riu sozinha.

- Vou fingir que não saquei a sua descredibilidade em mim. E não, não foi Roberto Carlos - Mostrei a língua.

- Estou só brincando, confio no seu potencial - E pela primeira vez desde o começo daquela conversa, Sadie me mostrou um verdadeiro sorriso, cheio de ferros.

- Sei... - Me ajeitei na cama e respirei fundo, eu estava me preparando a tempo demais para amarelar agora - Eu aprendi uma música pra' você, Sadie.

- Pra mim? - Seus olhos se arregaralam e sua boca se abriu.

- Você lembra que eu falei que queria que você aprende-se espanhol?

- Eu acho que lembro, mas nunca levei adiante.

- É uma pena, eu vou te cantar uma música em espanhol.

- Posso saber o nome pelo menos?

Pensei um pouco e resolvi falar, ela não vai entender mesmo.

- Que locura enamorarme de ti.

- Eu acho legal o espanhol, só não entendo o motivo da voz ficar com fina.

- Cala boca - Tentei colocar minha mão em seu rosto mas não consegui - Só aproveita a música.

Me ajeitei mais uma vez e comecei a dedilhar a música, sem olhar para a ruiva.

- Amiga dejame decirte todo lo que siento.

"Que ya no puedo mas vivir con este amor secreto."

"Amiga muero sin tener el beso de tu boca."

"Soñando el rocer de tu piel amor."

Eu cantava tudo olhando atentamente para o instrumento, com medo de errar qualquer acorde se quer.

Eu estava fazendo um sacrifício, havia tanto em jogo. Minha amizade com Sadie, a amizade dela com meu irmão, a reação de meus pais caso eles saibam... é tanta pressão dedicada a um momento, mesmo que ela não esteja entendendo nada do que lhe digo.

- Amiga yo le siento celos hasta el propio viento el mio es un amor volas que crece como el fuego.

"Si creo que antes te nacer te estaba amando y ahora tengo que morir de sed."

Eu tenho tanto a perder.

- Que locura enamorarme yo de ti.

"Que locura fue fijarme gusto en ti."

"y en silencio yo te quiero."

"y tu amor tiene otro dueño."

Tanto a perder.

- Que locura enamorarme yo de ti.

"Que locura fue fijarme gusto en ti."

"y mi voz tiene tu nombre enredado en mis temores."

Estava sentindo meu coração acelerar, minhas mãos tremerem e minha garganta secar lentamente.

- Millie - Sadie parou a música colocando a mão nas cordas.

Levantei meu rosto assustada, com a respiração desregulada, e uma lágrima no olho.

- Tá' tudo bem? - A de olhos azuis vem se aproximando.

- Sim, ta' tudo bem - Corto o contato - Essa letra que é muito emocionante - Limpo meu nariz com as costas da mão.

- É uma linda canção. Sobre o que fala?

- Sabe, essa é mais uma coisa que não está na hora de contar - Dou um sorriso e vou até o guarda roupa devolver o ukulele.

- Você está me matando, Brown - Ela se joga na cama.

- Missão cumprida, Sink - Suspiro e me jogo ao seu lado na cama.

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NAO REVISADO

Que a Igreja pegue fogo {SILLIE}Onde histórias criam vida. Descubra agora