Capítulo 5

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     O deserto era extenso, e a noite já tinha chegado, precisávamos achar alguma solução brilhante. Pego a lanterna e ligo.
      — Não podemos simplesmente dormir no chão né? — olho para o lado e vejo que Hak já estava longe.
     Corri atrás do danado, ele cantarolava alguma coisa enquanto andava.
     — Me espera! — grito pra ele.
     Ele olha pra trás e ri. Eu odiava correr, mesmo o macacão segurando bem, meus seios davam um jeitinho de balançar, a mochila sacudia nas minhas costas, eu mal tinha chegado e já estava morrendo.
     — Por que saiu assim?— pergunto ainda tentando alcançá-lo.
     — Você estava olhando pro nada, toda parada...
     — Eu estava pensando.
     — Ah! Você pensa!
     — Então a gente vai só andar assim? 
     — A gente precisa encontrar um lugar pra organizar tudo.
     — Não parece ter muita coisa...
     — Vamos continuar andando.
     — É seu melhor plano?
     — Tem outra idéia?
     — Normalmente eu poderia dizer umas palavras e fazer uma casa aconchegante.
     — Mas não pode fazer isso.
     — Eu sei! Por isso tive outra idéia.
     Ele para e olha pra mim, abro o mapa e procuro algum tipo de relevo.
     — Não adianta ficar procurando aí, quando o sol sair você vai derreter.
     — E você vai virar poeira de vampiro.
     — Não é bem...
     — Vampiro! — ponho a mão na boca dele.
     Retiro a minha mão e limpo na roupa dele enquanto ele cospe no chão e esfrega a mão na boca. Olhamos um para o outro.
     — Por que fez isso? — ele diz.
     — Você é um vampiro! — as ideias se conectam na minha mente.
     — Só descobriu agora?
     — Desculpa, achei que era um zumbi...  — reviro os olhos. — Escuta Zé Mané, você pode abrir suas asas de borboleta e ver pra que lado a gente tem que ir.
      — Ou você pode fazer uma torre de gelo enquanto sobe e olhar de lá de cima. 
      — Mas como eu iria descer??
      — Não é problema meu...
      — Anda logo vai. Abre as asas de borboleta.
      — Não é asa de borboleta!
      Ele deixa a mochila no chão, abre as imensas asas de morcego e sobrevoa o local, depois desce e pega a mochila, voltando a caminhar sem me esperar. Acompanho ele e após uma boa caminhada, chegamos em uma árvore.
      — Uma árvore... — digo um pouco decepcionada.
      Ele olha para frente e sigo seu olhar, haviam algumas outras árvores por ali, ao longe, ele anda em direção a elas e sigo ele. Hak pega a bússola, anda para o meio das árvores e olha para a bússola,  põe a mochila no chão e  abri o mapa.
     — Isso tá confuso... — junto as sobrancelhas.
     — O que?
     — Como vamos saber onde estão?
     — Procurando!
     — E por onde começamos? Esse lugar é enorme, e estamos a pé.
     — Vem aqui.
     Chego perto dele, ele aponta para um lugar do mapa. Não parecia ter nada ali.
      — Em uma missão anterior, tinha caminhões passando aqui.
      Olho bem pra a cara dele, procurando algum sinal de piada ou pegadinha.
       — Aqui parece ser uma área de proteção ambiental, é um disfarce pra outra coisa.
       — Entendi.
       O dia estava chegando, e aos poucos a luz do sol invadia o lugar, era algo lindo de ver, muito lentamente a luz rastejava pelo chão, estava vindo em nossa direção eu estava, fascinada.
       — Então temos que dar uma olhada nessa área.
       — É mas não agora.
      Ele usa uma corda para amarrar um pano na árvore. Coloca o saco de dormir no chão e deita sobre ele.
      — Você vai dormir agora?
      — O dia tá amanhecendo, eu não tô afim de tomar sol.
      — Ah, tá bom.
      Coloco meu saco de dormir não tão perto dele e sento.
      — Então você dorme de dia...
      — Não dá pra andar nesse sol Karen!
      — Mas a gente não vai andar no sol, estamos na terra! Seus miolos já foram queimados? — começo a rir. Adoro piadas ruins.
      Ele vira para o outro lado, acho que a paciência dele tinha acabado.
      — Se o sol te pegar o que acontece?
      — Eu já andei de dia Karen! Todo dia na escola. Eu não virei pó e você não derreteu, mas se você não ficar quieta eu vou te morder!
      — É, mas é engraçado pensar assim. — solto uma gargalhada.
       Ele se vira rapidamente e morde meu braço. Uso o pano para limpar o lugar.
       — Você me babou!
       Ele se vira para o outro lado, rindo de mim.
       — É melhor a gente descansar, vai dormir, vai, Karen.
       — Bocó! — digo pra ele.
       — Chata! — ele diz pra mim.
       Deito para o lado oposto dele. Mas não consigo dormir. Pego algo dentro da mochila do Hak e como, eu sentia fome e saudade do café. O dia tinha chegado com força, e embora a gente esteja  em uma sombra improvisada, ainda dá pra sentir o calor. Pego uma caneta e marco os pontos que caminhamos, só precisei desenhar um ponto. Não tínhamos evoluído muito.
      Sei que tínhamos chegado a pouquíssimo tempo, ainda assim... O sol parecia querer me queimar, olho para o dorminhoco do Hak, e percebo um pequeno lagarto chegando perto dele, o corpo dele era feito de espinhos, vou até o Hak e sacudo ele.
      — O que deu em você?
      — Tem um lagarto espinhoso perto de você!
      Ele olha para o lagarto e depois olha para mim, apontando para o animal com o polegar.
      — É só isso?
      O lagarto vê o movimento e sai.
      — Me acordou por causa disso?
      — Na próxima te deixo morrer. Já é meio dia...
       Me sinto fraca e minha barriga ronca.
       — Já tá com fome de novo?
       — Eu não como faz um tempo!
       — Você abriu a mochila mais cedo, eu vi!
       — Isso foi de manhã! E você não comeu nada?
       — Comi mais cedo, não tô com tanta fome.
       Pego outro pão.
       — Desse jeito a comida vai acabar rapidinho!
       — Cala a boca! Ou você vai virar  lanche!
       Após terminar o lanche, Hak sugere que a gente caminhe até chegar ao lugar que ele tinha dito antes. O sol ainda queimava, mas a gente não podia perder tempo, andamos e andamos até o cair da noite.
      — Eu tô muito cansada...— sento no chão.
      — Tá, descansa um pouco.
      Fecho os olhos e respiro, me sinto zonza, Hak sacode meu braço.
       — Tá dormindo? — ele olha para mim incrédulo.
       — Só fechei os olhos um pouquinho... — sinto a sonolência tomar conta de mim.
      Ele me segura pela axila e me levanta, me ajudando a ficar de pé.
      — Você deveria ter dormido mais cedo.
      Ele me ajuda a andar, mas minha cabeça encosta no seu ombro e cochilo durante uns segundos. Ele me sacode.
      — Por favor...Só, cinco minutos...
      — Quando o dia chegar eu deixo.
      Continuamos andando assim, eu cochilando as vezes, pendendo a cabeça para o lado, até que nenhum de nós aguentamos mais aquele looping de sono. Deito no chão de qualquer jeito e coloco o saco de dormir como travesseiro.
     
     
     

      
     

      
     
     
     
   
    
   
    

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