A VIDA ANTES DO SURTO FOI UM SONHO, para grande parte das pessoas ao menos, para você no entanto foi uma montanha-russa. Tudo na sua vida correu em direção ao caos desde a morte de seu pai e sua madrasta, como voltar a Colômbia nunca foi de fato uma opção, se firmar no Texas acabou por se tornar sua vida.
Em algum momento Tommy entrou, e tudo pareceu ganhar cor, um pouco de vida a sua monotonia. Ele era o cara certo, ele foi. Mas o mundo quebrou. E diferente de você, que passou um par de horas buscando por ele, mesmo quando os rádios mandavam permanecer em casa, você ficou na rua buscando por ele, e mesmo depois de ver, não um mas vários infectados, correndo para você. Em algum momento seu carro estava cercado, era sua hora, teve medo de aceitar isso, mas não havia nada o que ser feito, no entanto o destino gosta de pregar peças em sua vida, a da vez foi um avião caindo, algo aconteceu, seu existindo de sobrevivência foi mais rápido que seu raciocínio, em um minuto você estava fora, no retorno para casa, o subúrbio era um caos a parte, você esperava achar Tommy em casa, se protegendo, te esperando, mas quando finalmente trancou e barricou sua porta e se viu só, na mera ilusão de estar protegida, percebeu que ele não estivera ali em nenhum momento. Talvez ele tenha sido pego por uma daquelas coisas.
Era uma possibilidade, mas você não acreditava nisso. Seu Tommy era maior que aquilo. Ele tinha sobrevivido a guerra do Golfo.Chamá-lo de seu, foi amargo, não como das outras vezes. O Miller mais novo nunca foi seu, seu abandono era uma prova viva disso.
Dez anos depois e sua vida tinha seguido pelos piores corredores. E nenhum dos momentos mais difíceis havia sido uma dádiva dos zumbis, não, era o ser humano, se provando a pior das coisas. Você passou por alguns QZs nada mais que temporário, cuidava de crianças que haviam ficado órfãs, era triste, os menores não sobreviviam, os que passavam da primeira infância seriam usados por um sistema corrupto, uma ditadura sem precedentes. Você era uma pequena engrenagem naquilo tudo, e te dava ânsia participar disso. No entanto, são nos momentos difíceis que se descobre até onde vai a moral na luta pela sobrevivência.
Dez anos, e nada de Sarah, Joel ou Tommy. Suas lembranças eram doloridas. Sua imaginação trabalhava duro quando se tratava da sua família. Às vezes eles estavam doentes e te atacavam, às vezes você atirava tantas vezes do peito de Tommy que quando parava podia ver o outro lado através dos buracos que escorriam carmesim.
Os piores no entanto eram aqueles fantasiosos em que Joel te encontrava, a lembrança do seu cheiro, da sua voz e de seu toque eram tão vívidas que você podia sentir impressa na sua pele. Nem sempre era bom, mas ver Joel nos sonhos era uma coisa que te mantinha alerta. Se fosse Joel, ele teria te buscado?****
Tommy tinha pesadelos, todos os que sobreviveram tinham , mas os dele consumiam seus ossos e dominavam sua alma, seu próprio inferno, como se a luta constante do dia a dia não fosse suficiente, ele precisava passar por todo seu arrependimento.
Às vezes tudo parecia tranquilo, você não estava lá, então um tiro ressoava no ar, o sangue manchando sua camisa, seu peito atingido, quando ele procurava pelo atirador encontrava você. Mas não doía, ele merecia. Esse era fácil.
Outro pesadelo frequente tirava seu sono, consumia seus dias. Você estava nos braços dele, chorando, sofrendo e sangrando, a dor era sua, e tudo que ele podia fazer era te abraçar enquanto implorava por ajuda, rezando para que você sobrevivesse, te acalmando.Você estava morta!
A verdadeira dor era não saber como, se você havia sofrido, se tinha sido rápido, se você estava doente. Eram muitas possibilidades, e nenhuma podia trazer paz a ele.
