Treze

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— Me dá um Lá menor com sétima — Sadie pediu calmamente pela milésima vez.

— É esse? — Bati meus dedos no ukulele ouvindo um som horrível sair.

— Millie, eu já falei um milhão de vezes — Sadie veio até mim e arrumou minha mão no instrumento — O lá menor com sétima é totalmente solto, não tem segredo.

A ruiva pegou minha mão esquerda e a colocou contra as cordas.

— Pronto, um acorde.

Ela se sentou parcialmente frustrada em sua cama. Estávamos a pelo menos duas horas tentando me fazer tomar algum juízo com o ukulele, mas não estava tendo progresso.

— Sadie, por que você não toca ao mesmo tempo comigo? Onde está o seu ukulele?

Eu estava usando o que "compramos" no bazar, a ruiva havia colocado cordas nele e o limpado de cima a baixo, exatamente como eu pedi.

— Estou com preguiça de pegar ele, e ainda tem que afinar — Ela tombou as costas no travesseiro e jogou a mão no rosto — E se eu tocar junto com você vou te atrapalhar mais ainda.

— Como assim? — Disse olhando para o objeto em minhas mãos. Ele tinha uma pintura rosa desgastada e feia.

— Eu sou canhota, se você bater seus olhos em mim enquanto toca vai se confundir com os lados.

— Não sabia que era canhota.

— Eu tenho quase certeza que te falei — Sadie se levantou da cama e veio até mim.

— Não me lembro — Dei de ombros e lhe entreguei o ukulele — Por que não me disse antes que sabia tocar?

Perguntei afim de falar que queria ouvir ela tocando Party Favor, uma das minhas músicas preferidas no ukulele.

— Toda vez que eu digo que sei tocar as pessoas me pedem pra cantar uma da Billie Eilish — Encarei ela sem expressão, tentando não rir — Ou me pedem Mina do condomínio, mesmo que não seja no ukulele.

— E o que você gosta de tocar nisso? — Apontei a vendo segurar o instrumento.

— Eu gosto de tentar criar, mas nunca deu certo, então nesse caso eu gosto de tocar clássicos da música em geral.

— Posso escolher um pra você? — Perguntei me animando com a ideia.

— Se não me pedir Seu Jorge... não vejo problema.

Dei um sorriso grande para a ruiva e pensei por breves segundos.

— Trem das onze.

— Não lembro dessa música, coloque para que eu escute, por favor.

Peguei meu celular e dei play na música. Encarei Sadie que estava estática olhando para o instrumento enquanto a música continuava a passar.

— Pode pausar, acho que peguei.

Mas ao contrário do que eu pensava, Sadie não fez nenhum dos milhares de acordes que tentou me ensinar, ela apenas dedilhou fazendo um som semelhante ao da música fluir.

— Você com certeza já sabia tocar essa — Dei um peteleco em sua orelha.

— Obviamente não, esse não é me tipo de música — Ela me encarou com a cara torcida — Para de bater na minha orelha.

— Então toca seu tipo de música pra eu escutar.

— Quer que eu toque Sistem of a Down em um ukulele? — A de olhos azuis me olhou com deboche.

Que a Igreja pegue fogo {SILLIE}Onde histórias criam vida. Descubra agora