Vinte e oito

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— Então deixa eu ver se entendi — Comecei a falar assim que me levantei da grama — O Carlos não te disse nada sobre a música?

Sadie me olhou com cara de quem aprontou e em seguida negou timidamente com a cabeça.

— Nadinha. Eu até hoje não sei a tradução da música — A ruiva retirou um pequeno galho do meu cabelo.

— Então você descobriu agora que eu gostava de você? — Fiz um círculo com meus braços para sinalizar o local e a hora.

— Exatamente — Ela concordou com os olhos meio arregalados.

Encarei dentro dos olhos dela, pensando que poderia ser algum tipo de brincadeira, mas não, Sadie estava ainda chocada, e eu não estava diferente.

— O que te fez pensar que seria uma boa ideia enfatizar que tínhamos algo muito importante pra falar em espanhol — Corri pra cima da ruiva, tentando bater em seu ombro.

— O Carlos ficou vinte minutos tentando me ensinar qualquer coisa e foi aquilo que saiu — Ela falava entre os dentes enquanto andava para trás.

Fechei os olhos e respirei fundo, lamentando que estávamos no fim do barranco e infelizmente não havia outro lugar para jogar a ruiva.

— Ok, nós somos adultas — Passei as mãos no rosto e Bufei — Vamos logo para minha casa pegar essa carteira.

Pulei um pequeno muro que nos dava acesso a uma calçada bem afastada da avenida principal da cidade, pelo visto aquele barranco fazia uma ligação entre a comunidade e os de classe média.

— O Carlos nunca te disse que não me contou nada? — A voz de Sink continuou a falar atrás de mim.

— Não. Ele nunca te contou que não nos falamos mais?

— Como você esperava que eu conversasse com ele? Eu não entendo aquela língua.

— Eu não sei, Sadie.

Pisei os pés fundos no chão, tentando fazer aquilo me levar mais rápido até em casa. Aquela ruiva já estava me irritando.

— Você não fala mais com ele? Ele deve ter ficado super preocupado.

Paro imediatamente de andar, assim fazedo a ruiva bater em minhas costas.

— Eu nunca parei pra pensar nisso — Me virei para ela — Tudo que eu conseguia pensar era sobre como você tinha me traído.

— Vai começar?

  Olhei para os carros passando do nosso lado e então desisti daquele assunto, não estava pronta para perder meu réu primário.

...

— O que eu faço? Eu entro? Eu fico aqui fora? Eu pulo sua janela? Eu tento conversar com sua mãe?

Sink estava andando de um lado para o outro na porta da minha casa, eu estava pensando em qualquer coisa para acalmar ela, mas no final quem precisava ser acalmada era eu.

— Você trouxe seu celular, certo? Liga pro Finn ou sei lá.

— Sadie, pelo amor de Deus — Coloquei as mãos em seu ombro, a impedindo de continuar a rodar no gramado — Não faça eu me arrepender de não ter te jogado na frente dos carros.

Ela mesmo sem entender direito acenou positivamente com a cabeça.

— Nós vamos entrar, ir para o meu quarto, pegar o que precisamos e vamos embora sem olhar para trás, entendeu?

Sadie acenou com a cabeça outra vez.

Coloquei a mão tremendo na maçaneta, desejando fortemente que todos daquela casa tenham ido orar por mim na igreja. E de fato deu certo, a casa estava vazia.

As luzes apagadas, janelas fechadas e velas apagadas.

— Tá vazia. Vem.

Sinalizei para a medrosa entrar e então fomos seguindo para o meu quarto. Eu iria alertar outra vez sobre meu quarto ser um museu de bonecas, mas acho que a sardentinha estava merecendo um bom susto como lição.

  — Entra primeiro — Abri aporta com um sorriso meigo nos lábios, estendendo a mão para a ruiva seguir em frente.

Mas assim que ela entrou eu fechei a porta e segurei a maçaneta.

— Millie, você tem bonecas! — Ela gritou lá de dentro — Millie você tem muitas bonecas!

— Cuidado, algumas delas andam — Gritei não só para assustar, e sim alertar. Algumas delas realmente andavam, mas ela não precisava saber que estavam sem pilhas.

— Millie abre essa porta — Sua mão começou a forçar a maçaneta, e assim que percebeu que eu não iria abrir ela se desesperou — Millie me tira daqui!

Comecei a rir desesperadamente quando a ruiva começou a esmurrar a porta com toda sua força. Eu não estava nem de longe considerando abrir.

— Você já viu que tem um Good Guy aí dentro? — Minha barriga estava doendo de tanto que eu ria, estava até me curvando.

Outro grito.

Estava pronta para tirar onda com ela outra vez, mas então escutei a porta principal se abrir. Arregalei os olhos e entrei no quarto junto de Sadie.

  Antes que ela pudesse surtar comigo eu coloquei a mão em sua boca e sussurei — Eles voltaram.

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NAO REVISADO

Que a Igreja pegue fogo {SILLIE}Onde histórias criam vida. Descubra agora