A verdade

225 24 7
                                    

Ava levantou da cama depressa, assim como depressa as mãos de Beatrice agarraram as suas.

-Ava, por favor.

-Você matou o tio dele? - As lágrimas de Ava foram rápidas ao rolar em seu rosto.

-Eu posso te explicar. Eu juro que posso. Mas nós temos que sair daqui. Me escuta.

-Meu Deus! Como eu pude ser tão burra?! Tudo que ele disse é verdade?

-Eu não sei. Eu sinceramente, não sei. Mas muita coisa que ele disse pode ser verdade.

-Eu não quis ouvir. Eu disse a ele que era mentira. Que tudo não passava de um mal entendido e que eu ia tirar tudo a limpo. Pelo visto, ele tinha razão.

-Me escuta, pelo amor de Deus.

-Que porra de Deus? Você nem acredita em Deus, eu tenho certeza.

-Isso não vem ao caso, Ava. O JC é perigoso. Agora mais que nunca. Você não está segura perto dele.

-E você não é perigosa? Perto de você eu estou segura?

-Eu te amo, Ava. Eu te amo como nunca amei ninguém nessa vida e como sei que não irei amar nas próximas.

-Por isso você mentiu pra mim esse tempo todo? Por que eu?

-Tudo bem. Eu vou te explicar tudo. Tá bem? Só senta aqui, por favor. Pra me ouvir até o fim. - Beatrice apontou para a cadeira onde a jaqueta estava estendida.

-Foi a jaqueta que te entregou, sabia? Foi o que ele disse. Você usava essa mesma jaqueta quando matou o tio dele.

Beatrice passou aquele tempo todo sem usar a bendita jaqueta, e crendo que JC não voltaria mais, a usou novamente, justamente naquele dia. Talvez Suzana tivesse razão e Beatrice já não é mais a mesma de antes.

-Até certa idade eu fui criada em um orfanato católico. -Beatrice começou. - Depois de um tempo, fui levada pra um tipo de abrigo diferente.

Ava soltou um sorriso de lado, não sabia se poderia de fato acreditar nas histórias que lhes seriam contadas dali em diante.

-Será que eu posso acreditar em alguma coisa que saia da sua boca a partir de agora? - Ava perguntou diretamente.

-Eu prometo que não vou mentir. Por mais que possa fazer você não querer mais olhar na minha cara, tudo que eu disser daqui por diante, será verdade.

-Não sei se acredito. - O coração de Ava estava machucado. Era como se tudo que viveram até ali, nada daquilo fosse verdade. -Mas, continua. Você foi pra um abrigo diferente e...

Beatrice se aproximou da cama, sentou no canto, ficando de frente para Ava.

-Lá não funcionava como um abrigo comum para órfãos. Eles escolhiam crianças com "futuro promissor" - Beatrice gesticulou as aspas nas duas palavras. -Nesse lugar, nós éramos treinados. Passávamos dias de fome, de sede, de sono. Éramos levados a exaustão máxima. Torturados. Era um campo de concentração para treinar assassinos.

-Meu Deus! - Ava estava perplexa com o que estava ouvindo. De tudo que passou por sua cabeça, desde que falara com JC, isso jamais lhe passou a mente.

-E é isso que eu sou, Ava. Eu sou uma assassina. Eu matei o tio do JC.

Era como se o mundo de Ava despencasse. Em contrapartida, Beatrice sentia um peso enorme sair de seus ombros. O silêncio dentro do quarto perdurou alguns segundos, o mesmo tempo que levou até às lágrimas de Beatrice também rolarem pelo rosto, ao ver a reação na face de Ava. O temor que estava tomando conta da pessoa ali a sua frente. As únicas palavras que passavam pela cabeça de Beatrice eram: EU A PERDI.

Era doloroso demais saber que aquilo poderia ter acontecido. Mas era compreensível. Como Ava iria querer alguma coisa com uma mulher que matou tanta gente a sangue frio por tanto tempo?

-Eu tenho medo.

-Eu jamais te machucaria, Ava.

-Eu sei disso. Eu não tenho medo de você me machucar. Não fisicamente. Eu tenho medo do que pode acontecer com você por você ser quem é. Eu tenho medo... Que alguém mate você. O JC não vai deixar barato.

-Então você ainda me ama? - Beatrice não se importava com o perigo que pudesse estar correndo. A única coisa que lhe era importante naquele momento, era saber se o sentimento de Ava por ela, ainda existia.

-Isso não é o mais importante agora, Beatrice. - Ava levantou da cadeira, limpando o rosto com as palmas das mãos e as colocando no bolso da calça preta que vestia.

-Claro que importa. É a única coisa que importa pra mim.

-Você precisa sair daqui. Fugir do JC.

-Não posso. Não posso deixar você. Ele conheceu seu tio. Com certeza sabe que sua cabeça está a prêmio.

Ava fez uma expressão de espanto e medo.

-Como você sabe disso?

-A mulher das flores. Ela é minha mentora e estava seguindo o JC.

-Meu Deus! Mais mentiras sendo descobertas. Você conhecia a mulher o tempo todo.

-Eu não podia te contar, Ava.

-Bom, eu vou voltar pra loja. Você precisa desaparecer. Se vocês se cruzarem...

-Nós vamos nos cruzar. Eu não vou deixar que ele mate você a mando do seu tio ou por vingança contra mim. Eu mato ele antes. - Beatrice pegou a pistola que estava em cima da cama, e colocou na parte traseira de sua calça.

-Eu não vou deixar você matar o JC. - Ava segurou Beatrice pelo braço, a impedindo de recolocar o fundo falso da arma.

Com toda paciência, Beatrice levantou devagar o tronco inclinado sobre a cama. Fechou os olhos com força, respirou fundo e pegou nas mãos de Ava devagar.

-Isso não está em discussão, Ava. Eu vou matar o JC e qualquer outra pessoa que possa se aproximar de você e do Joaquim e lhes fazer mal.

-Você não tem que fazer isso. - Ava diz com os olhos um pouco marejados. Era como se a Beatrice que conhecia meia hora atrás e aquela que estava a sua frente, fossem pessoas totalmente diferentes. -A culpa disso tudo é do meu pai e você não pode matar o meu pai por vontade de me proteger.

-Poder eu posso, mas não vou. Pelo contrário, se você me atrapalhar em te proteger, eu ligo para o seu pai de imediato e as ordens dele serão expressas.

-Espera aí! Você segue ordens do meu pai? Você o conhece? - Os olhos de Ava agora estavam tomados por certa raiva.

-

Avatrice - Assassina De Aluguel Onde histórias criam vida. Descubra agora