Dois

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— Acorda, Millie — Levanto da cama em um pulo quando escuto minha mãe bater incessantemente em minha porta.

Tateio ao meu redor em uma rápida procura pelo meu celular, quando o acho acendo a tela e  vejo que não eram nem sete da manhã.

— Mãe, hoje é sábado — Vou andando até a porta com os olhos meio fechados — Por que me acordou tão cedo?

— Não interessa que horas são — Abro a porta — Temos visitas.

  — Que? — ergo as sobrancelhas ainda com os olhos fechados.

— Vá se trocar.

Fico parada encostada no batente da porta quando minha mãe sai, estava esperando um minuto para conseguir assimilar todas as palavras e colocar algum sentido nelas.

Sento em minha cama e limpo a baba no canto da boca com o dedo. Passo a mão nos olhos e me dou um tapinha na cara para despertar, mas o que realmente me despertou foi a garota ruiva da igreja na porta do quarto sorrindo para mim.

— Meu Deus, estou tendo um pesadelo — Digo para mim.

— Amém — Ela responde e entra.

— O que você...?

— Isso é jeito de receber visitas?

— Então você é a visita?

— Na verdade deveria ser apenas minha vó, mas eu resolvi vir junto para olhar sua carinha irritada outra vez.

— Você é insuportável, garota.

— Teve uma noite ruim? — Pergunta com uma falsa curiosidade.

— Tive, sonhei que tinha uma cebola empanada no meu quarto.

Fiquei em silêncio encarando a menina, até que ela começou a rir e eu a acompanhei como da última vez.

— De todos os apelidos que eu já tive na minha vida, esse foi o mais sem nexo de todos — Ela limpa uma lágrima falsa.

— Em momento algum eu afirmei que fosse você — Nos encaramos e rimos mais uma vez.

— Eu acho que a carapuça serviu — A ruiva me dá um sorriso simples.

— Desculpa, mas eu esqueci seu nome,  pode me lembrar? — Pergunto finalmente saindo da cama em direção ao armário.

— É Sadie, Sadie Sink.

— Seu sobrenome eu me lembro, sua vó é chata pra cacete, com todo respeito.

— Quando se mora com ela eu até concordo, mas você só vê ela as vezes — Sink responde pegando meu celular em mãos.

— E você convive com ela todos os dias? — Pego uma roupa em meu armário.

— Sim, desde meus 9 anos tem sido só eu e ela.

— Quantos anos tem agora? — Escolho um vestido qualquer que sempre uso quando tem visitas em casa.

— Quinze, quase dezesseis. E você?

— Tenho quase quinze. Será que você poderia sair do quarto? Eu preciso me trocar.

— Ah, tudo bem, eu te encontro lá embaixo.

Quando ela sai, coloca em um piscar de olhos o vestido florido que deixava meus músculos de fora, pego meu celular vendo que ele estava bloqueado por tentativas de colocar a senha falhas, e finalmente desco para a sala, onde provavelmente todos estariam.

— Bom dia — Digo a todos que me respondem o mesmo — Bença senhora Sink — Aperto a mão da senhora de setenta anos.

— Já conhece minha neta?

Que a Igreja pegue fogo {SILLIE}Onde histórias criam vida. Descubra agora