Receita de café

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Mesmo só tendo pegado no sono depois de Ava, Beatrice levantou mais cedo que ela naquela manhã. Até que Ava conseguisse parar de chorar e dormir, Beatrice não pregou o olho, ficando assim, pelo menos uma hora depois que Ava adormeceu.

A cabeça de Beatrice era invadida por vários pensamentos que faziam com que seus maiores medos lhe perseguissem. Apesar disso, Beatrice tinha tomado uma decisão naquela manhã ao acordar ao lado da mulher que ama: não iria mais se preocupar com o futuro. Tudo que tinha a fazer era viver o hoje, o agora e torcer pra que tudo desse certo enquanto o tempo fosse passando.

Ava acordou meia hora depois, procurando Beatrice ao seu lado da cama e ao não encontrá-la, levantou buscando por sua presença.

Enquanto andava pelos cômodos da casa, Ava sentia seu nariz ser invadido pelo cheiro de café que vinha da cozinha, a fazendo perceber que não estava sozinha.

Beatrice estava na varanda entre a casa e a floricultura, organizando o jardim onde havia uma considerável variedade de flores e rosas. O sol estava fraquinho, perfeito para que os corpos que agora ocupavam aquele espaço, fossem tomados por vitamina D.

-Você fica ainda mais perfeita aí, em meio as flores. - Ava disse ao ver Beatrice.

A asiática virou rápido, vendo Ava passar pela porta em sua direção. Beatrice levantou do chão, tirando a luva das mãos e segurando as mãos de Ava.

-Já acordou? Estava preparando café da manhã e ia levar pra você na cama. Beatrice reclamou.

-Acordei porque você saiu do meu lado. Fazia muito tempo que eu não dormia tão bem. - Ava encostou os lábios nos lábios de Beatrice, deixando um selinho demorado.

-Então me desculpe, meu amor! - Beatrice disse de forma exagerada.

-Meu amor, é? - Ava queria que Beatrice dissesse novamente, que confirmasse que aquele sentimento tão bom que estava sentindo, era recíproco.

-Tá cedo demais pra te chamar de meu amor? - Beatrice perguntou, agarrada a cintura de Ava.

-Demorou demais! Devíamos ter dito por telefone e eu devia ter te contado aonde eu estava pra você ter vindo antes. - Ava a beijou novamente.

-Sou obrigada a concordar! - Beatrice beijou o pescoço de Ava. - O café! - Beatrice soltou Ava e correu em direção a cozinha.

O café tinha fervido e derramado, deixando o fogão completamente sujo.

-Por sorte não apagou o fogo. - Beatrice falou enquanto tirava as peças do fogão para limpar.

-Esse jeito de fazer café é novo pra mim. - Ava comentou.

-E como você faz café? - Beatrice indagou!

-Coloco o pó no coador e depois a água quente. Nunca vi ninguém ferver tudo junto. - Ava achava interessante acompanhar Beatrice fazendo a limpeza do fogão.

-Esse é o jeito modinha de fazer café. O meu é o jeito tradicional. - Beatrice sorria enquanto falava.

Quando terminou de limpar o fogão e organizou a mesa do café da manhã, Ava e Beatrice sentaram a mesa e comeram juntas.

O celular de Beatrice vibrou em cima da mesa, aparecendo uma mensagem de Suzanne com um novo caso.

-Não vai ver a mensagem? - Ava perguntou, notando Beatrice um pouco apreensiva.

-Ah, não! Deve ser bobagem. - Beatrice fingiu que não ligava para o que tinha acabado de acontecer.

-E se não for? - Ava pegou o celular. - É melhor você ver. - Entregou o aparelho a Beatrice.

-É bobagem! Depois vejo. - Beatrice disse rápido, levantou da mesa e colocou o celular no bolso.

-Você ficou nervosa. Quem é Suzanne? - A pergunta de Ava desestabilizou Beatrice ainda mais.

-Uma colega de trabalho. Se eu responder ela vai encher meu saco o resto do dia. - Beatrice pensou rápido, e apesar de não ter se convencido totalmente, Ava resolveu seguir adiante.

-Vou precisar ir pra pensão. - Beatrice disse indo em direção ao banheiro.

-Tudo bem. Vou arrumar as coisas por aqui pra poder abrir a floricultura. Que horas vamos iniciar nossos treinos? - Ava perguntou animada.

-Quando fechar a floricultura mais tarde. - Beatrice respondeu depois de cuspir a água que tinha na boca, segurando uma toalha na mão.

Ava estava no quarto, organizando o lugar quando foi dobrar os lençóis do sofá que Beatrice iria dormir na noite anterior. Depois de dobrar os lençóis, levantou o travesseiro e se deparou com uma pistola ali embaixo.

-Que merda é essa? - Ava perguntou, levantando assustada.

Beatrice correu para o quarto ao ouvir a voz assustada de Ava.

-O que houve? - Beatrice perguntou ao entrar rápido no quarto.

-Houve isso aqui. Como você traz um treco desse, Beatrice? Eu te disse que não gosto de armas. - A voz de Ava estava trêmula, assim como todo seu corpo.

-Calma! É pra nossa proteção. Eu te falei que tinha uma.

-E não achou que era interessante me falar que iria trazer pra cá? Eu te falei que não gosto de armas.

-Sim, você falou que não gosta, mas não imaginei que você ficaria tão nervosa diante de uma. Tá aqui, vou guardar. Calma!

Beatrice pegou a pistola, conferiu a trava e a guardou na calça, nas costas.

-Eu tenho pavor a isso, Beatrice. Por favor!

-Eu tô vendo. Você poderia ter me falado que ia além de não gostar. Você pode me falar qualquer coisa.

Beatrice estava se sentindo culpada ao ver o estado que Ava estava ao ver a arma no sofá. Ava convivia com seguranças armados em sua casa, então era improvável que Beatrice sequer fosse capaz de supor que ali havia algum tipo de trauma.

-Eu peguei uma dessas quando eu tinha cinco anos e quase matei uma funcionária da minha casa sem querer. - Ava despejou, tirando um peso de si. - Eu atingi a mulher na coluna e desde então ela perdeu os movimentos da cintura pra baixo. - Ava continuou dizendo.

-Não foi sua culpa. Não foi porque você quis. Você era só uma criança. - Beatrice tentava minimizar o sentimento de culpa que Ava tinha.

-Mas isso não muda o fato de eu ter quase acabado com a vida de uma pessoa. - Ava sentou, deixando seus ombros debruçados.

-Por mais que não seja o momento ideal, vou falar mesmo assim. Você deveria ressignificar isso e como adulta, principalmente na atual situação, ver a arma de uma forma diferente. Você pode precisar se proteger e se não souber atirar, pode ferir alguém que não merece. Aprender a usar a arma diminui as chances disso acontecer. - Beatrice falou com uma voz mansa.

Ava olhava para Beatrice com os olhos cheios de lágrimas e a testa franzida, como se estivesse pensando no que tinha acabado de ouvir, e talvez até reconsiderando.

Avatrice - Assassina De Aluguel Onde histórias criam vida. Descubra agora