Joel não parecia humano. Joel se tornou algo longe do homem que foi antes do surto, perder Sarah, não voltar por você, tudo isso despertou algo que afastava sua humanidade. Tommy já tinha visto seu irmão matar, mas os anos o tornavam pior.
Tommy não diria isso em voz alta, mas uma parte dele temia o dia em que o Miller mais velho acordasse do torpor e percebesse tudo que tinha feito.
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O inverno estava se afastando lentamente do Norte, ainda não era um bom momento para sair do QZ, mas ficar ali estava te consumindo. A cada dia, se tornavam pior, ver pessoas sendo executadas em praça pública, crianças sendo afastadas de seus pais pela FEDRA, o caos da luta entre os vagalumes e os soldados, e você bem ali no meio de tudo, o medo consumindo cada particular sua, o desespero se tornando palpável.
Seu plano inicial era esperar a metade da primavera, mas o fim do inverno tinha uma vantagem que o bom tempo não permitia, menos infectados, o contaminação pelo cordyceps era menos incidente no inverno, se suas rotas estivessem livres você estaria em outro QZ na primavera, tudo dependia inteiramente da sorte. Você estava com medo, mesmo que sempre estivesse com medo, dessa vez era diferente, alguma coisa estava prestes a acontecer, você não queria acreditar nisso, mas sua intuição raramente falhava.
Seus suprimentos eram complicados, você gostava das armas que possuía, especialmente o par de revólveres que pertenceram a seu pai, mas durante o surto você se apegou a outra arma, uma Katana de dois gumes, você conseguiu após invadir um casa anos atrás, o dono, provavelmente um colecionador, havia deixado tudo para trás, você nem teria entrado, mas a curiosidade foi tão grande, e para sua surpresa a katana estava ali, você julgou ser útil, e foi, dias depois você a usou contra um infectado, muito mais eficaz e silenciosa que uma arma contra um estalador.
Mas entrar e sair com ela de um QZ era uma tarefa arriscada, especialmente sozinha.Sozinha. É assim que tem estado a muito tempo, quando a necessidade por companhia aperta, ou a falta do toque físico, calor humano não pode mais ser tolerada, você encontra alguém para aquecer seu colchão, uma noite e nada mais, rápido e duro, sem adoração. Nada de palavras gentis como Tommy fazia, era mais parecido com Joel. No entanto, no meio do fim do mundo, suas necessidades eram superiores, era egoísta, pegue o que precisa e saia. Qualquer coisa além disso, te trazia lembranças que deveriam ficar longe.
Tommy e Joel.
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Tommy guardou sua aliança, ela ficava pendurada em seu cordão do exército, junto com seu anel de noivado, por alguma razão, depois que tudo acabou, Joel entregou a aliança que outrora foi de sua mãe. Foi antes do seu quase fim.
— Se você a encontrar, devia dar isso a ela...
Tommy chorou. Naquela noite ele chorou, medo de perder o irmão, sua única família, medo do futuro, arrependido por não ter voltado. Tudo que ele estava guardando finalmente saiu em forma de lágrimas e soluços.
Quando paravam, Tommy se pegava rodando o anel entre os dedos, material frio contra sua mão era como uma lembrança de tudo que sua vida foi, um fio de esperança que ele mantinha, talvez você estivesse viva. Talvez, ainda o quisesse.
A visão do breakout para ele foi Joel e Sarah, ele quis te procurar, mas quando pararam com a caminhonete na frente da sua casa e seu jipe não estava ali, ele soube que tinha te perdido, sem tempo para te buscar, Joel não o deixaria. As palavras dele: "ela se foi, se foi", você não estava ali, será que tinha ido buscá-lo, procurar por ele e não foi capaz de voltar, não, ele sabia que você era capaz, você tinha passado por muita coisa, se caísse teria sido por escolha própria. Ele queria te segurar mais uma vez.
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Pedro Pascal | one-shot
Fanfictioncoletânea de contos, universos alternativos, drabbles e HC's de Pedro Pascal e seus personagens Por favor não leia se for menor de idade. Este homem tem moradia na minha mente desde que fez Oberyn Martell, mas nós últimos ele está ocupando todos os...