O deserto era extenso, e a noite já tinha chegado, precisávamos achar alguma solução brilhante. Pego a lanterna e ligo.
— Não podemos simplesmente dormir no chão né? — olho para o lado e vejo que Hak já estava longe.
Corri atrás do danado, ele cantarolava alguma coisa enquanto andava.
— Me espera! — grito pra ele.
Ele olha pra trás e ri. Eu odiava correr, mesmo o macacão segurando bem, meus seios davam um jeitinho de balançar, a mochila sacudia nas minhas costas, eu mal tinha chegado e já estava morrendo.
— Por que saiu assim?— pergunto ainda tentando alcançá-lo.
— Você estava olhando pro nada, toda parada...
— Eu estava pensando.
— Ah! Você pensa!
— Então a gente vai só andar assim?
— A gente precisa encontrar um lugar pra organizar tudo.
— Não parece ter muita coisa...
— Vamos continuar andando.
— É seu melhor plano?
— Tem outra idéia?
— Normalmente eu poderia dizer umas palavras e fazer uma casa aconchegante.
— Mas não pode fazer isso.
— Eu sei! Por isso tive outra idéia.
Ele para e olha pra mim, abro o mapa e procuro algum tipo de relevo.
— Não adianta ficar procurando aí, quando o sol sair você vai derreter.
— E você vai virar poeira de vampiro.
— Não é bem...
— Vampiro! — ponho a mão na boca dele.
Retiro a minha mão e limpo na roupa dele enquanto ele cospe no chão e esfrega a mão na boca. Olhamos um para o outro.
— Por que fez isso? — ele diz.
— Você é um vampiro! — as ideias se conectam na minha mente.
— Só descobriu agora?
— Desculpa, achei que era um zumbi... — reviro os olhos. — Escuta Zé Mané, você pode abrir suas asas de borboleta e ver pra que lado a gente tem que ir.
— Ou você pode fazer uma torre de gelo enquanto sobe e olhar de lá de cima.
— Mas como eu iria descer??
— Não é problema meu...
— Anda logo vai. Abre as asas de borboleta.
— Não é asa de borboleta!
Ele deixa a mochila no chão, abre as imensas asas de morcego e sobrevoa o local, depois desce e pega a mochila, voltando a caminhar sem me esperar. Acompanho ele e após uma boa caminhada, chegamos em uma árvore.
— Uma árvore... — digo um pouco decepcionada.
Ele olha para frente e sigo seu olhar, haviam algumas outras árvores por ali, ao longe, ele anda em direção a elas e sigo ele. Hak pega a bússola, anda para o meio das árvores e olha para a bússola, põe a mochila no chão e abri o mapa.
— Isso tá confuso... — junto as sobrancelhas.
— O que?
— Como vamos saber onde estão?
— Procurando!
— E por onde começamos? Esse lugar é enorme, e estamos a pé.
— Vem aqui.
Chego perto dele, ele aponta para um lugar do mapa. Não parecia ter nada ali.
— Em uma missão anterior, tinha caminhões passando aqui.
Olho bem pra a cara dele, procurando algum sinal de piada ou pegadinha.
— Aqui parece ser uma área de proteção ambiental, é um disfarce pra outra coisa.
— Entendi.
O dia estava chegando, e aos poucos a luz do sol invadia o lugar, era algo lindo de ver, muito lentamente a luz rastejava pelo chão, estava vindo em nossa direção eu estava, fascinada.
— Então temos que dar uma olhada nessa área.
— É mas não agora.
Ele usa uma corda para amarrar um pano na árvore. Coloca o saco de dormir no chão e deita sobre ele.
— Você vai dormir agora?
— O dia tá amanhecendo, eu não tô afim de tomar sol.
— Ah, tá bom.
Coloco meu saco de dormir não tão perto dele e sento.
— Então você dorme de dia...
— Não dá pra andar nesse sol Karen!
— Mas a gente não vai andar no sol, estamos na terra! Seus miolos já foram queimados? — começo a rir. Adoro piadas ruins.
Ele vira para o outro lado, acho que a paciência dele tinha acabado.
— Se o sol te pegar o que acontece?
— Eu já andei de dia Karen! Todo dia na escola. Eu não virei pó e você não derreteu, mas se você não ficar quieta eu vou te morder!
— É, mas é engraçado pensar assim. — solto uma gargalhada.
Ele se vira rapidamente e morde meu braço. Uso o pano para limpar o lugar.
— Você me babou!
Ele se vira para o outro lado, rindo de mim.
— É melhor a gente descansar, vai dormir, vai, Karen.
— Bocó! — digo pra ele.
— Chata! — ele diz pra mim.
Deito para o lado oposto dele. Mas não consigo dormir. Pego algo dentro da mochila do Hak e como, eu sentia fome e saudade do café. O dia tinha chegado com força, e embora a gente esteja em uma sombra improvisada, ainda dá pra sentir o calor. Pego uma caneta e marco os pontos que caminhamos, só precisei desenhar um ponto. Não tínhamos evoluído muito.
Sei que tínhamos chegado a pouquíssimo tempo, ainda assim... O sol parecia querer me queimar, olho para o dorminhoco do Hak, e percebo um pequeno lagarto chegando perto dele, o corpo dele era feito de espinhos, vou até o Hak e sacudo ele.
— O que deu em você?
— Tem um lagarto espinhoso perto de você!
Ele olha para o lagarto e depois olha para mim, apontando para o animal com o polegar.
— É só isso?
O lagarto vê o movimento e sai.
— Me acordou por causa disso?
— Na próxima te deixo morrer. Já é meio dia...
Me sinto fraca e minha barriga ronca.
— Já tá com fome de novo?
— Eu não como faz um tempo!
— Você abriu a mochila mais cedo, eu vi!
— Isso foi de manhã! E você não comeu nada?
— Comi mais cedo, não tô com tanta fome.
Pego outro pão.
— Desse jeito a comida vai acabar rapidinho!
— Cala a boca! Ou você vai virar lanche!
Após terminar o lanche, Hak sugere que a gente caminhe até chegar ao lugar que ele tinha dito antes. O sol ainda queimava, mas a gente não podia perder tempo, andamos e andamos até o cair da noite.
— Eu tô muito cansada...— sento no chão.
— Tá, descansa um pouco.
Fecho os olhos e respiro, me sinto zonza, Hak sacode meu braço.
— Tá dormindo? — ele olha para mim incrédulo.
— Só fechei os olhos um pouquinho... — sinto a sonolência tomar conta de mim.
Ele me segura pela axila e me levanta, me ajudando a ficar de pé.
— Você deveria ter dormido mais cedo.
Ele me ajuda a andar, mas minha cabeça encosta no seu ombro e cochilo durante uns segundos. Ele me sacode.
— Por favor...Só, cinco minutos...
— Quando o dia chegar eu deixo.
Continuamos andando assim, eu cochilando as vezes, pendendo a cabeça para o lado, até que nenhum de nós aguentamos mais aquele looping de sono. Deito no chão de qualquer jeito e coloco o saco de dormir como travesseiro.
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O doce sabor dos insultos
RomanceKaren e Hack nunca se deram muito bem. Um cara retardado que sempre surge do nada, pensa ela. Uma garota chata que cai do nada, pensa ele. Mas, uma importante missão do chefe da agência, envia ambos para longe do conforto, e colocando-os para trabal...