Segredo compartilhado

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-Você tem mesmo que ir? - Ava perguntou com o rosto colado na porta de entrada da floricultura.

-Preciso. Amanhã cedo vou ajudar a organizar alguma coisas na pensão. A coitada da Carol não dá conta sozinha e agora eu tenho uma dívida enorme com ela, né? - Beatrice sorriu, segurando no poste em frente ao estabelecimento.

-É uma pena. Ficaria a noite inteira com você. - Ava não tinha vergonha de assumir.

-Desse jeito vou deixar a Carol na mão. - Beatrice voltou a se aproximar de Ava e lhe deu mais um beijo.

-Vai! Se tem que ir, vai logo. - Ava empurrou Beatrice que voltou e lhe beijou de novo.

-Ava? - JC chegou na hora.

-Ah, oi... - Ava ficou sem jeito, arrumando o cabelo atrás da orelha. - Eu não sabia que você viria aqui...

-Não se preocupa, eu não deveria ter vindo mesmo. - JC deu as costas.

-Não precisa ser assim, JC. - Ava não queria que ele ficasse magoado.

-Não precisa ser assim? - JC virou para Ava. - Você por acaso está se escutando? Ontem você estava me beijando. Hoje eu chego aqui e você está aos beijos com outra pessoa.

-Eu te falei que estava confusa. - Ava tentou contornar.

Beatrice observava a discussão dos dois. Naquele momento ela estava tendo a certeza que os dois estavam envolvidos romanticamente.

-Você disse que não sabia por que queriam te matar. Pelo visto você é tão cretina quanto seu pai. - JC não se conteve.

-Eu te contei em segredo e agora você joga isso na minha cara? - Ava estava magoada pela fala de JC.

-Segredo é o cacete. Quero mais é que você se foda. - JC saiu rápido dali.

Ava colocou as mãos na cabeça, sem saber o que fazer. JC sabia a verdade sobre ela, mas agora estava transtornado e se sentindo traído. Tudo poderia vir a tona a qualquer momento.

-Você contou pra ele? - Beatrice perguntou.

-Contei. Eu me deixei levar... Tava me sentindo sozinha. Precisava desabafar com alguém. Meu Deus, que merda eu fiz? - Ava não se perdoava por aquilo.

-Você não pode mais ficar aqui, Ava. Precisa ir embora. - Beatrice estava apavorada, pensando que o pior poderia acontecer.

-Ele não conhece ninguém e também não teria coragem de fazer isso. - Ava sempre esperava o melhor das pessoas.

-Você é inocente demais. Fique com sua arma próximo a você. Precisa se defender caso algo aconteça. - Beatrice aconselhou.

-Arma? Que arma? Eu detesto isso. - Ava falou com a testa franzida.

-Você não tem uma arma? - Beatrice se surpreendeu, mas não deveria.

-Claro que não. Você tem uma arma? - Ava questionou Beatrice.

-Claro que tenho. Eu sou uma mulher que mora sozinha. Preciso saber me defender. - Beatrice argumentou. - E também fiz aula de algumas lutas. - Era melhor ir incluindo algumas verdades de sua vida, caso fosse necessário demonstrar.

-Armas servem para matar, Bea. Eu não quero morte perto de mim nem nada que remeta a ela.

-Qualquer coisa serve para matar. Um garfo, uma colher, uma chave. Tudo isso mata. - Beatrice não percebeu que falava como uma especialista e para sua felicidade, Ava também não.

-É diferente. Enfim...

-Você devia vir pra pensão comigo. - Ava aconselhou novamente.

-Não posso. Tenho que acordar cedo também. Muitas coisas pra fazer na floricultura.

-Então eu vou ficar aqui com você. - Beatrice disse.

-Não precisa. Sério. Pode ir de boa. O JC é inofensivo. - Ava insistia.

-Ele jogou seu maior segredo na sua cara na primeira oportunidade que teve, Ava. Acorda! - Beatrice segurou o braço da outra.

-Você acha que ele faria alguma coisa com isso? Pra quem ele falaria? Como? - Ava estava confusa.

-Não sei, mas é melhor não arriscar. Inclusive, você deveria informar ao seu pai que abriu a boca sobre isso.

-De jeito nenhum! Ele vai me encher a paciência e isso é tudo que eu menos quero.

-Então está decidido. Eu vou dormir aqui. E amanhã você vai providenciar uma arma, um curso de tiro e de defesa pessoal.

-Mas nem morta! - Ava detestava armas e violência.

Ouvir as palavras de resistência de Ava fazia Beatrice pensar que ela nunca a perdoaria se soubesse a verdade sobre ela. A cada momento, tinha mais certeza que a verdade sobre isso jamais poderia vir a tona, ao mesmo tempo que sabia que Ava não aceitaria ajuda de estranhos ou de seu pai para se proteger.

-Então eu te ensino. - Beatrice balançou a cabeça, zangada pela teimosia da pequena mulher a sua frente.

-Aí talvez eu possa repensar. - Ava falou com a voz arrastada - Mas só a parte da defesa pessoal. - Ava era firme contra o armamento.

Beatrice se aproximou de Ava mais uma vez e lhe deu mais um beijo demorado. Estava adorando poder sentir o cheiro bom que vinha da boca de Ava e a suavidade de seus lábios.

-Me espera aqui com tudo trancado que eu já volto. Preciso pegar algumas coisas na pensão e avisar a Carol que não vou voltar.

Beatrice se certificou antes de sair que a floricultura estava totalmente fechada. Na pensão, Carol entrou acompanhada da arquiteta de olhos puxados, praticamente sendo carregada nos braços por ter passado do ponto na bebida.

-Então você vai dormir na casa da sua amiga? - Carol falava meio embolado. - Seguiram meu conselho e não vão perder tempo. Só fico triste porque não arranquei nenhuma casquinha desse corpinho maravilhoso aqui. - Carol se segurava nos botões da camisa de Beatrice, puxando o corpo da mulher para si, trazendo seus olhos puxados para mais perto ainda.

-É... Como você disse, eu e ela não vamos mais perder tempo, e complementando, também não vamos fazer besteira como essa que tá prestes a acontecer aqui. - Beatrice abre os dedos de Carol, um a um, soltando-os de sua camisa.

-Além de tudo ainda é fiel. Por que eu não encontro alguém assim? - Carol colocou a mão no rosto, se lastimando. - E quando encontro, jogo pra cima das outras que eu nem sequer conheço. Espero que aquela gata maravilhosa te mereça e te faça feliz, mas se ela não fizer, eu tô aqui, tá bom? - Carol queria que Beatrice tivesse certeza de seu interesse.

-Tá bom... - Beatrice apenas ria das frases que estava ouvindo.

Antes de entrar em seu quarto para pegar suas roupas e sua arma, Beatrice se assegurou que Carol estivesse na cama, para descansar para o dia seguinte. Só depois de tudo garantido, Beatrice retornou para a casa de Ava, observando as ruas desertas aquela hora da madrugada.


...


Capítulo postado em homenagem ao feriado de amanhã, tão esperado por mim.

Avatrice - Assassina De Aluguel Onde histórias criam vida. Descubra agora