Capítulo 21

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Hak.

   Odeio quando os  meus poderes estão bloqueados! Já faz alguns minutos que estou sentado aqui neste beco, cuidando das duas mochilas enquanto a Karen está tomando banho. O corte na minha cintura arde e demora muito para cicatrizar. A luta que tivemos com os caras há algumas horas me deixou mais cansado e dolorido.
     Viver como humano é uma droga! Além disso, pelas minhas contas faz meses que não tomo uma gota de sangue. Tive um pouco de sangue de animais, mas eles são mais como lanchinhos que como a Karen costuma dizer: Não tem sustância. Então é isso, estou cansado e com fome. Mas tenho que me manter firme.
     — Como estou? — Karen surge na minha frente e meus pensamentos se vão. Ela tem uma moeda nas mãos e brinca com ela. Garota estranha!
     Olho ela de cima a baixo, ela deu um jeito de limpar o macacão até deixar brilhando.
     — Parece um pouco mais normal agora. Mas pelo tanto que demorou no banho... Tá decepcionante.
     — Cala a boca! Eu queria retirar essa parte aqui e modificar pra virar uma blusa mas... Mesmo de longe se eu aprontar mais uma com os uniformes, meu pai vai me colocar de castigo pro resto da eternidade.
     — Isso é verdade.
     Concordo por que, o histórico que a Karen tem de usar os uniformes com outros adereços e até mesmo trocar o sapatos por saltos altos... Tenho certeza que ela já atingiu o limite de raiva do Josh.
     — O que a gente faz agora?
     — Temos que mandar uma mensagem.
     — Com que celular?
     — A gente vai dar um jeito. — dou uma das mochilas para ela e fico com a outra, começo a andar, e ela me segue.
     — Você quer roubar?? — a cara que ela faz é engraçada.
     — Você roubou pães! — acuso.
     — Você vai jogar isso sempre na minha cara?
     — Vou!
     — Qual é o seu plano? Ligar pra ele?
     — Não, qualquer telefone pode estar grampeado.
     — Postar algo nas redes sociais?
     — Podemos ser localizados facilmente.
     — Então...?
     — Pense um pouco mais.
     — Código morse no telefone!
     — Todo mundo sabe código morse, eu desisto de você, Karen!
     — Algum outro código?
     — Desista Karen.
     Ela suspira fundo, acho que está começando a ficar irritada, resisto a vontade de sorrir com isso, apenas mantenho a expressão séria. Se tem uma coisa que a Karen não faz, é desistir fácil, então estou me aproveitando disso para que ela tenha um monte de ideias enquanto penso em algo também. O fato de ela estar se esforçando, permite que eu possa descansar enquanto ela pensa sozinha.
     — Ok... — ela para no lugar, paro e encaro ela.
     — Pare de forçar seu cérebro, o bichim não tá acostumado a pensar — provoco — Na verdade, acho que já tá saindo fumaça!
     Seus olhos azuis estão semicerrados e furiosos contra mim. Mas ao invés de falar, ela passa por mim e anda com passos apressados para algum lugar. Não tenho outra opção a não ser seguí-la.
      — Está fugindo?
      Ela não responde e continua andando. Ela vira alguns lugares e parece estar procurando algo ou alguém. O quanto eu a irritei?
      — Karen? — solto uma risada, ela para e lança um olhar frio pra mim. Ok, eu fechei ela muito irritada agora! 
     — Vai procurar um lugar pra gente ficar, quando você voltar, já estará resolvido. — seu tom é sério.
     — Tá bom... Sem problemas. Volto logo, fer... Karen. — dou um sorriso travesso e me afasto antes que ela pense em me alcançar.
   
