Trompete

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Já era quase noite quando Beatrice saiu em direção a um galpão na cidade. Tinha alugado uma moto em uma loja de aluguéis de veículos, para se locomover por alguns dias, quando houvesse a necessidade de ir para longe.

Desde criança, Beatrice tinha fascínio por motos com design retrô e aquela loja tinha várias opções que fizeram aqueles olhos negros brilharem.

O caminho até o galpão era seco, sem movimentação, mas com algumas montanhas de pedras e areia, por estar próximo a uma pedreira abandonada. O lugar era um reduto do homem  que ela deveria matar, por isso, teria que tomar cuidado, principalmente para sair de lá.

Antes que chegasse ao galpão, Beatrice escondeu a moto atrás de uma das montanhas de pedra, e foi a pé, com bastante cuidado, até um lugar onde poderia montar sua arma e esperar o momento correto de puxar o gatilho.

Por mais que Beatrice tivesse sentido que JC, não era um simples cara trabalhador, a asiática tinha decidido que iria acreditar no que Ava preferia crer e ver aquele rapaz com bons olhos. Seria bom acreditar que Ava não estava diante de tantos perigos ao estar ao lado do rapaz.

Alguns minutos depois de estar com sua arma preparada para cumprir aquele trabalho, Beatrice viu a porta do galpão se abrir, enquanto um caminhão baú se aproximava.

Lá estava ele, seu alvo saia pela porta, se aproximando do caminhão. O motorista abriu a porta do veículo e desceu, ficando de frente para a localização de Beatrice. Era JC. Beatrice tirou o olho da mira da arma, levantou a cabeça e viu de longe a imagem do quase ex namorado de Ava que se aproximou da parte traseira do caminhão e abriu as portas. Cerca de quinze pessoas desceram amarradas e com vendas nos olhos. JC era cúmplice de seu tio!

-Porra! - Beatrice falou para si mesma. - Esse cretino sabe de tudo.

Cinco homens saíram de dentro do galpão e começaram a ajudar a trocar as pessoas de veículo.

-JC, eu quero que você fique mais presente nos negócios, me ajudando em tudo, desde as burocracias que esse nosso trabalho nos exige a cumprir. - O tio de JC segurava na nuca do sobrinho.

-Claro, tio. Eu quero ajudar no que você precisar. Basta me dizer o que e como fazer. - JC admirava o tio, mesmo sabendo que tudo que ele fazia era ilegal e fazia mal as pessoas.

Beatrice olhava a cena de longe. Era visível a conexão e amor que existia entre os dois. Sem pensar mais, Beatrice fincou os olhos na mira de sua arma e puxou o gatilho. A bala entrou diretamente na têmpora direita do homem, saindo pela esquerda.

JC segurou o corpo morto do tio. Estava assustado, gritando por ajuda e olhando para os lados, buscando de onde tinha vindo o disparo que o deixava órfão mais uma vez. Seus olhos estavam cheios de lágrimas e de desespero.

Os homens que trabalhavam para eles se dispersaram, buscando se proteger e identificar o local do tiro. Era impossível! Não viam nada, não ouviam nada.

Beatrice saiu por onde tinha chegado, dessa vez com mais pressa. Os homens, ao perceberem que não teriam mais tiros, saíram em busca do atirador e viram ao longe um vulto descer as montanhas de pedras que derraparam e fizeram barulho.

-Ali! - Gritou um dos capangas.

JC tirou os olhos do tio e olhou rápido na direção para onde os homens se dirigiam. Arrancou da calça do tio a chave do carro, entrou no veículo 4x4 preto que estava estacionado ao lado do galpão e saiu em alta velocidade, decidido a acabar com as próprias mãos com quem tinha matado seu tio.

Beatrice estava com a caixa de sua arma entrelaçada ao corpo, mas com uma pistola na mão. Quanto mais corria, mais parecia que os homens se aproximavam.

-Que pedras filhas da puta do caralho! - Beatrice se lamentava por ter sido vista.

Abaixou a cabeça na velocidade da luz quando ouviu disparos sendo feitos em sua direção. Olhou para trás e desferiu dois tiros, acertando dois, dos cinco homens que a perseguiam. Os outros três homens que continuaram com vida, se esconderam ao perceber a mira da mulher.

Foi o tempo exato para que Beatrice subisse em sua moto e acelerasse, se se livrando do perigo que corria ali, quando percebeu que um carro preto corria em sua direção.

JC sacou a arma e atirou três vezes pela janela do carro. Beatrice se distanciou do carro, freou o mais longe que pode e virou na direção do veículo, atirando nos dois pneus da frente.

JC freou o carro de imediato, quase capotando, mas conseguindo evitar o pior. Mesmo com a viseira do capacete baixo, se JC estivesse mais próximo, talvez fosse capaz de reconhecer Beatrice.

-Eu vou acabar com você! - JC gritou para a pessoa parada a cem metros de distância e caiu de joelhos, colocando as mãos na cabeça, trazendo a mente a imagem de seu tio, morto no chão.

Beatrice acelerou a moto, levantou um pouco de areia em uma leve derrapagem e saiu dali tranquilamente.

Quando chegou na pensão, Beatrice andou rápido em direção ao seu quarto, mas foi interrompida por Carol.

-Nossa! Não sabia que você toca instrumento musical. - Carol viu a caixa da arma nas costas de Beatrice e achou que se tratava de algum instrumento.

-Não! Não toco! - Beatrice disse respirando fundo.

-E o instrumento? - Carol perguntou.

-Presente. Para um amigo. - Beatrice informou.

-Posso ver? - Carol insistiu.

-Claro! - Beatrice tirou a caixa das costas e abriu ali mesmo.

-Nossa! Que lindo! - Carol expressou ao ver o trompete dentro da caixa.

-Também acho ele lindo. - Beatrice fechou a caixa e girou a maçaneta da porta. - Preciso ir. A Ava está me esperando.

-Tudo bem. Vai lá. - Carol deu as costas e entrou em seu quarto, que ficava ao lado do de Beatrice.

Quando fechou a porta do quarto, Beatrice encostou na parede e suspirou. Andou até a cama e colocou a caixa ali em cima, a abrindo e depois abrindo o fundo falso que ficava em baixo do trompete.

-Ele é lindo, mas você é mais. - Beatrice beijou sua arma e fechou a caixa novamente.

Avatrice - Assassina De Aluguel Onde histórias criam vida. Descubra agora