Desesseis

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— Te gusta ella, eso es todo — Carlos falou tedioso enquanto comia uma maçã.

— No me puede gustar, no soy lesbiana — Respondi o venezuelano, irritada.

Carlos era o mais próximo de um amigo que eu tinha dentro dessa escola, mas nesse momento estava a um passo de lhe dar um soco.

— Ya no me pidas ayuda — Ele se levantou de sua cadeira rapidamente.

Me desesperei por um segundo e puxei seu braço, eu precisava sim da ajuda dele.

— No puede ser amor, yo soy de la iglesia — Ofeguei confusa.

Minha conversa com Carlos estava me deixando mais confusa do que tudo, ele me dizia incansavelmente que eu a amava e que deveria me casar com ela. Péssima hora que aprendi seu idioma.

  — Dijiste que tenías ganas de vomitar junto a ella, y la besaste — Ele aumentou seu tom de voz quando disse sobre nosso beijo, o que me fez tapar sua boca as pressas, mesmo que ninguém mais falasse espanhol.

— Los amigos se besan, es normal — Disse sussurrando como se alguém mais pudesse me entender.

— Así que bésame, Millie — Arregalei meus olhos e me afastei quando escutei suas palavras.

— Nunca te besaría — Me calei quando percebi que soaria ofensivo.

— ¿Por qué? eso es lo que hacen los amigos — Ele levantou uma sobrancelha e se levantou logo em seguida — Piense en eso.

Assim que Carlos saiu me sentei no chão da sala de aula, sozinha com meus pensamentos.

Eu me sentia completamente perdida, eu tinha sim algumas questões estranhas com Sadie, mas em hipótese alguma eu chamaria aquilo de amor ou coisa assim. Eu nunca amei ninguém, nunca me interessei por ninguém assim.

Talvez seja por isso que eu esteja com dúvidas, um dos lados do meu cérebro gritava isso, mas eu preferia calar ele e fingir que não estava me esquivando disso por medo.

Eu sou da igreja, ela é da igreja. Ainda mais, ela não deve gostar de mim, isso deve ser algum surto que não compartilho com ninguém mais além de Carlos.

Durante a saída da escola, me peguei observando os casais no pátio, todos compostos por um menino e uma menina, todos se abraçando, se beijando, trocando carícias e recitando palavras de amor. Me sentia deslocada naquele lugar, sozinha, sem alguém pra me acompanhar.

— Está perdida? — Ouvi uma voz familiar perto do meu pescoço.

— Sadie? — Perguntei sem me virar, ainda agarrada nas alças de minha bolsa.

— Quem mais seria? — Senti a ruiva me abraçar por trás.

— Sadie, se minha mãe vir isso...

— O que? Somos amigas, não tem nada nisso.

Amigas.

— O que faz aqui? — Me soltei de seu abraço antes que desmaiasse no chão.

— Vim te buscar, o que mais faria aqui? — Ela deu de ombros — Não tenho nada pra fazer hoje, quer dar uma volta?

— Você diz agora? — Olhei para o portão da escola, onde meu irmão deveria aparecer logo.

— Mas é claro, ou vai dizer que tem algo mais interessante pra fazer?

— Eu não diria interessante, mas meu irmão ainda está lá dentro, preciso esperar ele, e ainda tenho que avisar minha mãe que vamos sair — Voltei meus olhos para a ruiva.

— Seu irmão já é grandinho, sabe se cuidar — Sadie colocou seu braço em meu ombro.

— Não é o que minha mãe pensa — Bufei.

Que a Igreja pegue fogo {SILLIE}Onde histórias criam vida. Descubra agora