     Precisamos ficar em um local confortável e seguro até que o Josh mande alguém nos buscar. Não podemos simplesmente entrar em um avião. Já que não entramos legalmente no país. Por sorte tenho algumas identidades falsas que sempre levo em missões, por que vez ou outra sempre precisa, olho na minha coleção e vejo um de mulher, então lembro que  imaginei que minha parceira não lembraria disso, e peguei um extra pra ela. Sou muito esperto!
     — Olá. — sorrio para a atendente.
     — Bom dia, como posso ajudá-lo? — ela ergue sua cabeça e seu pescoço chama minha atenção.
     — Preciso de um quarto. — digo olhando para a parede atrás dela.
     — Ah claro. Só um instante.
     Ela digita algo no computador, talvez checando os quartos. Meus instintos ficam mais fortes, quase consigo ouvir seus batimentos cardíacos.
     Penso na próxima pergunta dela. Não tenho certeza de que a Karen vai conseguir contatar o Josh, não tenho certeza de quantos dias vamos precisar ficar aqui. Não gosto da ideia, mas vou ter que confiar nela.
     — Temos algumas opções de quartos aqui, e para sua sorte, uma suíte de luxo! — ela sorri para mim também.
     — Perfeito! — sorrio de volta, tenho certeza de que vai custar caro, mas se eu provar que tenho condições, também posso obter discrição.
     — Maravilha, quantos dias?
     — Apenas um dia. Vou para uma festa íntima em família, preciso apenas de um dia aqui.
     — Apenas para o senhor?
     — Não. — minha garganta entala, mas preciso acrescentar a Karen a esse plano — Eu e minha amiga.
     — Claro. — vejo um brilho nos seus olhos ao ouvir que se trata de uma amiga — Seus documentos por favor.
     Pego as identificações e entrego a ela, escolhi me chamar de Johan Miles e a Karen de Alice Suya.
     — Muito bem, senhor Miles. Como pretende pagar?
     Entrego um dos cartões. Josh disse para a gente não levar coisas eletrônicas ou que fossem rastreáveis. Então cobri o cartão com um papel especial para evitar que fosse localizado de alguma forma.
     — Ok... Aqui está a chave. — no instante em que pego o objeto, tenho a súbita vontade de puxar seu braço e morder seu pulso.
     — Muito obrigado. — pisco pra ela e vou para o elevador me esforçando muito para manter meu controle.
      Sinto um pouco de tontura. Só tenho que aguentar mais um pouco! Foi tão difícil me segurar para não pular no pescoço daquela atendente e sugar seu sangue até não poder mais. Mas não posso chamar atenção, e o que eu faria chamaria muitos policiais e estragaria o plano. Só preciso descansar e me manter longe até ser buscado.
      Caminho pelos corredores sentindo uma leve vertigem. Apesar disso, consigo encontrar o quarto e abrir a porta. Por se tratar de um prédio chique, eu não preciso necessariamente encaixar a chave na fechadura. Há um cartão anexado a chave, só encosto o cartão no painel e a porta se abre pra mim.
     Praticamente me jogo dentro do quarto, fecho a porta e caio na cama. É enorme e macia. Como senti falta de dormir em um lugar assim. Aos poucos o sono parece querer me levar, mas deixei a Karen sozinha. Tenho que me lembrar que se algo acontecer com ela eu tô morto. Quer dizer, eu já tô morto... Sou um vampiro... Mas apesar disso, tenho certeza que o Josh daria um jeito de acabar com minha existência se ela se machucar.
      A contra gosto me levanto e deixo as mochilas , pego a chave e desço o elevador. Tenho mais uma coisa pra fazer, mas antes que eu possa falar com a atendente, ela chama minha atenção.
      — Desculpe! Tenho certeza que sua amiga precisará de uma chave também... Eu esqueci.
     — Ah, tudo bem! — pego a chave que ela oferece — Vou buscar ela agora.
     — Boa estadia.
     — Obrigado.
     Saio e vou encontrar a Karen onde a deixei. Espero que ela não esteja mais tão irritada, e também que ela tenha encontrado um jeito de contatar o Josh.

O doce sabor dos insultos Onde histórias criam vida. Descubra agora