Yara
Encarando o teto por longas horas, bufo irritada ao perceber que realmente nada me faria dormir agora. Viro meu rosto para encarar a loira que dormia tranquilamente e desengonçadamente ao meu lado, sorrio de canto e volto a atenção para o teto novamente.
Tantos pensamentos vagos sobre tudo, não falo com meu pai a duas semanas, e isso me deixa extremamente chateada e cansada. Eu não queria que as coisas tomassem esse rumo, mas ele errou, por mais que eu esteja me precipitando demais por concluir uma traição, mas oque eu posso dizer, sendo que está tudo tão na cara.
Talvez eu o chame pra conversar depois dessa viagem toda. Eu preciso me resolver e preciso agir na calmaria.
Levanto meu troco para sentar na cama com cuidado para que Ester não acorde, olho pela última vez para a loira checando de que realmente não a acordei, assim que confirmo me levanto e em passos lentos vou até a varanda. Está tudo tão calmo e silencioso, as árvores balançavam-se lentamente com a brisa fresca, o lago estava tão calmo e escuro, haviam uma pequena neblina entre as montanhas, o céu continuava tão estrelado e limpo tornando aquela uma paisagem realmente de tirar o fôlego.
Fecho meus olhos sentindo o a brisa batendo contra minha pele quente, cada pelo de meu corpo se arrepiava com o choque. Sorrio de canto e me debruço levemente apoiando meus braços nos cercados da varanda.
Um cheiro reconhecivel e queimado invade minha narinas e rapidamente olho para o lado, a fumaça desagradável e suportável me deixava incomodada, mas não tanto quanto o causador dela.
Assim com eu, inclinado sobre a varanda com seu cigarro sobre os dedos, encarando algum ponto fixo, pensativo. Ele sabia que eu estava aqui, mas não falou absolutamente nada.
Suspiro pesadamente voltando a encarar a paisagem a minha frente pela última vez antes de entrar. Assim que faço menção de me virar para entrar sou interrompida.
— Um dia, uma pessoa me disse que as árvores dormem, assim como nós.– sua voz soava baixa, mas eu conseguia ouvir com clareza. – que quando está de dia, basta observa-las que verá que são mais radiantes e "alegres"– o rapaz faz uma pausa e traga seu cigarro antes de continuar.– e a noite, estão encolhidas e escuras, como se realmente dormissem.
Encaro as árvores e volto minha atenção ao rapaz, que ainda não olhará para mim.
— eu acredito muito nisso, afinal, são seres vivos também.– completa antes de finalmente me encarar e soltar a fumaça em minha direção. Seus globos castanhos estão mais escuros pela pouca iluminação, ele estava sereno, sem expressão alguma, muito calmo. Me mantenho calada, apenas o encarando, assim como ele faz.– impressionante como balançam lentamente quando o vento as encontra, é fascinante observa-las. De certeza que algumas delas tem insônia, assim como nós.
Seus olhos encontram os meus e uma onda de sentimentos sensíveis invadem meu corpo como se eu houvesse sido atingida por algo. Por mais queira, nunca, nunca consigo deixar suas intimidadoras e obscuras bolas cor de mel, que sempre que me encontram, tenho a impressão de que conseguem enxergar além de só meus olhos.
Sentindo cada órgão dentro de meu corpo estremecer e se comprimir, aperto minhas mãos sobre madeira da varanda como garantia de que minhas pernas não vacilariam.
Por mais que eu tente ao máximo disfarçar, ele sabe. Eu sei que ele sabe.
— me diga, querida, oque tira seu sono?– o rapaz caminha até mim e para na borda de sua varando, agora mais próximo. Seus olhos desviam-se dos meus para analisar-me de cima a baixo.
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Tentacion | Aron Piper
FanfictionAssim que ele adentra a janela do meu quarto, posso sentir meu corpo todo estremecer. "não pode estar aqui."- finalmente crio coragem de dizer algo. Ele sorri e assente, mas ao invés do rapaz voltar a janela, caminha em minha direção. "você diz para...